FIO-AÇÃO: individual da artista e pesquisadora Mariana Guimarães ocupa o Paço Imperial

Diário Carioca
Estufas, 2018. Sacos de voil, barbante, terra, plantas e objetos diversos. Dimensões variáveis. Rio de Janeiro, RJ. foto Jaime Acioli

Há 20 anos, a artista visual e pesquisadora fluminense investiga o fio como linguagem e como dispositivo de mediação na arte contemporânea

O Paço Imperial apresenta, a partir do dia 5 de julho, a exposição Fio-ação, da artista visual e pesquisadora fluminense Mariana Guimarães. Com curadoria de Izabela Pucu, a individual vai ocupar o Terreiro do Paço com cerca de 300 obras da produção recente da artista, além de um pequeno conjunto desenvolvido nos últimos 10 anos. Mariana tem o fio, o bordar e o tecer como elementos condutores de sua poética. O projeto inclui, ainda, um ciclo de encontros.

Reunindo diversos trabalhos inéditos, entre eles uma instalação que percorre todo o espaço expositivo, a mostra está organizada em três grandes núcleos relacionados. A seleção curatorial inclui objetos, bordados, intervenções, fotografias, vídeo-performance e obras bidimensionais – de pequenos e grandes formatos – feitas em tecido e papel, cujo ponto de partida é pensar o fio desde os gestos iniciais, os fluxos e os movimentos dos nascimentos.

A divisão dos núcleos é determinada por interesses recorrentes de Mariana – brotação, casa, maternidade, sertão – apresentando muitas zonas de contato entre eles. Os processos e a narrativa da mostra foram construídos a partir da observação de sementes germinando, do diálogo com a floresta e do atravessamento da maternidade no corpo da artista.

“Ao longo dos últimos 20 anos, venho me dedicando a investigar o fio como linguagem e como dispositivo de mediação e invenção na arte contemporânea. Ele é a possibilidade de reinvenção de novos mundos, de construção de diálogos e conexões. Aqui na América Latina, temos a maior cultura têxtil do mundo. O fio acompanha a história da humanidade como materialidade e como metáfora. Minha investigação neste momento está relacionada a pensar o fio como força ontológica. Ele é a ação, é o fio-ação, um modo de viver, um devir que está estruturado em um movimento existencial”, revela Mariana.

De acordo com Izabela Pucu, “o fio na produção artística e teórica de Mariana é instrumento de reconhecimento de valores e saberes implicados em outros modos de vida, de desfazimento das narrativas que servem à manutenção das hierarquias que inscreveram  o feminino em um lugar estereotipado no ambiente doméstico-social opressor. Nesse sentido, podemos dizer que há uma dimensão trágica latente nos papéis e tecidos de Mariana, que vem desse exercício de elaborar, por meio do trabalho, a condição de ser mulher-mãe-artista no mundo”.

No diálogo com Rosa, primeira filha da artista, a questão da maternidade entra conceitual e materialmente no trabalho de Mariana, desde os primeiros momentos da inscrição da menina na linguagem, até a escrita e os desenhos mais elaborados. Nessa relação, os limites da casa e da maternidade são experimentados em toda a sua ambiguidade –  como espaço político de acolhimento e intimidade, de conflito e aprendizado, de opressão e gozo, com interditos e potências. 

Dos deslocamentos de pesquisa no sertão mineiro e nas cidades do Nordeste, surgem muitos elementos conceituais e construtivos para esta exposição, como o hábito de cultivar plantas nos potinhos descartáveis, a lenda da cobra que mama, além de fios e tecidos naturais, fiados e tingidos de forma artesanal. Sobretudo, aparecem outras mulheres com suas histórias e saberes, em relações que falam do fio enquanto “instrumento de mediação e de diálogo”, como diz a artista.

A dinâmica evocada pela ideia de fio-ação tem sua imagem mais icônica na instalação que atravessa o espaço expositivo com fios que, num jogo com a gravidade, suspendem e fazem ceder estufas, trouxas, terra, pedaços de linho, caquinhos de azulejos, palavras, plantas e aglomerados de signos do trabalho da artista. O público é incluído nesse sistema ao pisar as pedras de lioz do Terreiro do Paço, ocupado pela mostra: no deslocamento, com ritmo marcado pelas obras de Mariana, outras memórias se insurgem desde o chão, como os caquinhos de azulejos coletados todos os dias pela artista em suas andanças.

A artista

Mariana Guimarães nasceu em Barra Mansa (RJ). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista, pesquisadora e educadora. Investiga o fio como linguagem e fenômeno na arte contemporânea, em diálogo com a casa, a maternidade e o jardim. Entre pesquisas e diálogos com práticas ancestrais de tessitura e seus desdobramentos estéticos, éticos e sociais a artista constrói seus trabalhos. Doutora em artes visuais pelo PPGAV-UFRJ, mestre em artes e design pela PUC-Rio, e uma licenciatura em artes plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É atualmente docente do Setor de Artes Visuais do CAp-UFRJ. Desenvolve trabalhos e pesquisas com distintos grupos em diversos territórios. Para saber mais acesse: www.marianaguimaraes.art.br

A curadora

Izabela Pucu é artista, curadora, pesquisadora, editora e gestora cultural. Doutora em História e Crítica da Arte pelo PPGAV/EBA/UFRJ. Diretora da A cooperativa Cultural. Coordenadora geral da Plataforma Mário Pedrosa atual. Vencedora do prêmio Jabuti 2020, categoria Artes. Foi coordenadora de educação do Museu de Arte do Rio (2018-2020), diretora e curadora do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (2014-2016), Coordenadora de Projetos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2010-2012). Nos últimos 15 anos, publicou diversos livros, foi curadora de exposições, seminários, cursos e projetos.

SERVIÇO:

Fio-ação | Mariana Guimarães

Curadoria: Izabela Pucu

Abertura: 05 de julho de 2023, das 14h às 18h

Encerramento: 23 de agosto de 2023

Classificação etária livre | entrada franca

Local:

Paço Imperial

Praça XV de Novembro, 48 – Centro, Rio de Janeiro – RJ

Tel.: (21) 2215-2093

E-mail: diretoria@pacoimperial.org.br 

Horários de visitação:

De terças a sextas, das 12h às 18h

Sábados, domingos e feriados, das 12h às 17h

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