A 19ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2021, que vai acontecer em formato virtual entre os dias 27 de novembro e 5 de dezembro, anunciou nesta quarta-feira, 4, detalhes sobre sua curadoria convidada e a homenagem. Pela primeira vez, haverá um coletivo curatorial, que vai programar uma homenagem coletiva. Segundo divulgação da assessoria do evento, as duas escolhas refletem o conceito desta edição, expressa no texto Nhe’éry, Plantas e Literatura. Nhe’éry (pronuncia-se nheeri) quer dizer “onde as almas se banham” e é como o povo guarani chama a Mata Atlântica.
“Este ano, a Flip volta seu olhar para a necessidade de se rever a dissociação entre humanidade e natureza. É um conceito que busca refletir sobre as questões mais urgentes do contemporâneo, sem ser um delineamento temático rígido. A intenção é se nutrir das florestas, que são sistemas abertos, colaborativos”, diz Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip, no material de divulgação. “Por isso, e em um momento de incertezas mundiais, todas as opções feitas para a festa têm um caráter laboratorial, buscando retratar outras perspectivas e narrativas que olham para a literatura e para a produção cultural em seus múltiplos formatos.”
Já o coletivo curatorial será formado por Hermano Vianna, antropólogo de formação, e misturador geral de informações, e que vai coordenar o trabalho do grupo, integrado por Anna Dantes, colaboradora da Escola Viva Huni Kuin há mais de dez anos e uma das fundadoras do Selvagem – Ciclo de estudos sobre a vida; Evando Nascimento, escritor e filósofo, pioneiro na reflexão sobre literatura e plantas no Brasil; João Paulo Lima Barreto, Tukano do Alto Rio Negro, doutor em antropologia social pela Universidade Federal do Amazonas e fundador do Centro de Medicina Indígena em Manaus; e Pedro Meira Monteiro, professor da Princeton University e um dos organizadores da oficina Poéticas Amazônicas, no Brazil LAB da Universidade.
“Como Mário de Andrade disse, cada pessoa precisa ser 300 ou mais. Cada pessoa puxa um bonde, vários bondes, várias redes, muitos outros coletivos. Por isso, o trabalho do coletivo curatorial da Flip busca dialogar com o máximo de vozes possíveis que estejam olhando para as questões da contemporaneidade e a superação de suas crises. A ideia é se voltar para pensamentos e ações que têm proposto outros modelos de organização social e visões diferentes do conhecimento”, diz o coletivo curatorial por meio do coordenador Hermano Vianna, no material de divulgação
A homenagem será coletiva e honrará as pessoas que trabalhavam para as causas indígenas e que tiveram a vida interrompida pela covid-19. Figuras como Higino Tenório, escritor, benzedor, especialista em arte rupestre, professor e fundador da primeira escola indígena do povo Tuyuka; Feliciano Lana, artista plástico e escritor do povo Desana, conhecido internacionalmente; Zé Yté, colaborador central dos mais importantes estudos sobre a etnobiologia Kayapó; Maria de Lurdes, guardiã das plantas de cura do povo Mura; Meriná, mestra de rituais de cura e benzimentos do povo Macuxi; Alípio Xinuli Irantxe, mestre das flautas do povo Manoki; e Domingos Venite, Guarani, líder da maior terra indígena do estado do Rio de Janeiro, militante de novas políticas de saúde indígena.
Como no ano passado, as mesas poderão ser acompanhadas gratuitamente pelo público em transmissão online. A programação da Flip 2021 será divulgada em breve. Segundo o comunicado da festa literária, “a direção da Flip estima uma queda significativa de receita, e por isso ainda está sendo realizado o trabalho de busca de apoios e interlocuções com a comunidade local”.