Sintéticas e eloquentes, as obras mais recentes produzidas por Paiva Brasil, durante os últimos dois anos em que ficou isolado em seu atelier, foram reduzidas a poucas formas e a poucas cores, trazendo a síntese dos seus trabalhos de longos anos, buscando a simplicidade e a delicadeza na geometria com o máximo de expressão. São 22 quadros-objetos, a maioria deles em pequenos formatos, todos constituídos de módulos coloridos que se acoplam, como num jogo de armar e desarmar, soltos no espaço, como pequenas pipas, que anseiam por voar.
Ao longo de seus 65 anos de carreira, Paiva Brasil desenvolveu um trabalho singular, onde se pode ressaltar a economia de elementos, as curvas e as retas, tirando desses elementos o máximo de possibilidades lúdicas. Com esses trabalhos realizou várias exposições individuais, e inúmeras exposições coletivas, obtendo vários prêmios. Suas obras fazem parte de grandes coleções, tais como a de Gilberto Chateaubriand, Museu Nacional de Belas Artes, MAM de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, dentre outros.
Sobre esses últimos trabalhos, todos inéditos, apresentados nesta exposição na Galeria Patrícia Costa, são ressaltados pelo curador Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho a essência “lúdica” da obra de Paiva Brasil:
Em 70 anos de pintura o artista Paiva Brasil nunca deixou de surpreender, seja pela delicadeza de suas formas, seja por suas inusitadas combinações e justaposições de cores. Originário de nossa primeira geração construtiva do Brasil, aluno de Samson Flexor e Santa Rosa, frequentador dos cursos de pintura no Museu Arte Moderna do Rio de Janeiro e desenho no Liceu de Artes e Ofícios na década de 1950, Paiva construiu um léxico próprio, independente, sem se filiar a grupos ou instituições. Elaborou uma obra ímpar onde, além da ressignificação das palavras e dos números, em especial sua “Homage” ao algarismo cinco, produziu objetos interativos e articulados como seus “Vertebrados”. Ao espectador sempre reservou o direito da escolha, a opção de manipular, ora no exercício do olhar, ora na ação táctil. Permitiu que sua criação fluísse junto ao desejo de quem observa e contempla.
Na presente exposição, suas Tangentes – reveladas a partir de 2014, e posteriormente exibidas na grande retrospectiva no Paço Imperial de 2019 – nos levam mais uma vez ao mundo do divertimento e das múltiplas possibilidades do fazer. Entre encaixes, montagens, semicírculos, planos justapostos, espaços vazados e experimentos de cor, sua artesania exalta não apenas o belo, mas um “alfabeto concreto”, livre de preceitos, aberto ao novo. Nas paredes as obras não precisam de uma ordem definida, cabendo ao observador decidir, quase como um gesto, o deslocamento necessário. Seu construtivismo lúdico permite que o manejo desses “objetos de cor” se alinhem com a perspectiva de jogo. O Jocus do prazer, do entretenimento, do sutil, com a delicadeza do compartilhar, sem alusão a um pódio que exija a vitória ou o êxito. Sua proposta sempre foi agregar, brincar, e menos competir.
Nos últimos três anos Paiva produziu isolado em seu ateliê. Em decorrência da crise sanitária limitou sua ação aos materiais e objetos que dispunha, sem que isso representasse uma intimidação ou restrição ao seu espírito criativo. Combateu o desalento que nos cercava com obra potente e convidativa ao prazer. Pintou e produziu com alegria, novamente brincou e jogou com os elementos que sempre dominou. Não queria explicar, mas realizar o que lhe era inescapável: a arte e uma existência plena de beleza.
Esta última série de Tangentes nos aponta para uma infinidade de questões. Talvez, quem sabe, aquilo que o romântico alemão Schiller almejasse como uma educação estética. Paiva não pintou o óbvio. Produziu para que pudéssemos refletir, provocando nossos sentidos e sensações.
Fica aqui mais uma vez a admiração e o elogio a um homem que soube explorar e brincar talentosamente com as formas, mas que nunca esqueceu que a essência de tudo é a humanidade e a alegria de viver.
Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho
Agosto de 2022
Saiba mais sobre Paiva Brasil
Discreto e sensitivo, nascido em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, Paiva faz parte, por tradição e direito, de nossa primeira geração construtivista. Ainda que não estando vinculado formalmente a nenhum dos movimentos abstrato-geométricos, poderia ter-se filiado ao Grupo Frente na tradição de Rubem Ludolf, João José ou Décio Vieira. Entre o final dos anos 1940 início dos anos 1950 estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Posteriormente, dedicou-se ao desenho e à composição gráfica com Santa Rosa e pintura com Samson Flexor, professor do Museu de Arte de São Paulo, pioneiro do Atelier Abstração, primeiro grupo de arte geométrica do país.
Participante de Bienais e diversos Salões Nacionais, dentre os quais se destaca o III Salão Nacional de Arte Moderna (salão Branco e Preto), premiado com viagem ao exterior no I Salão Nacional de Artes Plásticas (Rio de Janeiro), Paiva desenvolveu um léxico próprio e consistente. Sem ser adepto de um evolucionismo fácil, construiu um caminho onde sugere muitas possibilidades. Com elegância transmutou a forma, elegeu cores.
Serviço
“Lúdicos” – Paiva Brasil
Curadoria: Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho
Abertura: 1º de setembro, das 17h às 21h
Visitação: de 2 de setembro a 1º de outubro de 2022
Funcionamento: de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 17h
Local: Galeria Patricia Costa
Endereço: Av. Atlântica, 4.240/lojas 224 e 225 – Copacabana – RJ
Telefone: +55 21 2227-6929/98868-1993
Classificação livre
Entrada franca
Contatos:
www.galeriapatriciacosta.com.br/@galeriapatriciacosta