O público que passou pela escadaria do Palácio Tiradentes no início da noite desta terça-feira (24/08) pôde acompanhar a apresentação da peça teatral “Luiz Gama, uma voz pela liberdade”. A encenação dos atores Deo Garcez e Soraia Arnoni marca os 139 anos da morte do principal líder abolicionista brasileiro e também da luta antirracista no país – a data faz parte do calendário oficial do Rio de Janeiro. A iniciativa foi pensada e organizada pelo Departamento de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e da deputada Renata Souza (PSOL).
“O espetáculo gera encantamento pelo seu formato diferente, que não apenas recupera a importância histórica de um dos maiores heróis de nosso país, como leva o público a uma reflexão sobre a discriminação racial no Brasil em plena contemporaneidade”, disse o subdiretor-geral de Cultura da Alerj, Nelson Freitas.
Para a deputada Renata Souza, é uma missão contar a história do abolicionista. “Poder assistir a uma peça tão linda como essa e aqui no Palácio Tiradentes é transpor barreiras”, comentou. “Através de uma lei de nossa autoria é que foi possível apresentar, com orgulho, esta peça com um elenco majoritariamente negro”, completou a parlamentar, referindo-se ao projeto de lei aprovado pela Alerj que inclui no calendário o 24/08 como o Dia do Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil.
De acordo com Deo Garcez, que interpreta Luiz Gama, é fundamental que resgatemos parte da história que não foi contada “E, hoje, está sendo possível homenagear Luiz Gama exatamente na escadaria do Palácio Tiradentes, palco de manifestações sociais e políticas. Para mim e para a equipe do espetáculo é gratificante e um prazer imenso mostrar esse herói e sua história num espaço tão simbólico como esse”, disse o ator.
A fala do artista foi endossada pela atriz Soraia Arnoni, que dá vida a diversos personagens que fizeram parte da história de Luiz Gama. “É de suma importância celebrar a trajetória de Luiz Gama, saber que nossos passos vêm de longe e que estamos dando sequência ao legado desse homem. Fazer essa apresentação na escadaria do Palácio Tiradentes traz para todos a real dimensão do que estamos vivendo. Poder realizar isso de forma gratuita, deixa muito claro que cultura é para todos. É imprescindível que o poder público dê apoio à cultura e que nós, artistas, tenhamos claro que o nosso papel na sociedade é abrir diálogo e reflexão”, lembrou.
O diretor do espetáculo, Ricardo Torres, lembra que ao montar a peça teve a preocupação de que fosse algo simples, para que pudesse atingir todas as pessoas. “Conseguimos juntar dois grandes heróis: Luiz Gama e Tiradentes. Tomara que nosso trabalho tenha chegado aos corações”, ressaltou, destacando a importância do espetáculo que contou com a parceria da Olhos D’Água Produções.
Alunos do curso pré-vestibular do Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem do Jacarezinho, o Nica, marcaram presença. Para Jean Mauriele, o espetáculo ser aberto ao público é importante para que todos tenham acesso à história: “A iniciativa foi ótima. Já ouvi falar do Luiz Gama e tive a oportunidade de conhecer mais da história dele”. Catarine Alves aproveitou a atividade para ver o espetáculo com amigos. “Eu acho muito importante ter essa oportunidade porque, se não fosse gratuito, eu acho que não teríamos a chance de estar aqui e aprender mais”, comentou a estudante.
Voltando para a casa após um dia longo de trabalho, o advogado Ricardo Meira ficou curioso com a movimentação em frente ao palácio e parou para conferir a encenação. “Estava passando e quis parar pra assistir. Valeu a pena atrasar um pouco minha volta pra casa e conhecer mais da história do Luiz Gama, que eu não conhecia. A arte revigora a gente”, disse.
O patrono da abolição
Jornalista, poeta e escritor, Luiz Gama, filho de Luiza Mahin e de um fidalgo de origem portuguesa, foi feito escravo aos 10 anos pelo pai para ser vendido e saldar uma dívida de jogo. Ele permaneceu analfabeto até os 17 anos, mas mudou seu destino aprendendo a ler e escrever frequentando como ouvinte as aulas da faculdade de Direito. Como advogado, mesmo sem ter o diploma, atuou em defesa dos negros, libertando mais de 500 escravos. Aos 29 anos, já era um autor consagrado e considerado o maior abolicionista do Brasil. Seu nome, hoje, consta no Livro de Aço dos grandes heróis nacionais guardado no Panteão da Pátria