De 15 a 17 de setembro, o Aterro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro, recebe o evento inédito “Ar Livre Arte Livre”, que une arte, educação e natureza em um só espaço. Serão três dias de programação totalmente gratuita, incluindo instalações artísticas, oficinas e apresentações sonoras e artísticas para todas as idades, resgatando os pilares do projeto original da arquiteta e urbanista Lota Macedo Soares (1910-1967), idealizadora do Parque do Flamengo, cuja ideia era ser um espaço de convivência com o meio ambiente e também de encontros entre as diferentes classes sociais e culturais.
Com instalações artísticas e participativas de artistas, como Guga Ferraz e Maria Nepomuceno, além de oficinas e apresentações artísticas, o projeto, que acontece pela primeira vez no Brasil, foi idealizado pela franco-libanesa Amanda Abi Khalil, que assina a curadoria com a brasileira Ynaiê Dawson. O evento será realizado a céu aberto, no espaço entre dois marcos arquitetônicos do Parque do Flamengo: o Teatro de Arena e o Coreto Modernista.
“Esse projeto cultural pretende juntar práticas da arte contemporânea, atividades educativas e conexões entre o urbano e o meio ambiente, tomando como ponto de partida as primeiras intenções da arquiteta e urbanista que liderou a construção do parque, Lota Macedo Soares, sendo também uma forma de tributo à essa forte e determinada mulher, que tanto batalhou para nos deixar esse incrível legado”, afirma Amanda Abi Khalil. “A ideia é democratizar a arte, com um evento gratuito, aberto a todos, fazendo uma ponte com o planejamento original do Aterro, de ser um lugar de encontro e convívio, aproximando o público e trazendo uma atividade de cunho cultural para este espaço, que é tipicamente um lugar de lazer”, completa Ynaiê Dawson.
Resgatando a história do Parque do Flamengo, “Ar Livre*Arte Livre” também tem como inspiração os “Domingos da Criação”, icônico projeto de arte experimental realizado pelo crítico e curador de arte Frederico Morais, em 1971, nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que fica no Aterro do Flamengo.
O projeto é uma iniciativa da Temporary Art Platform com apoio do Goethe-Institut em parceria com o Consulado da França no Rio de Janeiro, no âmbito da cooperação cultural franco-alemã na cidade, o Juntes na Cultura. “O Aterro hoje é um lugar de arte e lazer para muitos cariocas. Com Ar Livre*Arte Livre vimos a possibilidade de lembrar da radicalidade das intenções que motivaram sua criação. Os equipamentos arquitetônicos são evidências desse potencial e também da dificuldade de realizá-lo,” diz Astrid Kusser, coordenadora da programação cultural do Goethe-Institut.
INSTALAÇÕES ARTÍSTICAS
Cinco instalações artísticas, participativas, dos artistas Claudia Casarino, Guga Ferraz, Maria Nepomuceno, traplev e Zé Tepedino estarão expostas no Aterro do Flamengo durante todos os dias do evento, das 16h às 20h, no dia 15, e das 13h às 20h nos dias 16 e 17 de setembro.
São obras de artistas que trabalham com a questão urbana e, muitos deles, têm uma relação direta com a história do Parque do Flamengo. Este é o caso da obra inédita “Até onde o mar vinha, até onde o rio ia – onda de plástico”, de Guga Ferraz, feita especialmente para o projeto, que apresenta uma grande onda inflável. “Esta obra faz um comentário sobre o espaço do Aterro já ter sido mar, que faz as pessoas serem engolidas por essa onda, que também é um espaço de encontro, um espaço lúdico”, conta Ynaiê Dawson, “um espaço que era mar e que estamos transformando em plástico”, ressalta Guga Ferraz. Também inflável, com dois metros de diâmetro, a bola cor-de-rosa de Maria Nepomuceno traz escrita a palavra amor, e estará disponível para interação do público durante o festival. Já a obra “A paisagem que (também) estamos sendo”, da artista paraguaia Claudia Casarino, que tem Bianca Bernardo como curadora-convidada, fala sobre o lugar de encontro ao apresentar camisas brancas, unidas, que formam uma tenda, que será mais um espaço de convivência para o público.
Questionando o uso dos espaços para objetivos diferentes dos quais foram designados, a obra “Juntos Venceremos”, de Zé Tepedino, apresenta brinquedos de madeira para crianças, nos moldes dos existentes em praças públicas, invertidos, impossibilitando seu uso convencional, resgatando o lúdico e outras formas de brincar, além de fazer uma ponte com a realidade, pois muitos desses brinquedos, inclusive no Aterro, estão quebrados, sem possibilidade de uso. O escorrega, por exemplo, possui a escada no lugar da rampa e vice-versa.
Faixas com frases do artista Traplev, como: “a paisagem dessa ex-capital apodrece maravilhosamente”, retirada de um filme de Rogério Sganzerla (1946-2004), e “seguimos comemorando”, pretendem fazer uma revisão histórica e crítica, conectando-se ao pensamento e à produção artística dos anos 1960 quando o Aterro estava em construção e o cinema novo fazia diversas críticas sociais e políticas.
OFICINAS E APRESENTAÇÕES
Além das instalações artísticas, “Ar Livre*Arte Livre” também trará oficinas de arte para crianças e adultos e apresentações sonoras e artísticas.
Os artistas Carolina Valansi e Domingos Guimaraens apresentarão a oficina “Co-construção”, para todas as idades, que propõe criações a partir dos cocos descartados pelos vendedores do Aterro do Flamengo. Já o artista Fluxuz apresentará a projeção a laser “Bandeira lúcida”, realizando também oficinas de criação de conteúdo, que poderão ser projetados durante suas apresentações no sábado e domingo, ao cair do dia.
Também será apresentada a performance sonora “Atravessando portais”, da artista Frekwéncia, que visa promover debates sobre racismo estrutural e direito à cidade. Ao fundir elementos sonoros, literários e performativos, a artista parte da história de sua avó, Nina, uma mulher negra que viveu, trabalhou e criou seu filho na casa de uma família branca no bairro do Flamengo, e busca desenterrar as camadas de colonialidade ocultas nessa região, e, por meio de rituais cuidadosamente criados, celebrar as memórias ancestrais que persistem, mesmo em face do esquecimento, explorando caminhos alternativos para a trajetória de Nina e para o futuro do Aterro do Flamengo.
Selecionadas para “Ar Livre*Arte Livre” através de chamada pública, os artistas Azizi Cypriano e Yhuri Cruz apresentarão, no Teatro de Arena do Aterro do Flamengo, “Notícias vão chegar”, uma cena colaborativa criada especialmente para o projeto. Na apresentação, a dupla cria uma cartografia expandida que correlaciona antigas e novas ideias, imaginários e notícias transatlânticas, utilizando materiais de origem orgânica, como corda, papel, plantas, carvão vegetal, entre outros. O público será convidado a participar e intervir na criação desse mapa-arena, compondo o mis-en-scene da ação.
As Irmãs Brasil farão uma aula-vivência de passarela com Legendary Runways, que compartilha práticas e vivências da cultura Ballroom, uma cultura de acolhimento, criada por travestis pretas na década de 1960/70 no Harlem, em Nova Iorque, de onde nasce o estilo de dança Vogue. “Uma aula de vida, que provoca outros corpos a caminharem, no desejo de ir além!”, dizem as Irmãs Brasil.
Programação:
SEXTA-FEIRA, DIA 15 DE SETEMBRO DE 2023
16h – Abertura – Teatro de Arena
17h – Frekwéncia – Atravessando portais performance musical | Coreto Modernista
18h – Circular Som Sistema – DJ set
18h30 – Fluxuz – Bandeira lúcida – projeção a laser | próximo à pista de skate
SÁBADO, DIA 16 DE SETEMBRO DE 2023
13h – Caroline Valansi e Domingos Guimaraens – Co-construção (oficina para crianças e adultos ) | próximo ao Coreto Modernista
15h – Frekwéncia – Atravessando portais – performance musical | Coreto Modernista
16h – Irmãs Brasil – Aula-vivência de passarela com Legendary Runways – Teatro de Arena. Indicação: a partir de 13 anos
18h – Circular Som Sistema – Dj set
18h30 – Fluxuz – Bandeira lúcida (oficina de conteúdo e projeção à laser) | próximo à pista de skate
DOMINGO, DIA 17 DE SETEMBRO DE 2023
13h – Caroline Valansi e Domingos Guimaraens – Co-construção – (oficina para crianças e adultosl) | próximo ao Coreto Modernista
15h – Frekwéncia – Atravessando portais – performance musical | Coreto Modernista
16h – Azizi Cypriano e Yhuri Cruz – Notícias vão chegar – performance cênica | Teatro de Arena
18h – Circular Som Sistema – DJ set
19h – Fluxuz – Bandeira lúcida – oficina e projeção laser – | próximo à pista de skate
JUNTES NA CULTURA 2023
Mensalmente, a cooperação cultural franco-alemã no Rio ocupa diferentes espaços na cidade. A iniciativa une as vozes de diversas expressões artísticas – cinema, música, literatura, artes visuais, dança – em um diálogo que também aborda questões contemporâneas, como sustentabilidade e decolonização.
A França e a Alemanha estão ligadas por uma história comum e uma amizade que é motor de transformações na Europa e no mundo. No Rio de Janeiro, a parceria se intensificou ao longo dos últimos anos, gerando diversos projetos de cooperação no âmbito cultural. As atividades são realizadas conjuntamente pelo Goethe-Institut Rio de Janeiro e pelo Consulado Geral da França no Rio de Janeiro, em parceria com instituições brasileiras e internacionais.
O estreitamento das relações se deu a partir da renovação de um tratado histórico de amizade entre os dois países, no dia 22 de janeiro de 2019, em Aachen. Entre as medidas de fortalecimento da cooperação, consta a aproximação dos países por meio de institutos culturais.
Serviço: Ar Livre*Arte Livre
Aterro do Flamengo [Coreto Modernista e Teatro de Arena]
15 de setembro (sexta-feira), das 16h às 20h
16 de setembro (sábado), das 13h às 20h
17 de setembro (domingo), das 13h às 20h
Evento gratuito I Classificação livre
@arlivreartelivre
Realização: Temporary Art Platform, Juntes na Cultura, Goethe Institut, Serviço Cultural do Consulado da França e Jurubeba Produções
Curadoria: Amanda Abi Khalil
Co-curadoria: Ynaiê Dawson
Curadora-convidada da obra da artista Claudia Casarino: Bianca Bernardo
Júri Chamada Pública: Ana Luiza Nobre e Bianca Bernardo
Projeto gráfico: Paula Dager
Som: Circular Som Sistema