Resultado de mais de quatro anos de pesquisa em materiais e texturas, Sanagê Pele e Osso inaugura no dia 14 de julho, no Centro Cultural Correios RJ, com telas de 1,60m por 2,10m e objeto escultórico concebidos pelo artista Sanagê. Sob curadoria de Carlos Silva, a exposição propõe uma imersão estética e sensorial à questão racial e suas consequências na sociedade contemporânea brasileira. Utilizando espuma expandida, matéria-prima muito empregada na construção civil, o artista conseguiu torná-la semelhante a texturas, volumes e cor de peles, ossos, fissuras e ligamentos.
A partir dessa experimentação ele se aproxima de um tema bastante familiar: a diáspora africana e suas consequências.
“Num primeiro momento, há o encantamento com a matéria-prima e suas possibilidades. Este é um dado fundamental para a construção da obra, pois é sobre a espuma expandida que se projeta meu exercício de produção contemporânea em arte”, analisa Sanagê, radicado em Brasília desde 1972.
Inicialmente, a linguagem é direta, pois as obras se referem a países africanos de onde saíram e por onde passaram homens, mulheres e crianças capturados e vendidos como escravos para trabalhar em fazendas e minas no Brasil. E se, por um lado, o material se revelou ideal para pensar estruturas invisíveis de um ponto de vista externo, por outro, nunca foi intenção do artista fazer uma apropriação expressionista e explícita da condição básica da diáspora. Os mapas são regiões de circunscrições de uma experiência. Nesse lugar da experimentação, ele alcança a conjunção favorável de um trabalho com pé na pintura e um desdobramento imediato em relevo e escultura. As estruturas de espuma são rasgadas, serradas, quebradas e coladas entre elas e sobre a tela.
Telas e objeto escultóricos e espaço expositivo foram pintados de branco, do teto ao chão, que revestido de espuma EVA. Ao optar pela cor que contém e reflete todas as outras, Sanagê conduz o visitante a uma experiência de espaço infinito.
“O branco é a presença diáfana que simboliza uma ausência de limites. Porém, além de uma escolha estética, a cor também é política. Assim como as telas que contêm relevos e texturas que não representam os relevos ou acidentes geográficos dos países africanos, a cor também não ser refere a uma realidade. É uma provocação para a reflexão sobre passado, presente e futuro”, completa o artista.
A curadoria é assinada por Carlos Silva:
“Quando nos referimos ao racismo, estamos sempre imbuídos em destacar questões que o cenário educacional nos apresenta mormente de forma fantasiosa. A literatura escolar sobre a importância e o legado da cultura negra além de tendenciosa é extremamente fraca em seu conteúdo, deixando nítido seu gesto marginal, ou seja, estamos recebendo invariavelmente um legado pobre que não permite uma interpretação isenta e analítica dos momentos.
Sanagê Pele e Osso busca, de forma tímida, porém consistente, despertar alguns desses fatos e momentos, trazendo luz a algumas questões que possam motivar a releitura de aspectos históricos importantes, considerando que nada é definitivo. Esta exposição é uma fagulha nesta proposta e entendimento da questão”.
A mostra já foi apresentada no Museu da República de Brasília, onde atraiu um público de mais de 39 mil pessoas, e no MAB – Museu de Artes de Blumenau. Com vocação itinerante, depois do Rio de Janeiro segue para Niterói, Salvador e Recife. A ideia é percorrer o país.
Serviço:
“Sanagê Pele e Osso” – artista propõe imersão na diáspora africana e na questão racial em telas e objeto escultórico, usando espuma expandida
Abertura: dia 14 de julho, quarta-feira, às 18h
Período: de 15 de julho a 27 de agosto de 2021
Curadoria: Carlos Silva
Centro Cultural Correios RJ
Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – RJ.
Visitação: de terça a sábado, das 12h às 19h
Entrada gratuita