Com curadoria de Lorenzo Mammi e Michel Favre e apoio da família, a exposição “Geraldo de Barros – imaginário, construção e memória” ocupa os três andares do espaço expositivo da instituição. A exposição percorre a sua carreira, entre as décadas de 40 e 90, além de assinalar os contextos e influências nos quais ela se desenvolveu na gravura, fotografia, pintura concretista e pop, mobiliário e arte gráfica.
De 11 de agosto (quarta-feira) a 7 de novembro, o Itaú Cultural expõe mais de 400 itens da obra e vida do artista que dá nome à exposição “Geraldo de Barros – imaginário, construção e memória”. É a primeira vez que uma mostra apresenta o conjunto de sua obra, sem recortes específicos.
Do fabuloso à abstração formal, passando por métodos e princípios construtivos entre analogias e cruzamentos de fases e técnicas, ela acompanha a criação e produção do artista em cinco décadas de trabalho. Uma linha temporal desvenda o processo criativo e coerente de uma vida de trabalho, cruzando as obras e materiais do ateliê com o arquivo pessoal do artista, entre fotos de família, cartas, citações e objetos.
A curadoria compartilhada de Lorenzo Mammi e Michel Favre é complementar, mas separa-se nos diferentes andares do espaço expositivo do Itaú Cultural. Para eles, no conjunto, “Geraldo de Barros – imaginário, construção e memória”, permite ao visitante fazer uma leitura imersiva sobre a vida e obra deste artista, possibilitando compreender a coerência entre todas as fases em que atuou: gravura, fotografia, pintura concretista e pop, mobiliário, arte gráfica.
Os mais de 400 itens apresentados nesta mostra, a tornam a mais extensa sobre ele já exibida. Eles vão de obras em suportes variados e móveis a dezenas de documentos e material inédito de seu arquivo pessoal. Traz, ainda, quadros pouco vistos como Arizona – arte pop de mais de quase três metros por um e meio, feito em esmalte sobre offset a cores e papel colado sobre aglomerado, de 1975 – e Minister II, em esmalte e colagem sobre aglomerado, produzida no mesmo ano. Eles estão entre os trabalhos que o artista costumava oferecer de presente, bastando o interlocutor dizer que gostou, e dos quais se perdeu o rastro de muitos.
“Esta é uma exposição em que tentamos juntar a coerência das várias fases de Geraldo e mostrar como tem vida própria”, conta Mammi. “Vai das primeiras gravuras inspiradas em Paul Klee, as fotografias, as obras concretas e pop até as Sobras. Fios condutores vão mostrando que ele é mais complexo do que apenas um artista concreto ou um fotógrafo. Ele é completo, tem uma visão ampla e original”, conclui.
“A obra de Geraldo de Barros tem um vocabulário em que percebemos que com poucas letras, ele consegue contar muitas histórias”, observa Favre, que além de curador da mostra, cuida do rico arquivo do sogro, conservado em Genebra, na Suíça, ao lado da artista Fabiana de Barros, filha de Geraldo e sua mulher.
Nascido em Chavantes, no interior de São Paulo em 1923, muito jovem Geraldo de Barros mudou-se com a família para a capital, onde morreria em 1998. Começou a trabalhar aos 14 anos para sustentar os seus estudos e rapidamente seu faro se apurou para a pintura. A partir de 1945, passou a estudar desenho com Clóvis Graciano (1907-1988), Colette Pujol (1913-1999) e Yoshiya Takaoka (1909-1978). Nunca mais parou.
Geraldo tornou-se fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer de móveis e desenhista. Criou coletivos, como o Grupo Rex e Ruptura. Expoente da fotografia experimental, integrou o Foto Clube Bandeirantes (FCCB), principal núcleo da fotografia moderna brasileira. A sua trajetória perpassa várias formas de expressão visual e reivindica o papel social da arte. Saiba mais sobre ele na Enciclopédia Itaú Cultural.
Ainda, pode se ver imagens do artista, pertencentes ao acervo do Itaú Cultural e presentes na mostra on-line do Google Arts & Culture Fotografia Modernista Brasileira, realizada com um recorte desta coleção da instituição.
“Aqui tratamos de mostrar as diferentes fases de trabalho de Geraldo de forma linear, mas não como uma mera linha do tempo”, explica Favre. “Tem peças que permitem mostrar um pouco da personalidade dele além da obra, pois, pela primeira vez, apresentamos uma cronologia com dados importantes de sua produção, colocando, lado a lado, a origem da obra e elementos que participaram da sua criação, como um rascunho, um negativo ou projeto de desenho de móveis, e a própria obra completa.“
Assim, o espaço apresenta um cruzamento de trabalhos audiovisuais, fotos de família, cartas, material de ateliê, técnicas que o artista foi desenvolvendo, como negativos fotográficos e matrizes de gravuras de modo a demonstrar todas as suas fases e desvendar o processo de como trabalhava, explorava e criava.
“Desta maneira se percebe a experimentação, a procura de material e de técnicas, além de sua abertura de espírito nada dogmática”, continua o curador. “Passa dos negativos riscados ou furados apresentados nas fotos dos anos 50, até estudos de fórmica dos anos 80 e o processo da fabricação das Sobras, indo do negativo final ao que foi recortado e não entrou na foto, em um diálogo da construção dessas imagens.”