Com versos densos e uma reflexão sobre a tecnologia e internet, Caetano Veloso lança “Anjos Tronchos”. Este é o seu primeiro single, lançado pela Sony Music e que fará parte do seu álbum de inéditas, previsto para os próximos meses.
O cantor e compositor explica como veio a inspiração: “É uma canção que pensei que não ia poder fazer por inteiro, por causa do meu desconhecimento da matéria, do assunto. Eu prometi a mim mesmo que se eu quisesse fazer uma coisa dessas, precisaria saber muito mais. Para saber mais, eu precisaria usar mais a internet, saber mais o que acontece nas redes sociais”.
E completa: “Embora eu não conheça muito a questão da tecnologia e das suas consequências, eu fiz uma canção que parece mexer em questões muito maiores do que seu autor é capaz de dominar. Tem muitas canções que tiveram resultados políticos, na formação da cabeça de gerações, de áreas da sociedade, e que não foram feitas por uma pessoa que conhecesse teoricamente a complexidade daquele assunto. Eu terminei pensando: ‘Deu para fazer uma canção que pode ser como uma dessas’”.
O clipe, dirigido por Fernando Young e Del, será lançado na sexta-feira (17/09), às 20h, precedido de uma live no canal do YouTube do artista, às 19h45, quando ele promete contar um pouco mais sobre o projeto.
O videoclipe transmite a densidade da música em imagens que trazem Caetano, entre sombras e espelhos. “Buscamos produzir efeitos reais, de maneira artesanal, sem pós produção ou efeitos que tirassem o foco da performance do Caetano. Assim veio a ideia de construir cenários super minimalistas que contrastam com a multiplicação dos reflexos e algoritmos, um link direto ao vazio digital”, explicam Fernando e Del.
Este é o primeiro lançamento desde que Caetano Veloso assinou com a Sony Music. Há diversas ações previstas para os próximos meses, incluindo o próximo álbum, que promete ser uma viagem por dentro da cabeça do artista, mostrando como funciona seu cérebro durante a criação de canções.
ANJOS TRONCHOS
(Caetano Veloso)
Uns anjos tronchos do Vale do Silício Desses que vivem no escuro em plena luz Disseram: vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis.
Agora a minha história é um denso algoritmo Que vende venda a vendedores reais, Neurônios meus ganharam novo outro ritmo E mais e mais e mais e mais e mais.
Primavera Árabe – e logo o horror.
Querer que o mundo acabe-se: Sombras do amor.
Palhaços líderes brotaram macabros No império e nos seus vastos quintais Ao que revêm impérios já milenares Munidos de controles totais.
Anjos já mi ou bi ou trilionários Comandam só seus mi, bi, trilhões E nós, quando não somos otários,
Ouvimos Shoenberg, Webern, Cage, canções…
Ah, morena bela Estás aqui
Sem pele, tela a tela:
Estamos aí.
Um post vil poderá matar Que é que pode ser salvação?
Que nuvem, se nem espaço há
Nem tempo, nem sim nem não. Sim: nem não.
Mas há poemas como jamais Ou como algum poeta sonhou
Nos tempos em que havia tempos atrás
E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou.
Uns anjos tronchos do Vale do Silício Tocaram fundo o minimíssimo grão
E enquanto nós nos perguntamos do início Miss Eilish faz tudo o quarto com o irmão.
FICHA TÉCNICA
Voz: Caetano Veloso
Guitarra: Pedro Sá
Baixo: Pedro Sá
Sintetizador: Lucas Nunes
Zabumba: Pretinho Da Serrinha
Triangulo: Pretinho Da Serrinha
Técnico de Gravação: Lucas Nunes
Mixagem: Daniel Carvalho e Lucas Nunes
Masterização: Alexandre Rabaço
Produção Musical: Caetano Veloso e Lucas Nunes