“Coração Bifurcado”, novo álbum de Jard Macalé, é uma ode contemporânea aos eternos caminhos e descaminhos do amor. O décimo terceiro disco de inéditas do violonista, cantor e compositor carioca Jards Macalé traz o artista também assumindo a direção musical , além de conta com a parceria de Romulo Fróes na direção artística.
Aliás, boa parte das canções foram compostas em Penedo durante o isolamento da Pandemia do Covid-19. As gravações, mixagem e masterização ocorreram entre 2022 e 2023, nos estúdios da Biscoito Fino. Com design da capa de Omar Salomão, a partir de fotografias de Leo Aversa, este é o quarto trabalho que reúne Jards Macalé e a gravadora carioca.
Não é a primeira vez que Jards Macalé faz um disco dedicado ao amor. No álbum “Aprender a Nadar”, de 1973, canções como “Soluços” já abordavam o tema. José Carlos Capinan, parceiro em clássicos como “Farinha do desprezo”, “78 rotações” e “Movimento dos barcos”, é o coautor da faixa de abertura e manifesto, “Amor in natura” e na resiliente poesia de “A arte de não morrer”. Além disso, outra parceria de destaque é com Ronaldo Bastos, em “Mistérios do nosso Amor” e “O amor vem da paz”. As duas canções contam com os arranjos de outro parceiro de longa data de Jards, Cristóvão Bastos, e a participação luminosa da voz de Maria Bethânia em “Mistérios do nosso amor”.
As demais canções do disco fazem parte da usina criativa que se reúne ao redor do “professor”, já há alguns anos. Tanto os letristas – Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Clima e Romulo Fróes – quanto os músicos – o baterista e percussionista Thomas Harres, o guitarrista, cavaquinista e percussionista Rodrigo Campos, o guitarrista Guilherme Held e o baixista Pedro Dantas –, já são parceiros e acompanharam Jards em discos e shows ao longo de seus últimos trabalhos.
Com Kiko, Jards compôs a faixa-título, o samba “Coração Bifurcado”, um canto pra Exu com refrão cujo mote é uma cantiga para Pombagira narrando os amores que ocorrem nas encruzilhadas da vida. Com Alice Coutinho, Jards fez a belíssima bossa nova jobiniana “Grãos de açúcar”, primeira parceria com Alice e única música do disco em que podemos ouvi-lo em voz e violão. “A foto do amor” coloca Jards Macalé no mundo fragmentado e cronista de Rodrigo Campos em um retrato do amor mundano e urbano, e “Você vai rir”, composição feita com Clima, cujo início em samba lírico se expande para um samba torto de fim de gafieira.
Já as duas composições com Romulo Fróes seguem caminhos singulares: “Simples assim” foi escrita em cima de uma música enviada por Jards. A outra, “Pra um novo amor chegar”, é uma inédita parceria tripla composta a partir de uma harmonia de Guilherme Held e de uma melodia feita por Jards em cima dessa harmonia. Cabe ainda destacar a voz perfeita de Ná Ozetti assumindo uma tarefa nada fácil, afinal, esta seria a faixa que Gal Costa gravaria. Como forma de homenagear a amiga, Macalé dedica o álbum a Gal.
“Amo tanto”, autoria exclusiva de Macalé, foi gravada originalmente no disco Nara pede passagem, de 1966. A inclusão da gravação original de Nara Leão no álbum Coração Bifurcado, com Copinha na flauta, Canhoto no cavaquinho e Dino 7 Cordas no seu violão de batismo, produz uma presença de Nara e faz com que, 57 anos depois, a faixa encontre seu lugar perfeito em um disco do seu compositor. E por fim, a faixa final, “Cante”, composta em plena pandemia, é o tipo de encerramento que convoca o ouvinte a novos recomeços, novas perspectivas e novas esperanças.
“Coração Bifurcado”, como todos os trabalhos de Jards Macalé, aponta para diferentes temporalidades e sonoridades da música brasileira, mostrando a melhor forma de um músico que completa oitenta anos pleno de ideias, projetos e amores. O novo disco de Jards só pede que cantemos aquilo que nos apaixona e nos move em tempos difíceis como os nossos. Pois a melhor coisa do mundo, além do amor, é cantar.