Hamilton de Holanda traz um Djavan moderno como nunca e como sempre

Diário Carioca
Hamilton e Djavan - Foto: @-brunini

Hamilton de Holanda tem duas memórias muito marcadas de Djavan, a quem homenageia agora no álbum “Samurai”. A primeira delas da adolescência, quando “Sina” era o carro-chefe do repertório da banda que tinha com amigos da escola. A segunda é de quando voltou ao Brasil, depois de uma temporada em Paris, e recém-chegado ao Rio de Janeiro, ganhou de presente do compositor uma canção feita especialmente para que o bandolinista gravasse com ele — a faixa-título do disco “Vaidade”, de 2004.

Escute o álbum: https://smb.lnk.to/Samurai

Assista ao clipe de “Faltando um Pedaço” https://www.youtube.com/watch?v=vTQzlYO6fko

— Foi um dos primeiros grandes artistas a abrir as portas pra mim — lembra Hamilton. — Na gravação, a melodia é apresentada toda pelo bandolim, só depois entra a parte do canto, da poesia. Naquela ocasião, já imaginei que um dia faria um disco todo só com músicas de Djavan. Agora chegou a hora.

Hamilton e Djavan - Foto: @-brunini
Hamilton e Djavan – Foto: @-brunini

Com produção de Hamilton e de Marcos Portinari, “Samurai” reúne 12 faixas, entre gravações instrumentais e cantadas. O time de cantores convidados mostra a vastidão não apenas da música de Djavan, mas também do olhar do bandolinista. Estão lá, além do próprio homenageado (em “Luz” e “Lambada de serpente”), Zeca Pagodinho (“Flor de lis”), o uruguaio Jorge Drexler (“Lilás”), Gloria Groove (“Samurai”) e a indiana Varijashree Venugopal (vocalises em “Oceano”).

Os instrumentistas convidados também dão um panorama da riqueza da música de Djavan e de Hamilton: o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba em “Irmã de neon” e a saxofonista americana Lakecia Benjamin em “Samurai”. A banda base que acompanha Hamilton é formada pelo pianista Salomão Soares (que é creditado merecidamente com destaque como convidado em “Capim”), o baterista Big Rabello e o baixista André Vasconcellos, com participações dos percussionistas Armando Marçal e André Siqueira, além de trombonista Rafael Rocha, que assina o arranjo de cordas em “Lambada de serpente”.

— Acabou virando um disco multicultural: Cuba, Índia, Uruguai, Estados Unidos… — brinca o bandolinista, expondo as fronteiras do disco que se expande ainda para a Europa ibérica moura e mergulha no Nordeste brasileiro, territórios de Djavan.

Multiculturalidade, amplidão, riqueza… Palavras como essas são naturalmente evocadas quando se pensa em Djavan, em Hamilton e, especialmente, neste “Samurai”. O álbum é puro Djavan e puro Hamilton — “puro” aqui no sentido que a palavra tem de nobreza e raridade, não da qualidade do que é avesso a misturas. “Samurai” — como o compositor alagoano e o bandolinista carioca — mira exatamente no oposto: ser único e ser muitos ao mesmo tempo.

— A música do Djavan tem algo que busco na minha vida — resume Hamilton. — Ela tem um comprometimento com o tempo. Com o passado, na forma como artistas como Luiz Gonzaga estão ali. Com o futuro, em sua característica de vanguarda. E com o presente, na leveza de festa, de ser agradável, trazer alegria e emoção pras pessoas.

Frente a essa música que atravessa tempos, Hamilton encarou o desafio de selecionar, do universo de Djavan, o que iluminaria em “Samurai”. Em primeiro lugar, entendeu que não descaracterizaria a essência das canções, suas melodias, harmonias, riffs mais marcantes. Com essa ideia em mente, escolheu composições que dialogassem melhor com seu bandolim, seja pela linguagem jazzística (como “Malásia”), seja pelos aspectos afetivos (como a velha conhecida “Sina”), seja pela liberdade de expandir as fronteiras do samba (como “Capim”).

Um álbum de Djavan serve de chão para Hamilton em “Samurai”. Quatro das 12 canções do disco são de “Luz”, de 1982 — “Samurai”, “Luz”, “Capim” e “Sina”.

— É um momento da carreira dele que gosto muito — justifica o bandolinista. — Djavan consegue com elementos complexos soar simples, prazeroso, natural. E esse disco, “Luz”, é especialmente representativo nesse sentido, é uma síntese disso.

“Faltando um pedaço” (do álbum “Seduzir”, de 1980) abre o disco ilustrando à perfeição o desejo de Hamilton de respeitar a arquitetura de Djavan. A introdução em baião reproduz, com molho do bandolinista, a da gravação original. E o carinho com que conduz a melodia expõe todo amor do instrumentista à beleza da música do homenageado — ele conta que baixou a música meio tom pra “apertar mais ainda o coração”.

Hamilton passeia com familiaridade pela melodia de tons mouros de “Malásia” (do disco homônimo de 1996). A faixa tem a participação de Marçal, que está presente também na gravação original de Djavan. Outro músico do álbum “Samurai” que tocou com o alagoano é André Vasconcellos. O baixista, que na juventude fazia parte da turma do bandolinista em Brasília, está em momentos importantes da carreira de Djavan, como a turnê que gerou o campeão de vendas “Ao vivo”, de 1999.

Engrandecida pela delicada e precisão da voz de Varijashree Venugopal, “Oceano” (do álbum “Djavan”, de 1989) é dos momentos mais lindos de “Samurai”. Hamilton bebe do arranjo original — seu solo, por exemplo, conversa com o original, de Paco de Lucia — para construir uma leitura ao mesmo tempo reverente e nova.

“Flor de lis” (do disco “A voz, o violão, a música de Djavan”, de 1975) traz a primeira participação vocal, com Zeca Pagodinho revigorando o hit de Djavan com uma divisão plena de malandragem e técnica. Muito do suingue entra também na conta das teclas de Salomão, das baquetas de Big e da percussão de Marçal e Siqueira — este toca instrumentos como repique, aproximando a canção do Cacique de Ramos onde brotou a rara flor de lis de Pagodinho.

Outra de “Malásia”, “Irmã de neon” tem sua latinidade, terreno caro a Djavan, encharcada do tempero cubano de Gonzalo Rubalcaba. É sempre impressionante ver a comunicação surpreendente e sedutora da música de Hamilton e Rubalcaba. E desta vez não é diferente.

Djavan em pessoa aparece pela primeira vez no disco em “Luz” (do já citado álbum homônimo), com seu canto que é uma aula sobre a melodia cheia de quebras rítmicas. Em seu bandolim, Hamilton sustenta o nível. “Asa” (pinçada de “Meu lado”, de 1986), que vem na sequência, soa moderna como nunca e como sempre em sua alegria de timbres brilhantes.

“Capim” (também de “Luz”) é, na definição de Hamilton, uma viagem no tempo: “Pegamos o DeLorean (máquina do tempo de “De volta para o futuro”) e fomos para a década de 1970”. O balanço é irresistível, misto de funk e samba-jazz. O bandolinista revela a dificuldade de cravar o ritmo exato da frase inicial da canção (equivalente aos versos “Capim do Vale/ Vara de goiabeira/ Na beira do rio/ Paro para me benzer”):

— Sem exagero, tive que repetir umas 100 vezes pra fazer certinho. E só consegui acertar cantando junto, baixinho. Djavan percebeu o cuidado e comentou que a melodia ficou exata, uma preocupação minha no disco como um todo.

“Lambada de serpente” (de “Alumbramento”, de 1979) retoma o Djavan mais dolente e romântico. O compositor participa da faixa, cantando sobre as cordas — uma referência à gravação original, que tem um violoncelo que se destaca em seu ambiente rural.

A fase do flerte mais marcado de Djavan com os sintetizadores está representada em “Lilás” (do álbum homônimo, de 1984), que tem a voz de Jorge Drexler. O arranjo da gravação de Hamilton acompanha o clima do original, com timbres eletrônicos, inclusive no bandolim:

— Foi a primeira vez na vida em que gravei o bandolim trabalhado com efeitos, o que acabei fazendo em outros momentos do disco, como em “Asa” e “Samurai” — conta Hamilton, adiantando que isso talvez possa apontar pra caminhos inexplorados no futuro. — Estou gostando de encontrar novos sons pro instrumento.

A memória da juventude, da descoberta de Djavan por Hamilton, está marcada em “Sina” (também de “Luz”). O bandolinista conta que “quis trazer essa leveza desse período alegre” de sua vida. O ritmo do ijexá é acentuado, assim como sua vocação pop.

Por fim, “Samurai” (outra de “Luz”) vai ainda mais fundo no pop, com seu groove à la Stevie Wonder, o canto de Gloria Groove e o sax de Lakecia Benjamin. A gravação é exuberante, o que inclui três bandolins de Hamilton, com diferentes timbres e efeitos. “É a festa final”, define Hamilton, que não por acaso a escolheu para batizar o disco.

Hamilton recorre à imagem do flamenco para dar conta de seu entendimento sobre “Samurai”.

— Amo o flamenco porque nele tudo se integra. O cantante, o bailante e o guitarrista são igualmente importantes. Gosto de pensar em “Samurai” assim — explica o bandolinista, dando a chave para se chegar ao núcleo do disco, no qual mente, coração e quadril andam juntos.

“O Hamilton de Holanda acertou. É bom você ter uma obra assim e ele focou em trazer a visão dele, mas sem deixar de ser a obra. A cada participação, eu vejo o quanto está mais próxima de mim, do ponto de vista da minha visão das músicas. E o ponto de vista dele está ali, em todos os detalhes. O ritmo é um dos elementos mais importantes da música” – Djavan

“Hamilton é um músico extraordinário e um grande amigo! Tudo que fizemos juntos foi bacana e, gravar com ele uma música de Djavan, não poderia deixar de ser igual” – Zeca Pagodinho

Tenho o prazer de expressar minha alegria e satisfação. Como estou honrado por fazer parte deste projeto do Hamilton da Holanda. Admiro-o como instrumentista, admiro-o como compositor e por sua projeção musical. E, justamente por falar em projeção musical, este álbum, para o qual ele e sua equipe me convidaram, presta uma homenagem ao grande Djavan, de quem tenho lembrança desde os anos em que morei em Cuba, desde seus primeiros discos, seus primeiros sucessos que se tornaram uma espécie de hino, não só no Brasil, mas em muitas partes do mundo e especialmente em Cuba, para toda a minha geração. Alguns anos depois, me encontro envolvido num projeto que homenageia a música dele. E fazer parte da interpretação de uma dessas músicas, me faz sentir extremamente honrado e com muita sorte. Muita sorte em fazer parte deste elenco, que contém artistas do mais alto nível” – Gonzalo Rubalcaba

“Estou muito feliz por fazer parte deste projeto, que é uma homenagem ao lendário Djavan e sua música. É uma experiência enriquecedora cantar junto com meu irmão musical Hamilton de Holanda, que cria magia como sempre. Cada vez que ele me envia uma música, fico ansiosa para aprender, absorver, processar e fazer parte de mais um belo jogo sonoro intercultural proposto por ele. Estou profundamente honrada que, através de ´Oceano´, a música da Índia participe da celebração da música de Djavan. Sou grata por ter recebido o convite para oferecer minhas saudações musicais a Djavan. Esta experiência permanecerá como uma memória monumental que ficará gravada no meu coração para sempre” – Varijashree Venugopal.

Crédito: Foto de capa Dani Gurgel e crédito da arte de capa Pedro The Zak Man Araújo
Crédito: Foto de capa Dani Gurgel e crédito da arte de capa Pedro The Zak Man Araújo

Ficha Tecnica – “Samurai”

Hamilton de Holanda – A música de Djavan

Produzido por Marcos Portinari e Hamilton de Holanda

Todas composições de Djavan, exceto Lambada de serpente, com Cacaso

Faixas:

*Faltando um pedaço

*Malásia

*Oceano feat. Varijashree Venugopal

*Flor de lis feat. Zeca Pagodinho

*Irmã de neon feat. Gonzalo Rubalcaba

*Luz feat. Djavan

*Asa 

*Capim feat. Salomão Soares

*Lambada de serpente feat. Djavan

*Lilás feat. Jorge Drexler

*Sina

*Samurai feat. Gloria Groove

Músicos:

Hamilton de Holanda – Bandolim, guitarra em Malásia, violão de aço em Oceano, arranjos e direção musical

Salomão Soares – Teclados

Thiago Big Rabello – Bateria, programações

André Vasconcellos – Baixo, guitarra em Lilás, violão de aço em Oceano 

André Siqueira – Percussão (nas faixas Irmã de neon, Sina e Flor de Lis)

Músico Convidado:

Armando Marçal – Percussão em todas as faixas, exceto Faltando um pedaço

Participações especiais:

Djavan – Voz em Luz e Lambada de serpente

Zeca Pagodinho – Voz em Flor de lis

Gloria Groove – Voz em Samurai

Jorge Drexler  – Voz em Lilás

Gonzalo Rubalcaba – Piano em Irmã de neon

Lakecia Benjamim – Sax alto em Samurai

Varijashree Venugopal – Voz em Oceano

Coro em Flor de Lis e Samurai

Eliel Silva

Olivia Monaco

Jonas Saide

Dani Monaco

Dani Gurgel

Coro em Faltando um pedaço, Malásia e Lilás

Hamilton de Holanda

Dani Gurgel

Coro em Sina

Hamilton de Holanda

Dani Gurgel

Big Rabello

Salomão Soares

André Vasconcellos

Rita Gurgel Rabello

Palmas e festa em Samurai

Hamilton de Holanda

Dani Gurgel

Jonas Saide

Carol Portes

Luiz Rabello

Nina Fernandes

Big Rabello

Salomão Soares

André Vasconcellos

Marcos Portinari

Cordas em Lambada de Serpente

Arranjo:

Rafael Rocha

TALLINN STUDIO ORCHESTRA

Regência e Direção Artística: Kleber Augusto

Violino I

  1. Egert Leinsaar (spalla)
  2. Piret Sandberg
  3. Tarmo Truuväärt
  4. Astrid Muhel
  5. Helen Västrik
  6. Mari-Liis Uibo

Violino II

  1. Kadi Vilu
  2. Kristjan Nõlvak
  3. Kristel Kiik
  4. Maiu Mägi
  5. Triin Krigul
  6. Jevgenia Gulman

Viola

  1. Rain Vilu
  2. Oliver Vilu
  3. Martti Mägi
  4. Joosep Ahun
  5. Helena Altmanis
  6. Julia Širokova

Cello

  1. Tõnu Jõesaar
  2. Andreas Lend
  3. Kristian Plink
  4. Aleksander Sebastian Lattikas

Baixo

  1. Janel Altroff
  2. Indrek Pajus

Álbum gravado no Estúdio Da Pá Virada, por Thiago Big Rabello

Assistentes Victor Nery e Silvio Romualdo, São Paulo

Gonzalo Rubalca gravado no Estúdio Criteria por Carlos Alvarez, Miami

Jorge Drexler gravado por Lucas Piedra Cueva, Madrid

Zeca Pagodinho gravado no Estúdio LAB4AUDIO por Daniel Musy, Rio de Janeiro

Djavan gravado no Estúdio Em Casa por Marcelo Saboia, assistente Sérgio Silva, Rio de Janeiro

Varijashree Venugopal gravada no Studio Laya Digi por Krishna Bhat, Bangalore

Gloria Groove gravada no Estúdio Da Pá Virada por Thiago Big Rabello, São Paulo

Armando Marçal gravado no Estúdio Dois por Fabricio Matos, Rio de Janeiro

André Siqueira gravado no Estúdio LAB4AUDIO por Daniel Musy, Rio de Janeiro

Lakecia Benjamim gravada no seu home studio em New York, NYC

Salomão Soares gravado no Estúdio Da Pá Virada por Thiago Big Rabello, São Paulo

Tallin Studio Orchestra gravada no ERR Radio Studio por Kira Malevskaia, Tallin

Assistente de produção Brasilianos, Fellipe Cabral

Mixado por Big Rabello no Estúdio Da Pá Virada, São Paulo

Masterizado por André Dias no Post Modern Mastering, Rio de Janeiro

Foto da capa por Dani Gurgel

Capa feita por Pedro ’TheZakMan’ Araujo

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FILMAGEM

Direção audiovisual e direção de fotografia: Dani Gurgel

Direção de arte: Dani Gurgel, Gabrielle Sonelli, Mariana Silva e Nara Zocher

Desenho de luz: Nara Zocher e Dani Gurgel

Operadoras de câmera: Dani Gurgel e Jessica Murta

Assistente de direção e de câmera: Jessica Murta

Assistentes: Gabrielle Sonelli e Mariana Silva

Edição e finalização de vídeo: Dani Gurgel

Assistente de edição: Thamires Mulatinho

Gravações de vídeo adicionais:

Nando Chagas (Djavan e Armando Marçal) Asssistente João Augusto Vasconcellos

Marcos Portinari (Zeca Pagodinho, André Siqueira e coro) 

Ruslan Shakirov (Gonzalo Rubalcaba)

Marina Rodriguez (Jorge Drexler)

Sairam Sagi (Varijashree Venugopal)

Gravadora:

Sony Music Brasil

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