No ano em que a cidade do Rio foi palco de dois carnavais, o samba deixa a Avenida e invade o Theatro Municipal do Rio (Anexo Sala Mario Tavares), no dia 13 de maio, sexta-feira, com o espetáculo “Pérola na Cartola, as mais lindas canções”. Em formato nada usual, a obra de Agenor de Oliveira, o grande Cartola, ganha roupagem camerística, com enfoque no lirismo e poesia de suas letras. A proeza de aproximar a genialidade do compositor popular com a estética erudita é realizada por músicos de excelência: a cantora Georgia Szpilman, idealizadora do projeto, é acompanhada pelo violonista, arranjador e diretor musical do espetáculo Fábio Nin, além do clarinetista Moisés Santos e o contrabaixista Tony Botelho. No repertório, a apresentação dos maiores sucessos do consagrado sambista, entremeada pela história da vida e obra desse que é considerado, por muitos, um dos maiores nomes da MPB.
“Há anos venho sonhando em fazer Cartola. As poesias e suas músicas, sempre me fascinaram. Porem tudo já havia sido cantado e ¨recantado¨. Por este motivo, pela beleza das composições e pelo meu ouvido apurado vindo do trabalho com a música erudita, me levaram a fazer um Cartola com uma formação quase camerística, criando assim uma abordagem bastante diferenciada”, afirma Georgia Szpilman. O encontro do samba com o formato violão, clarinete, baixo acústico e voz acabou dando samba. Propositadamente sem a inclusão de uma percussão, a ousada releitura “fez com que ressaltassem ainda mais a poesia, deixando aparente o preciosismo das composições de Cartola”, complementa a idealizadora.
O programa abre com a fantasia sobre o tema “Alvorada”, composta e tocada pelo violonista concertista Fábio Nin, já dando o tom do espetáculo e preparando a entrada do canto. A sofisticação segue envolvendo a plateia com “As rosas não falam”, apenas voz e clarinete, com uma introdução surpreendente e um canto quase falado, realçando ao máximo a poesia de Cartola. Já “A vida é um moinho” traz o solo de clarinete de Moises, apoiado pelo violão e contrabaixo acústico, uma sonoridade totalmente nova desta composição. Em “Divina Dama”, com o uso do clarone – instrumento de sonoridade bastante grave e aveludada – Moises faz um contraponto com o violão e a voz. A falta da percussão, tão característica neste estilo musical, porém passa desapercebida em “Verde que te quero verde”, quando o samba fala mais alto, canção na qual Cartola enaltece a sua escola de samba Mangueira, assim como as belezas da natureza e do corpo das mulatas, encerrando com louvor a homenagem.
“O que buscamos em todas as músicas foi, literalmente, apontar as pérolas deste grande gênio que foi Cartola, músico e poeta de primeira linha, elogiado pelo grande poeta Manoel Bandeira”, sintetiza Szpilman e destaca: “por sorte ainda conseguimos uma data especial: 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura. Afinal estaremos homenageando neste dia um afrodescendente que foi apreciado e homenageado diversas vezes, por uma elite branca e europeia. Para nós, músicos, é um orgulho poder reverencia-lo como ele merece, dentro do Theatro Municipal”.
SERVIÇO
“Pérola na Cartola: as mais lindas canções”
Sexta feira, 13 de maio de 2022 às 18h.
Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Sala Mário Tavares
AV. Almirante Barroso 14/16 Centro – Rio de Janeiro – RJ.
R$30 (inteira) e R$15 (meia)
Classificação Indicativa Livre para todos os públicos
Tempo de Duração: 60 minutos
REPERTÓRIO
Acontece – Cartola
Alvorada – Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Belo de Carvalho.
As Rosas Não falam – Cartola
Disfarça e Chora – Cartola e Dalmo Castello
O Mundo é um moinho – Cartola
O sol nascera – Cartola e Elton Medeiros
Quem me vê sorrindo – Cartola
Verde que te quero Rosa – Cartola e Dalmo Castello
Tive sim – Cartola
Ensaboa Mulata – Cartola
Divina Dama – Cartola
Cordas de Aço – Cartola
Não posso viver sem ela – Cartola, Bide e Ataulfo Alves.
OS MÚSICOS
Georgia Szpilman . Voz e texto – “Equilíbrio entre qualidade vocal e desenvoltura teatral.” Luiz Paulo Horta Crítico musical de “O Globo”. Destaca-se pela versatilidade. Possui vasta experiência camerística e em musicais. dedica-se atualmente ao canto lírico. Tem atuado como solista em grandes produções como: Turandot (Liú), As Bodas de Fígaro (Condessa), Il Triptico, Electra, Fosca (papel título), O Condor (Odaléia), Viúva Alegre (Valentina), Cavaleria Rusticana (Lola), Norma (Clotilde), Carmen (Mercedes), La Traviata (Flora), entre outras. Na área de música erudita contemporânea, trabalha com a compositora Jocy de Oliveira, tendo participado de Festivais Internacionais e vários concertos no Brasil e exterior. Também atua em musicais como Sinatra Olhos Azuis
Fábio Nin, Violão e Arranjos
Violonista, arranjador e guitarrista flamenco. Mestre em musicologia histórica UFRJ e bacharel em violão clássico Uni-Rio. Recebeu o Prêmio Shell de teatro 2008 (melhor música) por “É Samba Na Veia, É Candeia”. Indicado aos prêmios Contigo de Teatro. Membro e cofundador do Tira Poeira, grupo com 2 aclamados CDs e indicado aos prêmios TIM e RivalBR. Atualmente integra a Camerata de Violões e a banda de Armandinho Macedo. Compôs a trilha sonora original do longa documentário Proibido Nascer no Paraíso, lançado em 2021. Participou de diversas peças teatrais como músico e/ou diretor musical,
e gravou diversos CDs e DVDs. Foi membro da banda de Ney Matogrosso. Em sua carreira, dividiu palcos ou estúdios com artistas como Maria Bethânia, Moraes Moreira, Lenine, Chico César, Zé Ramalho, Cassia Eller, Zélia Duncan, Beth Carvalho, Wagner Tiso, Teresa Cristina, Duo Gisbranco, Paulo Moura, Carlos Malta, Marco Pereira, Alessandra Maestrini, Marília Pêra, Marcos Suzano, José Mauro Brant.
Moisés Santos. Clarinete e Clarone – Bacharel em clarineta, formado pela UFRJ Atualmente integra a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Estado do Rio de Janeiro e a Orquestra Filarmônica do RJ. Participou em diversas orquestras, como Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Amazonas Filarmônica, Orquestra Petrobrás Pró Música e Orquestra Sinfônica Nacional. Recebeu duas Moções Honrosas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelas
atividades musicais. Em sua trajetória atuou em prestigiosas salas de concerto do Brasil, também como solista.
Tony Botelho. Baixo Acústico – Com sólida formação clássica e popular, iniciou sua carreira em 1973, tocando com Johnny Alf e Lúcio Alves. Pouco depois, fez parte do grupo “A Fina Flor do Samba”, dedicado ao choro e samba de raiz. Com este grupo, acompanhou a cantora Beth Carvalho por dois anos. Em 1977 ingressou na Orquestra do Teatro Municipal, mas em 1979 foi convidado para assumir o posto de primeiro contrabaixo da Orquestra do Teatro Nacional em Brasília, pelo grande maestro e compositor Cláudio Santoro, onde permaneceu por 12 anos. Em 1991 mudou-se para Londres, onde viveu por cinco anos e depois no México. De volta ao Brasil, passa a fazer parte do quadro das Orquestras Petrobras Sinfônica e Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Como músico popular, tem atuado em shows e gravações com Paulo Moura, Gilberto Gil, Marco Pereira, Mauro Senise e Carlos Malta