Restart e o seu som colorido e alegre

Diário Carioca

A banda Restart foi criada há menos de dois anos. Nesse curto período, lançou um disco de inéditas e emplacou a música “Recomeçar” entre as mais executadas nas rádios pop/rock e no TOP 10 da MTV. Mas o principal feito da banda foi ter lançado uma nova moda entre os adolescentes.

Desde que começaram a se apresentar com roupas multicoloridas, é cada vez maior o número de jovens nas grandes cidades que passaram a adotar não só o estilo, mas também o corte de cabelo navalhado e alisado usado pelos músicos Pe Lu, Pe Lanza, Koba e Thominhas.

Segundo Pe Lu, a banda pode ser classificada como happy rock. E, de certa maneira, surgiu para substituir a melancolia e os trajes majoritariamente preto dos emos, tribo que viu alguns de seus integrantes deixando a depressão de lado em troca da diversão e das mensagens positivas contidas nas letras tanto da Restart quanto da Cine (outra banda que segue a mesma linha, mas com elementos eletrônicos no som).

O sucesso repentino rendeu à banda contrato com a Maynard Music, que gerencia sua carreira. E como o visual da Restart é algo que conquistou os adolescentes, a banda logo lançou uma loja virtual para suprir a carência de peças nesses moldes nas lojas brasileiras. A seguir, o guitarrista/vocalista Pe Lu comenta o êxito da banda no cenário rock e anuncia que em breve podem se lançar em uma carreira internacional.

JR Vital: Vocês são jovens, mas já têm um tempo de estrada. Desde quando vocês tocam juntos e quando foi formada a Restart?

Pe Lu: A Restart foi formada há um ano e meio (talvez um pouco menos ou um pouco mais). Mas todos os integrantes se conhecem desde os 12 ou 13 anos, quando estávamos na sexta ou quinta série do ensino fundamental. Desde essa época que a gente toca junto. Tudo começou como uma brincadeira de pegar o violão e tocar no intervalo das aulas. Depois, começamos a ensaiar. E nesses seis ou sete anos que nos conhecemos, tivemos outras bandas. Às vezes, todos integrantes da Restart participavam da formação. Em outras oportunidades, entrava uma pessoa diferente e saía alguém. Já o surgimento da Restart aconteceu quando estava me formando no colegial e o resto dos meninos (Koba, Pe Lanza e Thominhas) – que são todos um ano mais jovens do que eu – estavam entrando no terceiro ano do ensino médio. Então, nós estávamos vivendo aquela pressão de fazer um cursinho, entrar na faculdade. Vivíamos pilhados para escolher uma profissão e começar a trabalhar. Nos juntamos e chegamos à conclusão de que gostávamos de música. Foi então que decidimos juntar a “experiência” adquirida nesses anos para ver se rolava formar uma banda de uma maneira séria. E tem rolado.

Vital: Vocês tocavam que tipo de música antes?

Pe Lu: Tivemos banda de tudo quanto é estilo. Entre nossa pré adolescência e adolescência, vivemos nossa fase metaleira, na qual tocávamos Metallica e Nirvana. Quando o NX Zero estourou, tocávamos emocore e fazíamos cover de representantes mais alternativos do estilo, como o Houdini. Já tocamos de tudo. O Koba e eu estudamos música. Durante quatro anos, tocamos MPB, bossa nova, jazz e blues. Sempre executamos e curtimos todos os gêneros musicais.

Vital: Como o estilo da banda pode ser classificado?

Pe Lu: Quando a gente criou a banda, sabíamos que a galera ia rotular. Para não termos problema com isso, criamos nosso próprio rótulo: happy rock, que é o rock feliz. Porque você ouve nosso CD, assiste ao show, lê as letras e percebe que tudo é rock’n roll, mas bem pra cima. Queremos passar a mensagem de que um recomeço é possível e de que tudo vai dar certo. Não tem nada depressivo no conteúdo das letras. Por isso a gente chama de happy rock.

Vital: Quais são as influências musicais da banda?

Pe Lu: A gente brinca que a Restart é um caldeirão de influências. Dois de nós temos influência de blues, jazz e rock clássico. O Pe Lanza adora música eletrônica, drum’n bass, psy, etc. O Thominhas gosta muito de reggae e já tocou em bandas do gênero. Daí você me pergunta o que isso tem a ver? No hora de compor, todas as memórias musicais aparecem de alguma maneira. Seja na pegada da guitarra ou em um dedilhado. Temos influência de artistas como John Mayer, Aerosmith, Guns’n Roses e algumas coisas mais recentes, como All Time Low e Cobra Starship.

Vital: Como foi criada a identidade visual colorida da banda?

Pe Lu: O lance do visual surgiu de uma maneira natural. Não montamos uma boy band e nem pensamos “vamos fazer esse som e vestir essas roupas porque vai dar certo”. Fomos fazer um show qualquer e alguém tocou com uma calça azul. Daí assistimos em vídeo e percebemos que essa tonalidade deu um destaque bacana no palco. Pensamos em fazer uma sessão de fotos com essa temática policromática. Fizemos isso em um fundo branco com calças e camisetas coloridas – sempre destacando os óculos do Pe Lanza, que é sua marca registrada. Conferimos o resultado e achamos bacana. Nos sentimos bem com essas roupas e passamos a adotar esse estilo.

Vital: Como surgiu a ideia do Koba lançar uma loja virtual com as roupas e acessórios usados pelos integrantes do Restart?

Pe Lu: Koba é nosso designer, estilista e desenhista. A ideia da Restart Shop surgiu para deixar mais acessível para os fãs o tipo de roupa que a gente veste. Quando começamos a nos vestir assim, tínhamos que importar as peças. Sempre custava muito caro. Quando alguma marca nacional fazia, saía R$ 500 uma calça e R$ 300 uma camiseta. Notamos que a galera tava a fim de se vestir igual a nós, mas não tinha condições de adquirir as roupas. Criar a Restart Shop foi a maneira que encontramos para que as roupas que usamos ficassem mais acessíveis. Jamais pensamos em ganhar dinheiro com a moda.

Vital: O evento Happy Rock Sunday (que acontece mensalmente no HSBC Brasil, em São Paulo) pode se transformar em um festival, reunindo bandas do mesmo estilo para tocar junto de vocês?

Pe Lu: A gente começou o evento sem muitas pretensões. E tudo foi muito arriscado, porque o HSBC é uma casa grande. Mas até agora tem sido um Visto Livre: . O formato atual é um DJ abrindo e a banda fechando. Quando acharmos que o DJ já não é mais tão importante, poderemos substituí-lo por uma banda de abertura. Trata-se de uma festa da Restart. Somos amigos de grupos como a Hori, Hevo 84 e Cine. Se o evento continuar rolando legal, com certeza devemos convidá-los para dividir o palco.

Vital: Voltando ao assunto anterior, a Restart planeja montar um ponto físico para vender as roupas da loja virtual?

Pe Lu: É uma boa ideia. Criamos o espaço virtual primeiro porque fica mais fácil para começar. A Restart Shop era para ser só uma lojinha virtual para vender alguns artigos e já virou uma marca de roupas. Conseguir controlar vendas e estoque dá um trabalho absurdo. Tanto que temos o pessoal da Banda Up que faz isso para nós. Abrir uma loja física é um passo gigante. Acho que nesse momento de divulgação de CD e de organização do Happy Rock Sunday – evento que pretendemos realizar uma vez por mês – já nos toma bastante tempo. A gente não quer abrir uma “lojinha”. Quando formos dar esse passo, tem que ser uma loja legal, com conteúdo bacana e que se assemelhe à proposta da banda.

Vital: Hoje, a Restart costuma fazer mais shows sozinhos ou em festivais?

Pe Lu: Estamos fazendo uma média de 12 shows por mês. Temos encabeçado alguns shows e participado de alguns festivais com outras bandas. Vivemos um momento musical em que há várias bandas legais no Brasil. Existe espaço para todo mundo. Recentemente, tocamos em um festival na cidade de São Caetano do Sul (SP) com a Hori e com a Stevens que reuniu seis ou sete mil pessoas. Ao mesmo tempo, tocamos no interior sozinhos e garantimos um público de três a quatro mil pessoas. Alguns domingos atrás, nos apresentamos no Aramaçan, em Santo André (SP), junto com a Fresno. Já tocamos em vários capitais também. Curitiba é um lugar que nos recebe muito bem. Fomos para o Nordeste e foi sensacional. Isso é um marco na história da banda. Porque, além da região ser distante, é dispendioso para o contratante arcar com todos os gastos. Nos apresentamos em Fortaleza e Recife. E nas duas ocasiões, recebemos mil pessoas nos shows. Pode parecer pouco, mas pra quem conhece o Nordeste, sabe que isso é uma vitória. Em junho, vamos voltar e tocar em Salvador.

Vital: Conte-me casos de histeria por parte das fãs.

Pe Lu: Acontece muito isso. Nossas fãs são as melhores. A histeria que rola é parecida com a que acontecia com o Backstreet Boys ou – mal comparando – com os Beatles. As minas gritam, puxam a roupa e o cabelo. Mas tudo é carinhoso. Às vezes, a maneira da pessoa chamar a atenção é gritando ou nos apertando. Alguns casos são engraçados. Uma vez, uma menina pegou o Pe Lanza e o grudou na parede, enchendo seu rosto de tapas na sequencia. A garota estava em choque, mas foi o jeito que ela encontrou para colocar suas emoções para fora. Outro dia, estávamos comentando como as meninas e os meninos choram nos shows. Já teve moleque que entrou no camarim, chorou e ficou emocionado junto com a gente. É essa a galera que pede nosso clipe na MTV e nossa música na rádio. Do primeiro pro segundo single, é um absurdo comparar o quanto a banda cresceu. Os meios de comunicação nos aceitam por causa dessa galera e do clamor popular. De tanto que os fãs enchem o saco e pedem nosso show, podemos excursionar o Brasil todo. Hoje, temos fã-clube até no México e na Argentina. Muita gente nos pergunta se essa histeria não é chata ou se passa dos limites. Acho demais de legal. Sem essas meninas e meninos não estaríamos aqui.

Vital: Você citou fã-clubes do exterior e eu aproveito para perguntar se vocês pensam em iniciar uma carreira internacional?

Pe Lu: Com certeza. A gente tem essa ideia. O problema é que português não é uma língua universal. Para atingir o Visto Livre: lá fora, temos que cantar em inglês ou espanhol. Por conta disso que os artistas americanos rodam o mundo, porque cantam em uma língua em que todos são obrigados a aprender. Ainda estamos começando a ter Visto Livre: no Brasil. Tudo tem seu tempo. Não é porque enchemos o HSBC Brasil uma vez que podemos nos lançar nos Estados Unidos. Temos que criar uma base de fãs aqui no Brasil primeiro. No momento certo, podemos fazer voos mais altos. A intenção é obter uma carreira internacional voltada para o público estrangeiro. Brincamos que a nossa meta é tocar no Tokyo Dome. Acredito nisso, de verdade.

Vital: Ter a imagem da banda veiculada em clipes na MTV ajudou para que a Restart fizesse sucesso?

Pe Lu: Claro. TV aberta é TV aberta. A galera tá assistindo a gente lá e quanto mais é veiculado, mais gente conhece nossa imagem. Com o clipe de “Recomeçar”, ficamos em primeiro lugar no TOP 10 da MTV por vários dias. Isso disputando posições com a Lady Gaga. Uma concorrência internacional! Sem contar que vencemos o Justin Bieber várias vezes nesse programa. E olha que esse moleque tá muito bem cotado. Nosso segundo clipe oficial, “Te Levo Comigo”, deve estrear em breve e deve ficar bem posicionado, porque os fãs estão fazendo uma puta campanha para isso. A MTV é um canal que tem tudo a ver com nossos admiradores. A faixa etária que ela abrange é a mesma dos fãs da Restart. Desde quando o Michael Jackson produziu os primeiros grandes vídeo clipes, essa mídia nunca deixou de ser importante. O artista que pensa o contrário é meio burro. Porque quem faz música pop tem que saber que o visual anda lado a lado com a música. Isso é um padrão. Não podemos fazer um video clipe de qualquer forma, ainda mais com o YouTube reproduzindo o resultado para quem quiser ver. É importante fazer um vídeo legal. Um exemplo disso é aquele video de uma banda que fazia coreografias em esteiras. Não lembro o nome da banda (nota do repórter: a banda é o Ok Go e a música, “Here It Goes Again”), mas as imagens foram marcantes e até hoje ninguém esqueceu do vídeo. A ideia, filmada apenas com uma câmera, marcou.

Vital: Os críticos de rock tem um certo ranço do “movimento emocore/happy rock” e ouvem as bandas com má vontade ou nem ouvem para criticar. Mas o movimento é legítimo e pode ser equiparado com o BRock da década de 1980 ou com a leva que surgiu nos 1990. Porque você acha que há essa má vontade por parte da imprensa nacional?

Pe Lu: Quando eu não tinha banda, percebia que sempre acontecia algo semelhante quando surgia uma banda nova. A crítica é importante, desde que seja construtiva. A crítica pela crítica não conta. Só porque a banda é nova e o público é formado por “menininhas”, isso não anula nosso valor. Tem cara que fala mal sem antes ouvir o CD. Eu nem me daria ao trabalho de ler uma crítica feita assim. Quando a crítica tem algo a acrescentar, acho bacana. Eu sempre vi artistas dizendo que não fazem música para crítico. Antes, achava isso prepotente. Mas hoje, percebo que é a realidade. Quando estou no meu quarto compondo, não penso se o cara da revista X vai achar o acorde ou a letra muito clichês. Quando é feito com sinceridade, é o que vale. Se você ouvir nosso CD, pode não ser um puta tratado musical, mas internamente tem muita musicalidade, nossa verdade, nossa sinceridade e o que a gente sabe fazer. Isso que é bacana e faz a galera curtir. Se a crítica não aceitar agora e só aceitar depois – ou se nunca aceitar – é chato. Não querendo comparar, mas a crítica demorou dez anos para entender os Beatles e os Rolling Stones. No Brasil, aconteceu o mesmo com NX Zero, com o Skank… A crítica tem tendência em achar tudo ruim. Mas eu entendo de música e se um dia precisar debater com um jornalista, terei armas para concordar ou não com ele. E eu também não vi muitos críticos falando tão mal da gente. Nunca li uma resenha dizendo que nossa música é uma merda, um lixo.

Vital: Mas a questão não é bem essa. E sim a falta de legitimação do movimento por parte da crítica.

Pe Lu: Todo mundo do meio de jornalismo musical tem uma preocupação com essa leva de bandas do mesmo estilo que tem aparecido. De todas essas, só algumas vão ficar. Mas tudo está muito no começo. Está se criando um movimento. E assim como em outros movimentos representativos que surgiram, as pessoas envolvidas não tinham consciência de que estivessem participando disso. Mas ninguém de fora tem direito de dizer se é ou não um movimento. Vamos saber disso daqui há dez anos. O pessoal dos anos 1990 é reconhecido só hoje. Não estamos nessa para salvar o rock. Estamos aqui para fazer nosso som e é isso. Se a pessoa achar muito legal, vou achar legal também. Se o cara achar que é uma merda, que isso não é rock e sim uma boy band, tudo bem. Cada um tem sua opinião.

Vital: Os fãs da Restart têm um comportamento de rivalidade contra fãs do Cine?

Pe Lu: Um exemplo. Quando surgiram o NX Zero e a Fresno. Os integrantes das bandas são amigos, mas quando ambas apareceram, surgiu uma rivalidade por parte dos fãs que – na verdade – é algo que nunca existiu por parte das bandas. Acontece também entre nós e a Cine. Sempre nos perguntam se existe uma rivalidade. Nada a ver isso. Quanto mais bandas aparecerem para fazerem um som e obterem espaço, melhor. Para a Restart, é bom que exista o Cine e vice-versa. Por exemplo: não podemos tocar todas as semanas em Goiânia. Então, um mês, se apresenta a Restart e no outro, a Cine. E depois vamos juntos. São bandas boas, assim como a Hori. Sempre rolam comentários de que somos filhinhos de papai e que fomos encaixados dentro das gravadoras e na cena. Lutamos e saímos do mesmo buraco. Todo mundo batalhou junto ou separado. E hoje estamos engatinhando para entrar numa rádio ou ter matéria numa revista. Mas o fã tem a tendência de gostar de um artista e falar mal do outro. O cara pode gostar muito do Cine e no iPod ouve Restart escondido. E vice-versa. Mas isso com o amadurecimento vai passando. Existe espaço e público para todo mundo. Se aparecer mais 30 bandas parecidas com a Restart, melhor para fortalecer essa geração.

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