Quando questionado sobre o que o bairro de Santa Teresa representa para ele, Mello Menezes diz “é um poético e bucólico lugar para se morar…”
Essa relação afetiva poderá ser conferida por quem passar pelo bairro, mais precisamente na rua Almirante Alexandrino, onde no dia 18 de setembro será inaugurado o projeto de arte urbana, com patrocínio da SECEC-RJ – Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro feito pelo renomado artista de 84 anos. O painel de 5 x 20 metros, está sendo feito com tinta acrílica, pincel e spray e Mello conta com a colaboração de Cynthia Aith, professora e grafiteira, e Clara Menezes, filha dele que herdou o gosto pelo design e programação visual. Eles se juntaram para desenvolver “O Amor, a perda e a dor”, projeto originalmente criado para apresentar em grande formato, no espaço público, o trabalho desse artista de Santa Teresa, bairro artístico e turístico do Rio de Janeiro. Mello Menezes mostra sua vida e obra simbolizada por uma arte que contém um grafismo que esta há mais de 60 anos presente na maioria de suas pinturas e ilustrações.
Através das mãos e olhares de um mestre das artes plásticas e de duas jovens artistas está sendo impresso no muro localizado na Rua Almirante Alexandrino, no tradicional bairro, as recordações escondidas por trás de paredes. “ Vamos tirar o véu e jogar tintas para o mundo ver”, afirma Mello. O público, moradores e turistas que circulam pelo bairro, num ir e vir incessante, ávidos por arte, vão ter a oportunidade de conhecer esse grupo de artistas ao se depararem com uma grande obra de arte que ficará exposta no muro da esquina da Rua Julio Otoni com Almirante Alexandrino, no percurso dos tradicionais bondinhos que circulam pelo bairro levando moradores e turistas em direções diversas.
O conceito artístico, a história por trás da obra a ser apresentada, mostra como nasce uma arte: “aos oito anos, fui com o meu irmão mais velho a uma festa num casarão antigo. Tímido, fiquei sentado na grama do jardim, enquanto o mano festejava com as moças lá dentro. Uma moça, em seus 18 anos recentes, veio ao meu encontro com um sorriso encantador. Ao sentar ao seu lado, desequilibrou-se, e num “flash”, apareceram suas coxas brancas. Ela se compôs, pegou a maçã que trazia, partiu-a e me ofereceu a metade: – Aceita? Comemos em silêncio. Eu, levantando o olhar de vez em quando, encontrava um olhar terno e sorridente. Foi o bastante para começar a me apaixonar perdidamente. Estava tomando coragem para falar, quando subitamente, ela se levanta, faz um afago no meu cabelo e some na paisagem”, narra o artista. Esse garoto nunca mais se esqueceu daquele momento, da metade da maçã e das coxas brancas. O tempo desenhou uma criança na metade dessa maçã, simbolizando a passagem do tempo, o amor, a perda e a dor. Esse grafismo estará para sempre presente em alguns temas de suas pinturas.
Questionado sobre a diferença entre esse trabalho artístico e o de um grafiteiro, Mello explica a diferença: “O grafite, geralmente, é pintado com o spray. Os murais, que faço há 50 anos, vem de uma época que não existia o computador, nem o spray. Sempre trabalhei com tinta a óleo. Quanto aos temas, sempre houve a beleza e o caos, mas, hoje em dia, acho que estão mais conscientes e caóticos. Sinto um pouco a falta da beleza.”
De 30 de setembro a 14 de outubro serão realizadas oficinas com as crianças da Escola Casarão em Santa Teresa, localizado no Morro dos Prazeres. Os artistas vão conversar com os alunos, apresentando o trabalho e levando as crianças a realizarem desenhos no papel, com algum tema proposto. Ao final da apresentação, os artistas vão recolher esses trabalhos e levar para a montagem de um painel que será desenhado na parede da escola.
Exposição “Impressões de Santa Teresa” – Abertura – sábado – 24/9
A exposição “Impressões de Santa Teresa”, também conta com o patrocínio da SECEC-RJ – Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, e será inaugurada no Parque das Ruínas, no mesmo bairro, no dia 24 de setembro. Mello Menezes propõe uma imersão por Santa Teresa, em um breve passeio pelo bairro que escolheu para viver, materializando histórias em 13 quadros que revelam percepções de uma vida inteira dedicada à arte. Na primeira parte da exposição, o público irá vivenciar, através de 7 quadros, um pouco da Santa Teresa dos artistas, dos boêmios, do Rio de Janeiro, assim percebida pelo artista: “no século dezoito, o canto triste de escravos e baleias ligaram as argamassas e começaram a esculpir a beleza do Aqueduto da Carioca. Pelo seu leito passaram as águas encanadas do rio Carioca e foram matar a sede de dezesseis bicas de bronze na cidade. As águas passadas se transformaram em ferros e no leito dos Arcos, onde bondinhos amarelos começaram a passar como passarinhos.” Na segunda parte, em 6 quadros, o artista transforma em arte a troca dos trilhos do bondinho de Santa Teresa, que teve a sua primeira etapa concluída em março de 2019. Num ritual frenético, as máquinas e os homens foram revelando plasticidades e composições estéticas que inspiraram pinturas e divagações poéticas”, explica Mello.
Exposição: Impressões de Santa Teresa
Entrada gratuita
Data: 24/09 até 20/11
Dias: quinta a domingo
Horário: 09h às 16h
Endereço: Rua Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa
Telefone: 21 2215-0621
E como, pouco trabalho não é com Mello, ele vai inaugurar ainda esse ano o busto feito em homenagem ao amigo Aldir Blanc, uma amizade de 58 anos, segundo ele. O convite foi feito pela própria família de Aldir. O Prefeito Eduardo Paes, através da Diretoria Seconserva da Prefeitura, assim se expressou sobre a homenagem ao compositor Aldir Blanc: -Façam o desejo da família! “a família do Aldir me convidou, então, para pensar em compo poderia ser feita essa homenagem. No tempo de dois meses e quinze dias, criei o conjunto escultórico composto de dois totens em concreto armado, no formato de embriões que germinam – um como suporte do meio busto do poeta- e outro como suporte para o texto poesia do escritor convidado Luiz Pimentel, que trabalhou com Aldir no extinto jornal “Pasquim”, para que as futuras gerações saibam quem foi o escritor, compositor, poeta, cantor, e carismático Aldir Blanc. A intenção de ser uma escultura em bronze, é para que seja uma homenagem perene, que vai permanecer no tempo”, explica.
Sobre Mello Menezes:
Mello Menezes como pintor e artista plástico, realizou seis grandes exposições no Rio de Janeiro; como escultor, sua primeira obra é a escultura do busto do grande artista Aldir Blanc, que será exposta em breve na região da Muda, onde o saudoso compositor morava; como ilustrador, imprimiu sua marca na música brasileira quando criou capas de discos de artistas, como Tom Jobim, Aldir Blanc, João Bosco, Guinga, Clementina de Jesus e Moacyr Luz. Também como ilustrador deu vida às marcas de empresas como Coca-Cola, Brahma, IBM e O Globo. No cinema e na TV, criou as aberturas das novelas Gabriela (2012), Velho Chico (2016) e Saramandaia (2013), da TV Globo, e Mandacaru, da TV Manchete. Criou os cartazes de divulgação de filmes, como “Morte e Vida Severina” e “Quem Matou Pacifico”. Iniciou-se como muralista no final da década de 70, onde criou e supervisionou a produção de 25 painéis localizados nos postos de salvamento das praias do Rio de Janeiro