Sonia Gouveia investiga, através da fotografia, a relação entre arquitetura, solidão e as grandes cidades. Fotógrafa apresenta as séries inéditas “Plateia Vazia” e “Torres de Observação” na Icon Artes Galeria.
Foto: Sonia Gouveia A arquitetura, as formas como entendemos (e utilizamos) o espaço comum e nos organizamos coletivamente ajudam a nos entendermos não só enquanto sociedade, mas também como indivíduos. Essas questões são particularmente instigantes para Sonia Gouveia, fotógrafa, arquiteta e urbanista.
Seu olhar está sempre em busca do que está visível e também daquilo que se esconde enquanto metáfora, símbolo, como mostram as imagens de suas duas séries mais recentes, as inéditas “Plateia Vazia” e “Torres de Observação”, que partem do espaço físico para falar de temas profundos, como solidão. Imagens desses novos trabalhos estarão presentes na 8ª edição da mostra coletiva “Fotografia Arte Plural”, aberta ao público a partir do dia 4 de fevereiro, na Icon Artes Galeria, no Rio de Janeiro.
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP, Sonia Gouveia tem aprofundado sua poética enquanto artista visual, com uma produção questionadora e sensível. Mais do que a paisagem em si, interessa a ela perceber as possibilidades de abstração do que está diante de sua lente. Foi assim, por exemplo, que nasceram as fotografias da série “Plateia Vazia”. Durante uma viagem, ela começou a registrar arquibancadas vazias e, para além do efeito estético daquelas estruturas, a fotógrafa percebeu estar diante de uma reflexão sobre o convívio e sua ausência.
“Esses espaços foram pensados para a concentração de pessoas, para exercitar a experiência coletiva, do convívio. Registrar esses espaços vazios me remeteu às dinâmicas dos tempos pandêmicos, nos quais a reunião física foi impossibilitada, e também a uma discussão mais intangível, que é a da transferência da experiência coletiva do mundo físico para o digital. Os espaços coletivos quase se transformaram em um cenário, uma cenografia para o digital. Também podemos pensar na solidão de uma forma mais ampla, que é a de, mesmo na multidão, se sentir isolado”, explica Sonia.
Esse sentimento de isolamento também permeia as imagens de “Torres de Observação”, série que, a partir de registros de arranha-céus, provoca o espectador a pensar na despersonalização dos centros urbanos e das relações interpessoais. O rigor geométrico, com composições que apresentam repetições das estruturas dos prédios, conecta-se com os padrões dos vazios de “Plateia Vazia”.
“Em ‘Torres de Observação’, lembrei dos conceitos de flâneur, de Charles Baudelaire, que descreve aquela pessoa que anda pela cidade para experimentá-la, conectando-se diretamente com a experiência urbana, e do voyeur. Nessa série, o voyeur está despido de qualquer conotação sexual, ligando-se ao ato de observar as pessoas, com a característica-chave do distanciamento, em que o sujeito não interage com o objeto. Estamos diante de uma transição: o abandono do flâneur para ascensão do voyeur, e as torres ilustram essa passagem, caracterizando essa limitação de interações reais”, reforça.
Na exposição “Fotografia Arte Plural”, Sonia apresentará três imagens dessas séries mais recentes, que atualmente encontram-se em fase de produção/expansão, com a fotógrafa ainda se debruçando sobre as temáticas.
SERVIÇO
Local: Icon Artes Galeria (Térreo da Fábrica Bhering – Rua Orestes, 28, Santo Cristo, Rio de Janeiro)
Abertura: 4 de fevereiro, às 15h30
Visitação: de 9 de fevereiro a 11 de março (de quinta a sábado, das 15h às 19h)
Entrada gratuita