As Crias reflete sobre relacionamento entre filhos e mães empregadas domésticas

Diário Carioca

Com inspirações no clássico As Criadas (1947), de Jean Genet; na experiência documental dos intérpretes filhos de empregadas domésticas, além dos noticiários, As Crias faz uma temporada online com apresentações nos dias 28, 29 e 30 de abril, quarta à sexta, sempre com três sessões por dia: 20h, 20h30 e 21h. A direção é de Jaoa de Mello e a dramaturgia de Beatriz Nauali, o elenco é formado por Éder Augusto, Maria Rosa e Paloma Rodrigues. As apresentações são gratuitas, é só retirar os ingressos pelo Sympla e assistir pelo YouTube. Essa é mais uma produção da Romã Atômica.

Na trama, duas mulheres saem de suas casas diariamente para cuidar da casa de uma terceira, a patroa. E durante suas tarefas diárias fantasiam uma outra vida. Permeando entre o real e o devaneio, as crias destas criadas estudam possibilidades de insurgência e de tornar as vozes de suas mães audíveis. Os filhos planejam a hora do chá na tentativa de compreensão da raiva, da solidão, da alteridade e das formas de mudar as relações perpetuadas desde os tempos das sinhás.

“Durante o processo de construção do espetáculo cada ator pesquisou a própria arqueologia familiar, pois eles são filhos de mães domésticas. Essa relação de saudade, o esforço que essas mulheres fizeram para criar seus filhos está inserida nos intérpretes. Casos como a morte do menino Miguel que ocorreu em 2020, que caiu do prédio de luxo em que sua mãe trabalhava em Recife; aquelas notícias de pessoas encontradas vivendo em situações análoga à escravidão; a peça de Jean Genet. Tudo serviu como dispositivos para a criação”, conta Jaoa de Mello.

Beatriz Nauali contou todo o percurso para criar a estrutura do texto, que foi um processo colaborativo, onde ela criou a base e foi preenchendo com os atores por meio de um jogo de cena entre eles a partir de uma pesquisa de uma série de materiais.

“Procuramos verificar a relação de subalternidade e opressão que ocorrem entre patroa e empregada; as consequências das profissões dessas mães e as sequelas em seus filhos, como afetava o convívio e a criação deles. É uma situação extremamente complexa no contexto em que vivemos, existe uma questão de racismo estrutural, herdada ainda na época da escravidão no Brasil. Tivemos contato com outras obras como o livro Diário De Bitita, de Carolina Maria de Jesus, o conto O Filho de Gabriela, de Lima Barreto, o filme Que Horas Ela Volta? dirigido por Anna Muylaert. Sempre pesquisamos a questão da relação entre patroa e empregada. Os próprios atores entrevistaram suas mães perguntando vários aspectos e assuntos da época. Ou seja, descobrimos um lugar entre realidade e ficção ao estruturar a dramaturgia”.

Outras referências visuais são o trabalho da performer Ntando Cele, que foi da primeira geração de crianças negras sul-africanas a entrar na escola dos brancos; Deana Lawson que tem como mote fotografias de mulheres negras; além de outras artistas visuais como a sul-africana Lebohang Kganye e a brasileira Barbara Wagner.

“Esse projeto foi uma forma de escutar vozes que foram por muito tempo reprimidas, e ainda são. As empregadas domésticas são a base da pirâmide social do Brasil e são as pessoas como maior vulnerabilidade e fragilidade. São mulheres que muitas vezes não tem como se manifestar ou serem ouvidas politicamente para que haja mudanças. A situação social e cultural em que estão inseridas refletem diretamente na relação com os filhos e a família. A maioria esmagadora é negra, o que dita o padrão na hora de estabelecer quem são as empregadas”, finaliza Beatriz.

FICHA TÉCNICA | As Crias

Direção de produção: Amara Hartmann. Produção executiva: Matheus Jeronimo. Direção: Jaoa de Mello. Dramaturgista: Beatriz Nauali. Elenco: Éder Augusto, Maria Rosa e Paloma Rodrigues. Direção de Arte: Lennin Modesto. Trilha Sonora: Yugo Sano Mani. Edição: Leonardo Souzza. Ilustração e Design Gráfico: Maria Carvalho. Assessoria de Imprensa: Renato Fernandes.

SERVIÇO

As Crias

Dias 28, 29 e 30 de abril, quarta à sexta, sempre com três sessões por dia: 20h, 20h30 e 21h

Link: https://www.sympla.com.br/crias__1183397

Duração: 30 minutos

Classificação: 10 anos

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca