O Rio não corre mais risco de perder o principal teatro da Zona Sul e patrimônio cultural e histórico da cidade. O teatro garantiu sua permanência com a renovação da cessão de uso assinada pela Secretária Estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros.
“O Governo do Estado sabe da importância histórica e cultural do Teatro Casa Grande para a sociedade. Assinar o termo que garante o seu funcionamento, cumprindo a legislação estadual que autoriza a nova cessão, é fruto do diálogo, da parceria estabelecida e do entendimento de que a cultura é uma pauta prioritária”, disse Danielle Barros
“É uma vitória do Rio, do Estado e do Brasil”, comemorou Moysés Ajhaemblat, de 86 anos, que fundou o teatro junto com Max Haus nos anos 60, quando o Leblon ainda era uma área praticamente desabitada.
No início de 2020, artistas, intelectuais, políticos e sociedade civil se manifestaram em favor da preservação do espaço onde funciona o Casa Grande participando de ato público, que terminou com um simbólico abraço ao teatro. Milhares de pessoas também assinaram manifesto em defesa do Casa Grande e da cultura. A Assembleia Legislativa também saiu em defesa do teatro e votou autorização para que o governo renovasse a Cessão, considerando a importância do Casa Grande para a cultura e a história do Rio.
“O Teatro Casa Grande é um ícone da cultura carioca e tempo da nossa Democracia, palco de resistência dos direitos civis e da liberdade de expressão. Feliz de saber que, de alguma forma, contribui para manter esse patrimônio de todos os brasileiros em boas mãos”, declarou o deputado André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa do Rio.
O Teatro Casa Grande faz parte da vida cultural e política do Rio. É um patrimônio da cidade. Inaugurado em 1966 com o nome de Café Teatro Casa Grande, apresentou, em mais de cinco décadas de atividade ininterrupta, os mais importantes espetáculos artísticos montados no Rio.
A lista é enorme, mas pode-se destacar a primeira montagem do musical Brasileiro, Profissão Esperança, com Maria Bethânia e Ítalo Rossi, e direção de Bibi Ferreira, em 1970, A Noviça Rebelde, Hairspray, A Gaiola das Loucas, Hamlet, Um Violinista no Telhado e tantos outros. O Mistério de Irma Vap, com Marco Nanini e Ney Latorraca, estreou e fez história nos palcos do Casa Grande como a peça que mais tempo ficou em cartaz no país, recorde devidamente registrado no Guinness.
Na relação de shows, entram os maiores nomes da música brasileira: gente como Nara Leão, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque, Gal Costa, Martinho da Vila, Vinícius de Moraes, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Novos Baianos, Baden Powell, Família Caymmi, entre outros. E o campeão de temporadas, Miguel Falabella, por ser até hoje o recordista da Casa, numa sequência de sucessos, tais como: Como Encher um Biquíni Selvagem; Louro Alto Solteiro Procura; Hairspray; A Gaiola das Loucas; Hello Dolly; Memórias de um Gigolô; God; A Mentira, atuando como ator, produtor, autor e diretor.
“Tenho longa e amorosa relação com o Teatro Casa Grande. Passei muitos anos de minha vida naquele palco. Ali residem minhas mais caras lembranças e grande parte da minha carreira. É uma honra fazer parte dessa história” afirmou Falabella.
Além da expressão artística, o Casa Grande sempre foi palco de grandes debates políticos e um mobilizador em defesa das liberdades políticas e sociais. Não por acaso, foi no Casa Grande a assinatura do ato que assinalou o fim da censura no Brasil, marco de uma história que valeu ao teatro o título de “Território livre da democracia”, hoje estampado em seu foyer. Uma casa cuja relevância histórica e cultural levou ao tombamento como bem imaterial pelo estado e pelo município do Rio