O Balcão entra em cartaz em Copacabana

Diário Carioca

“O Balcão”, uma das obras-primas do brilhante e controverso francês Jean Genet (1910-1986), estreia dia 7 de julho no Teatro Arena do Sesc Copacabana.

É a primeira encenação profissional no Rio de Janeiro após a emblemática produção de Ruth Escobar, dirigida por Victor García, em São Paulo. Com direção de Renato Carrera, a nova montagem instiga uma reflexão acerca da sociedade contemporânea, com foco nas questões de representação, aparência e imagem. As apresentações vão até 31 de julho, de quinta a domingo.

“O Balcão” se passa numa casa de prostituição onde os homens assumem suas fantasias a partir de estranhos e perversos jogos sexuais, encarnando as principais instituições de poder: a Igreja, a Justiça, a Força Militar e a Polícia. Enquanto isso, uma rebelião popular acontece nas ruas, ameaçando a estabilidade social. Escrita em 1956, a peça expõe, com implacável lucidez, a lógica perversa das instituições da sociedade burguesa.

“O Balcão tem um diálogo estreito com o nosso tempo. Somos monitorados por câmeras o tempo inteiro. Nossas vidas são reguladas pela imagem que postamos nas redes sociais. Quem somos? O que queremos ser? Propomos uma reflexão sobre nossa sociedade, construída a partir de imagens falsas, onde o indivíduo se mostra feliz e livre, apesar da dor e da pobreza existentes em um país extremamente desigual, onde não sabemos mais quem nos comanda e em quais instituições de poder podemos confiar. Genet nos desestrutura para podermos avançar e questionar o que já está estabelecido”, diz Renato Carrera, um dos responsáveis pela idealização da nova montagem, ao lado de Alexandre Barros e Carmen Frenzel. Eles iniciaram as pesquisas de “O Balcão” em 2019. Em 2021, lançaram o espetáculo online “Por Detrás de O Balcão”, recentemente indicado ao Prêmio APTR de Ator Jovem Talento pelo trabalho do ator Yumo Apurinã. Agora seguem a parceria com a montagem presencial do espetáculo.

Em cena estão dez atores: Alexandre Barros, Andreza Bittencourt, Carmen Frenzel, Fernanda Sal, Ivson Rainero, Jean Marcel Gatti, José Karini, Lucas Oradovschi, Ricardo Lopes e Yumo Apurinã. 

SINOPSE 

O Balcão, de Jean Genet, é ambientado em uma grande casa de prostituição de luxo frequentada por bispos, juízes, militares, policiais e políticos, servindo de metáfora para os bastidores da atual sociedade brasileira. Enquanto uma revolução ameaça tomar conta do reino, fregueses do bordel, o Grande Balcão, satisfazem suas mais secretas fantasias de sexo e poder, representando as figuras que compõem a mitologia da sociedade e que são responsáveis pela ordem estabelecida.

Irma é a dona do Balcão, o sofisticado prostíbulo que oferece aos clientes a possibilidade de vivenciarem suas fantasias, interpretando papéis que, talvez, desejam ocupar dentro da sociedade. Suas prostitutas são uma espécie de co-participantes das “cenas”, tornando mais palpável a realização do desejo de seus clientes. Um Bispo, um Juiz e um General abençoam, julgam e cavalgam suas ilusórias manifestações através de seus desejos não sucumbidos. Porém, uma revolta está prestes a estourar. Irma teme pelos seus clientes e por seu Balcão, mantido graças ao seu bom relacionamento com o poder estabelecido. E é de dentro de sua casa que sai a traidora, Chantal, que mais tarde se tornará o símbolo da revolução.

Com a revolução chegando às portas do Balcão, cria-se a expectativa de que o jogo de papéis seja enfim destruído e a liberdade de “ser” possa finalmente retornar. Através desses jogos de opostos, com um revolucionário que deseja o papel do chefe de polícia ou a heroína que passeia com a morte, aos clientes não resta outra alternativa a não ser continuar vivenciando seus promíscuos papéis enquanto “O Balcão” se rearranja, para que as ilusões continuem ad eternum. Talvez os atores possam mudar, mas as personagens e os papéis sociais continuarão lá, sendo oferecidos para quem os desejar. A peça é de uma beleza poética e de uma ironia ácida que deixa o espectador atônito, reflexivo e, por vezes, incomodado por perceber que aqueles jogos sórdidos de fato acontecem e sempre aconteceram, com naturalidade, na vida real. 

Um paralelo com o Brasil atual nos coloca numa situação semelhante, escancarando, sem disfarces, as proezas nada fantasiosas de nossos governantes e adjacentes. Vivemos em um imenso balcão de trocas, falcatruas e imoralidades. Jean Genet, de seu lugar dolorosamente privilegiado, quebrou pactos para escancarar como ele enxerga a sociedade. Cabe a nós decidir: continuar a aceitar o papel que nos é imposto ou sermos protagonistas de nós mesmos? 

DIREÇÃO 

RENATO CARRERA foi premiado por diversos espetáculos, como “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, Prêmio Questão de Crítica 2013 como Melhor Espetáculo. Em 2016 ganhou o mesmo prêmio como Melhor Ator por “O homossexual ou a dificuldade de se expressar”, de Copi, com o Teatro de Extremos, ano em que também foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Diretor por “Abajur lilás”, de Plínio Marcos. Recebeu nesse mesmo ano todas as indicações a prêmios como ator e diretor (indicado aos prêmios Cesgranrio e APTR como Melhor Ator por “O Homossexual ou a dificuldade de se expressar”). Em 2010 dirigiu “Savana Glacial”, de Jô Bilac, Prêmio Shell de Melhor Texto. Em 2018, dirigiu “Malala, a menina que queria ir para a escola”, indicado ao Guia Folha de SP como Melhor Espetáculo Infantil do Ano, com temporadas por todo Brasil, vencedor de Melhor Produção do Prêmio CBTIJ RJ. Assinou a direção de “Gisberta” com Luis Lobianco e escreveu “Vim assim que soube”, onde também atuou, sob a direção de Marco André Nunes. O trabalho foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Trilha Sonora para Felipe Storino. No início de 2020 escreve, dirige e atua em “Ielda – Comédia trágica”, no Teatro Sesi e Petra Gold – RJ, sucesso de público e crítica. O trabalho rendeu um artigo na revista Veja Rio. Dentre seus principais trabalhos como diretor, podemos citar “Dois amores e um bicho”, de Gustavo Ott, com o grupo Clowns de Shakespeare. Como ator fez parte da Cia. Teatral do Movimento durante 10 anos (2003-2013), sob a direção de Ana Kfouri. Já participou de mais de 50 espetáculos nos seus 33 anos de carreira. 

FICHA TÉCNICA 

Texto: Jean Genet 
Idealização: Alexandre Barros, Carmen Frenzel e Renato Carrera 
Direção: Renato Carrera 
Elenco: Alexandre Barros (Juiz), Andreza Bittencourt (Carmen), Carmen Frenzel (Irma), Fernanda Sal (Mulher e Enviado), Ivson Rainero (General), Jean Marcel Gatti (Revolucionário e Escravo), José Karini (Chefe de Polícia), Lucas Oradovschi (Carrasco e Roger), Ricardo Lopes (Bispo) e Yumo Apurinã (Chantal) 
Tradução: Angela Leite Lopes 
Assistente de Direção: Jean Marcel Gatti 
Cenário e Direção de Arte: Daniel de Jesus 
Figurino: Maria Duarte 
Produção de Figurino: Márcia Pitanga 
Caracterização: Mona Magalhães
Assistente de Caracterização: Everton Cherpinski 
Iluminação: Renato Machado
Programação Visual e Vídeos-Projeções: Daniel de Jesus 
Trilha Sonora: Gustavo Benjão 
Fotografia: Sabrina da Paz 
Filmmaker: Sandro Demarco 
Assessoria de Imprensa: Júnia Azevedo (Escrita Comunicação) 
Redes Sociais: Lucas Gouvêa 
Produção: Gabriel Garcia 
Assistente de Produção: Isabella Ferreira 
Realização: A Palavra Forte Produções Artísticas 
Apoio: Bossa Rio, Café Manuedu, Rádio Roquette Pinto e Restaurante La Fiorentina 

SERVIÇO

Temporada: 7 a 31 de julho 2022, de quinta a domingo (dias 7, 8, 9, 10, 14, 15, 16, 17, 21, 22, 23, 24, 28, 29, 30 e 31/07) 
Horário: 19h 
Ingressos: R$ 7,50 para comerciários; R$ 15,00 para jovens de até 21 anos, estudantes e maiores de 60 anos; e R$ 30,00 para os demais – vendas na bilheteria do teatro 
Local: Teatro Arena do Sesc Copacabana 
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 
Classificação etária: 18 anos 
Duração: 140 min 

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