Divulgação TV BrasilOs desafios da humanidade para lidar com as consequências das mudanças climáticas e as medidas para diminuir os impactos do efeito estufa no planeta pautam a edição inédita do programa Caminhos da Reportagem que a TV Brasil apresenta neste domingo (23), às 22h.
Com reportagem da jornalista Priscila Thereso, a matéria especial “Clima: uma questão de justiça”, produzida pela equipe da emissora pública, também fica disponível on demand no app TV Brasil Play.
A atração jornalística revela que no início deste mês o mundo registrou o dia mais quente da história das medições, iniciada em 1979. Ondas de calor, chuvas que destroem cidades e aumento do nível dos oceanos são apenas alguns dos resultados das transformações climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa.
O programa destaca a análise de especialistas e traz o depoimento de pessoas que sofrem com as implicações do crescimento da temperatura. Os pesquisadores são categóricos em afirmar que não há mais dúvida sobre a realidade que se encara hoje: as drásticas variações do clima foram impulsionadas pela ação humana.
“Algumas décadas atrás, a gente poderia falar que se observavam as mudanças climáticas, alterações da temperatura, eventos extremos, mas não podia dizer que tinha um papel humano nisso; hoje em dia já não tem mais como falar desse processo, é inequívoco”, pontua Marília Closs, pesquisadora da Plataforma Cipó, instituto de pesquisa dedicado a questões de clima, governança e relações internacionais.
No dia mais quente da história registrado no início de julho, os termômetros marcaram a média mundial de 17,18°C, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. Os cientistas declaram que esse recorde pode ser quebrado em breve.
População vulnerável é mais afetada
As consequências são devastadoras para a população mundial. A estimativa é que três bilhões de pessoas em todo o planeta sejam vulneráveis às mudanças no clima de acordo com estudos de cientistas do IPCC 一 Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.
Especialista em mudanças climáticas da WWF Brasil, Alexandre Prado alerta que os cidadãos mais vulneráveis vão suportar os maiores impactos. “São as pessoas que moram em uma situação muito precária, seja em favela ou em casa de madeira, e não têm acesso a serviço básico. Então, a hora que inunda, a água está passando dentro de casa, pega doença, aí vai para um hospital que é geralmente em periferia, tem uma situação também mais precária”, reflete o estudioso.
Alaildo Malafaia trabalhou exclusivamente com pesca na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, por mais de trinta anos. Hoje ele diz que o pescado diminuiu. “Várias comunidades de pescadores estão perdendo a casa pela invasão do mar, e a diminuição do pescado (…), essa renda está deixando de chegar no bolso do pescador”, afirma Malafaia.
Preservação de ecossistemas marinhos
“O principal impacto sobre os manguezais observado atualmente é a elevação do nível do mar. Porque o manguezal ocupa a região entre-marés. Ele está na zona costeira, entre a área que a maré alta atinge e a área da maré baixa. Se o nível do mar está subindo, esse ecossistema vai ser diretamente afetado, porque essa zona aqui que antes era entre-marés começa a ficar inundada” explica Mário Soares, oceanógrafo e coordenador do Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA) da UERJ.
A conservação dos mangues por pescadores e catadores de caranguejo é uma questão de sobrevivência, segundo Breno Herrera, analista ambiental do ICMBio. “Essas mulheres e homens que vivem e dependem dos manguezais são os melhores guardiões desse ecossistema”, defende Herrera.
Intensidade e frequência das chuvas
O quilombola Máximo Nunes reclama das chuvas em 2023, reflexo das alterações climáticas. “Esse ano choveu fora de época, em abril, março, até janeiro que chove uma vez ou duas, choveu quase o mês todo. É chuva pesada, então para as plantas não é bom”.
Na COP 27, comunidades quilombolas denunciaram a invisibilidade de sua luta e mostraram a importância da manutenção nos territórios da preservação ambiental. Mercedes Bustamante, presidente da CAPES e consultora do IPCC, observa que “a extensão de áreas protegidas ou com natureza ainda relativamente intacta são aquelas que hoje estão sob custódia dos povos originários”
A professora pondera sobre a importância dos nativos. “Eles têm um papel fundamental na resposta de mitigação, porque essas áreas preservadas continuam sendo sumidouros de carbono, e, ao mesmo tempo, as áreas preservadas são importantes também para adaptação, para preparar para esse futuro de instabilidade”, avalia.
“As populações estão preparadas de formas diferentes para esse problema, então a resiliência climática, que é uma palavra que se usa para dizer o quão preparada está aquela sociedade vai ser muito determinante para dizer se esses impactos vão ser impactos, por exemplo, que podem custar até vida”, completa a estudiosa Stela Herschmann, especialista em políticas climáticas.