As dúvidas e angústias compartilhadas nos divãs pelos pacientes são parecidas com as do próprio analista, como mostra o novo livro de Tiago Mussi. “O ano em que me tornei psicanalista” pode ser considerado um ensaio de formação, segundo o autor. O texto mostra a vida dele do nascimento à maturidade, como psicanalista e escritor, com ênfase no período em que se forma em psicanálise. O lançamento será no dia 12 de julho, quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa de Botafogo, no Rio.
O livro parte da autoficção para explicar a formação e os mistérios que cercam o ofício do psicanalista. Ao expor os bastidores sem medo, Tiago Mussi conta a trajetória profissional, com os relatos sobre a paciente M.Q., e os obstáculos que precisa vencer diante dos jogos sutis de transferência e de sedução da jovem, além do masoquismo. Ao mesmo tempo, ele lembra da infância, fala dos questionamentos feitos na própria análise e detalha a supervisão profissional recebida.
“Talvez a escrita seja, ao lado da psicanálise, a única forma possível para desvelar o que se esconde sob o sentido manifesto das palavras. Será? Assim me parece. Se por um lado tanto o exibicionismo quanto o voyeurismo me impediriam de ir além do que Freud foi ao revelar seus próprios desejos em A interpretação dos sonhos, por outro, a escrita, e, sobretudo, a escrita da psicanálise, poderia me libertar. E sabemos que escrever é uma exposição muito maior do que ficar nu em público”, escreve Tiago Mussi em um dos trechos do livro.
Em outro momento, o autor conta sobre como a nova obra estabelece uma ligação entre ele e as pessoas citadas na história, para falar também dos ofícios de escritor e de analista:
“Poderia dizer, à maneira de Lacan quando falava da família, que somos escritos pelo livro, mais do que o escrevemos. E não estaria dizendo mal, ao contrário. Porque, afinal de contas, nunca sabemos ao certo sobre o que escrevemos quando realmente escrevemos.”
Além de “O ano em que me tornei psicanalista”, Tiago Mussi é autor de “Onde os paranoicos fracassam” (romance) e “Por que os loucos escrevemos livros tão bons?” (contos). Em 2016, recebeu o Prêmio Rio de Literatura por “Tão fútil e de tão mínima importância” (romance). Psiquiatra com mestrado em Psicologia pela Université Paris 13, ele é membro provisório da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.