A edição 2022, organizada pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) mais uma vez foi marcada pela diversidade de crenças. O sol abrilhantou o ato na Avenida Atlântica, onde era possível testemunhar lado a lado, umbandistas, candomblecistas, xamânicos, judaicos, espíritas, wiccanos, islâmicos, católicos, evangélicos, budistas e até quem não tinha credo. Todos com o mesmo objetivo: combater o preconceito religioso e defender a diversidade, afinal, qualquer cidadão tem o direito, garantido por lei, em proferir sua fé. Cerca de 50 mil pessoas participaram da caminhada.
O Babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR – “A Caminhada já se consolidou no Brasil, como uma das ações mais pontuais em defesa da liberdade religiosa e do Estado laico. É um evento que, além de projetar luz e reflexões para a promoção de uma sociedade mais humana, plural e diversa, em prol do fortalecimento das bases democráticas que ainda fazem parte da nossa sociedade”, declarou o sacerdote
A manifestação ocorreu durante todo o domingo, começou com um café da manhã no Clube Israelita Brasileiro Bene Herzl, em Copacabana – Zona Sul do Rio de Janeiro, e seguiu ao longo do dia, por toda a Orla, a concentração que começou às 10h no Posto 5, por volta das 13h, iniciou a caminhada. O decorrer do trajeto contou com a participação de diversos grupos culturais, Banda Omi Okun, Regional Biguá, cantigas, batuques, e falas de lideranças religiosas, ganhou ainda a preciosa participação do grupo Awurê e Marquinhos Oswaldo Cruz. Destaque para a ocasião quando o Babalawô Ivanir dos Santos, em cima do trio elétrico soltou uma pomba branca O Eiyelé funfun (pomba branca) é a ave que simboliza a ligação do Òrun e o Àiyé (o céu e a terra). Símbolo que está presente em várias cerimônias religiosas, para estabelecer a comunicação entre Olódùmarè (Deus) e os homens.
Celinha Makota, dirigente do Centro Nacional de Resistência e Africanidade Afrobrasileira de Minas Gerais (Cenarab), fez questão de vir ao Rio para participar do evento. “Essa caminhada é o reencontro com a democracia, temos esse direito, a dignidade de ser brasileira, é livre o direito de rezar, todos os tipos de rezas”, pontuou a sacerdotisa.
O reverendo Elieser Moura Barreto, Presidente da OPEM – Ordem de Pastores Evangélicos Mundial, incentiva e apoia todas as escolhas religiosas. “Respeito à liberdade de culto e credo de fiéis”, defendeu.
Pela primeira vez na caminhada, o paquistanês Ihtsham Ahmad Moman, declarou – “Assim como o islã é uma religião de paz, amor e segurança, nosso apoio e respeito com a escolha do outro”.
Também fazendo sua estreia na caminhada, em prol da liberdade religiosa – Pai Denisson d’ Angelis e Mãe Kelly d’Angelis, fundadores do Instituto Céu Estrela Guia e Representantes do segmento de Umbanda no Conselho Municipal de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa (COMPLIR), de São Paulo – “Até quando vamos sofrer ataque? O trabalho religioso que realizamos é de ajuda ao próximo, de caridade, como não entender isso?”, indaga o religioso, que usa a dimensão fundamental do exercício espiritual praticando solidariedade, com a distribuição diariamente de alimentos, para moradores ruas da grande São Paulo.
Dados do Observatório das Liberdades Religiosas (OLR), recém lançado, mostram que apenas no estado do Rio de Janeiro ocorreram pelo menos 47 casos de intolerância religiosa, em 2021. Neste ano, de janeiro a junho, foram 38 casos. De todos os casos, os atingidos foram ataques direcionados às religiões de matriz africana, desde agressões físicas, depredações e ameaças virtuais. Os dados fazem parte do II Relatório sobre Intolerância Religiosa no Brasil, organizado pelo Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos (UFRJ) em parceria com o Prof. Mestrando Luan Costa Ivanir dos Santos (UERJ). A pesquisa tem a apresentação assinada pelo Prof. do Departamento de Economia da PUC-RJ e Sérgio Besserman (Coordenador Estratégico do Climate Reality Project no Brasil), que traz análise de dados quantitativos sobre os casos de intolerância religiosa no Rio de Janeiro.
Presentes na caminhada: Helena Theodoro – Prof e pesquisadora do Laboratório de Ensino Religioso e da História Comparada e Núcleo de Saberes Ancestrais da UFRJ, cineasta Silvio Tendler, assim como intelectuais negros como Dr. Hédio Silva Jr – um dos principais defensores da causa no país, lideranças negras como Clátia Vieira – do Fórum Estadual de Mulheres Negras do Rio, movimentos sociais como Frente Favela Brasil e UNEGRO, ala da educação com representantes da UNIFOA, além de uma gama de sacerdotes com Mãe Márcia Marçal e Paulo de Oxalá.
A Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, surgiu em 2008, quando adeptos das religiões de matriz africana foram expulsos de uma comunidade na Ilha do Governador. Defensores das diversidades passaram a se unir e reunir, anualmente, para em prol da tolerância, da equidade e da pluralidade. Além da caminhada, os religiosos criaram a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), que passou a ser um instrumento de acolhimentos e denúncias dos crimes de intolerância religiosa.
E assim, a 15ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, atingiu seu propósito, chamar a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas para os riscos antidemocráticos diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa em toda a sociedade. Saravá, Optcham, Motumbá, Kolofé, Blessed Be, Axé, Aleluia, Amém…