Leona Jhovs, presidenta do Instituto Luz do Faroeste, é agredida com um soco por agente da Inspetoria de Operações Especiais durante ação social

Diário Carioca
Projeto "Você Tem Fome de Quê?" do Instituto Luz do Faroeste na região da Luz Foto: Divulgação

Neste domingo, 05, por volta das 13h, os integrantes do ILF (Instituto Luz do Faroeste) e os demais agentes do projeto “Você tem fome de quê?” entregavam as marmitas na sede do coletivo “Tem Sentimento” no teatro de Container sede da Cia. Mugunzá de Teatro, em São Paulo, e sabendo que fluxo de usuários estava ali próximo, na Rua dos Gusmões x Rua Vitória. Leona Jhovs, presidenta do Instituto Luz do Faroeste, em companhia de Amanda Amparo, coordenadora de produção do instituto, se dirigiram até lá para avisá-los onde estava a distribuição das marmitas.

Quando elas estavam retornando para o ponto de entrega, foram abordadas pela GCM (quando subiram até o fluxo elas já haviam passado por eles e até os cumprimentado). Então, uma oficial as abordaram com arma na mão e pediu para que colocassem a mão na cabeça e encostassem na parede. Elas obedeceram, apesar de já notar uma abordagem bastante violenta enquanto ela tentava explicar o que fazia ali.

Eles não a deixavam falar, e Leona então pegou o celular para ligar para o advogado do Instituto que estava a metros dali para ajudá-la em sua conduta e confirmar que ela estava ali em um trabalho social. Mais uma vez foi impedida pela guarda da da GCM, dessa vez de fazer a ligação ou de utilizar o celular para enviar mensagens ou registrar o que acontecia. Então, essa oficial faz sinal para um outro guarda (homem), que se aproxima e dá um soco nas costas de Leona.

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Nesse momento, algumas crianças moradoras da região (o projeto também atende às famílias em situação de vulnerabilidade que moram por ali) viram o que acontecia e correram para a equipe do instituto para alertá-los. Então, todos vieram em atenção de Leona e Amanda. Quando os oficiais da GCM viram que aquelas pessoas manifestando intenção de fotografar e filmar a ação, logo as duas foram liberadas.

Esse tipo de comportamento é um total absurdo, totalmente inadmissível. Esse comportamento apenas reforça a nossa impressão de que as forças policiais não estão preparadas para atuar em um problema de saúde pública como esse e nos dá indícios para desconfiarmos que existe uma orientação para esse tipo de tratamento com pessoas que estão lá fazendo trabalho social, exatamente para que não haja qualquer tipo de acolhimento a essas pessoas.

Projeto “Você Tem Fome de Quê?” do Instituto Luz do Faroeste realiza suas primeiras ações durante o Carnaval

Sob a gestão da cofundadora Leona Jhovs – mulher transfeminista, multi – a(r)tivista, atriz, diretora, roteirista e apresentadora – a instituição sem fins lucrativos abre as atividades nessa 2a gestão com seu projeto de enfrentamento à fome na região da Luz com distribuição de marmitas, sanduíches, preservativos e intervenções artísticas

Desde o ano passado, a atriz, diretora, mulher transfeminista e multi-a(r)tivista Leona Jhovs assumiu a presidência da iniciativa social sem fins lucrativos Instituto Luz do Faroeste junto com um novo corpo diretivo. A nova gestão desenvolveu o projeto “Você Tem Fome de Quê?” que tem como propósito o enfrentamento à fome na região da Luz, em São Paulo, e consolidar a contribuição do setor cultural nessa luta. Durante o período do Carnaval, foram realizadas as primeiras atividades que compartilham alimento e cultura a moradores de rua e famílias do entorno em situação de vulnerabilidade.

“Estas atividades foram apenas o primeiro passo da continuidade ao legado deixado pela Cia. Pessoal do Faroeste que, durante a pandemia, transformou seu teatro e sua sede em um ponto de distribuição de cestas básicas e atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade social da região que estavam totalmente abandonadas. Afinal, o enfrentamento à fome é uma prioridade para que as outras formas de reinserção social cumpram seu efeito”, diz Leona.

A presidenta acrescenta que “o centro de São Paulo é composto por uma complexa rede de vulnerabilidades que compreende desde famílias com baixa renda que habitam cortiços, pessoas em situação de rua e adicção nos entornos, migrantes, ocupações, favelas e comunidades, além dos trabalhadores informais e precarizados que têm em comum a insegurança alimentar”.

Alimento e Cultura

A equipe do instituto aproveitou a concentração promovida pelo Carnaval para dar o pontapé inicial de uma ação que vem sendo desenvolvida há meses. No dia 13 de fevereiro, com a ajuda de outros ativistas da região, distribuiu mais de 200 marmitas no bar Recanto Rocha enquanto acontecia uma apresentação do Pagode na Lata, grupo que nasceu na Cracolândia com o propósito de geração de renda e redução de danos.

No dia 17, foi a vez do carnaval tomar a conta das ruas do território depois de um hiato de três anos com a presença do vereador Eduardo Suplicy na fanfarra do Blocolândia que tem como marca registrada a inclusão de todos na diversão como forma de acolhimento. Durante o cortejo foram distribuídos 200 sanduíches oferecidos pela ONG O Amor Agradece em um encontro que alimentou a todos de comida, alegria e cultura. Além disso, também foram entregues preservativos cedidos pela Casa Florescer.

No domingo, dia 26, o pós-carnaval foi marcado com a distribuição de mais 200 marmitas durante intervenção artística de Laura Cruz e apoio da Cia. Mugunzá de Teatro.

Atenção às pessoas trans e travestis

Leona teve o cuidado de incluir como propósito do projeto “Você Tem Fome de Quê?” olhar para os corpos mais dissidentes do território. “Entendemos que pessoas trans e travestis sempre estiveram em situação de vulnerabilidade social, por isso, parte da agenda é nos conectar a coletivos e iniciativas que já se dedicam a compreender e atuar sobre esta realidade, reivindicando cidadania e pertencimento”.

Todo o trabalho de distribuição de alimentos tem o envolvimento das mulheres trans da ONG Coletivo Tem Sentimento, uma instituição que atua na geração de renda para mulheres trans e cis que vivem no território da Cracolândia.

A população trans e travesti historicamente esteve a margem do mercado de trabalho, estima-se que 90% desse público vive da prostituição compulsória. Quanto ao acesso à formação e escolaridade os dados também são alarmantes, evidenciando a insuficiência de políticas públicas adequadas neste cenário. Um cenário que Leona sempre acompanhou de perto, inclusive, como cofundadora da campanha Representatividade Trans e da Casa Chama, uma organização civil de ações socioculturais com foco na população transvestigêneres.

Você Tem Fome de Quê?

A cultura ocupa espaços de extrema importância no debate público das pautas emergenciais da sociedade. Levando em consideração o caráter cultural do instituto, o projeto “Você Tem Fome de Quê?” tem como diretriz alimentar o corpo e também a alma com a arte. Para isso, contará com o apoio de movimentos artísticos e culturais do centro de São Paulo tanto na distribuição de alimentos, como também em uma agenda de intervenções para uma verdadeira transformação social.

Sobre o Instituto Luz do Faroeste

“Para nós todo ser humano merece ser alimentado de comida, de cultura e de afeto”, destaca a presidenta Leona Jhovs.

O Instituto Luz do Faroeste é uma iniciativa sem fins lucrativos com quatro anos de existência que desenvolve seu trabalho social em torno das urgências fundamentais que se agravaram nos últimos anos com a crise: como o combate à fome com a distribuição de alimentos com o apoio de outros movimentos artísticos e culturais sediados no centro de São Paulo.

Em seus valores, a instituição assumiu um compromisso com a agenda de direitos humanos e com os movimentos de transformação social por meio da arte no território da Luz promovendo ações de inclusão social, enfrentamento à fome e defesa de populações historicamente marginalizadas.

O trabalho do instituto dá continuidade à memória e ao legado das mais de duas décadas de atuação da Cia. Pessoal do Faroeste no atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade social na região.

Nesse desafio, o compromisso e o foco como instituição do terceiro setor do instituto é com os moradores da região que sofrem com a insegurança alimentar, e principalmente, dentre eles, a população em situação de rua que habita a Cracolândia

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca