Segundo o relatório “15 Insights on the Global Steel Transformation”, desenvolvido pelas empresas alemãs Agora Industry e Wuppertal Institute for Climate, Environment and Energy, o setor siderúrgico pode alcançar emissões líquidas zero até o início da década de 2040. O estudo produzido na Alemanha, Austrália e Brasil recomenda que, em vez de tentar exportar apenas hidrogênio verde (H2V), países exportadores de ferro como o Brasil deveriam se preparar para investir em “hidrogênio incorporado” na forma de ferro e aço verdes.
Nesse contexto, o Ceará deverá ser beneficiado, por causa da implantação do Hub de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém e os ganhos que o empreendimento poderá gerar à usina siderúrgica. “A ArcelorMittal comprou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) já com esse objetivo, ou seja, já existe tecnologia nesse sentido. Estive recentemente em um evento na Alemanha e os executivos locais já falam sobre a produção de aço de forma sustentável. No mercado global, já estão providenciando a substituição da tecnologia para a produção de aço, ou seja, confirmando essa projeção. Ocorre que são necessários investimentos bilionários, da ordem de 3 bilhões de euros por ano”, comenta o especialista em energias renováveis, Jurandir Picanço.
O estudo aponta ainda que nove siderúrgicas que ainda utilizam carvão poderão enfrentar um alto risco de aprisionamento de carbono e de ativos irrecuperáveis. Para evitar tal colapso necessário à eficiência no uso dos materiais, o aumento da reciclagem, a produção de aço com base em H2V, além da bioenergia e de algumas abordagens de captura e armazenamento de carbono. O relatório “15 Insights on the Global Steel Transformation” aponta também que o comércio de ferro verde pode reduzir os custos da transformação global do aço, sendo vantajoso para exportadores e importadores, já que o transporte de “hidrogênio incorporado” seria mais viável economicamente do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio. Para os importadores, o ferro verde pode aumentar a competitividade da produção de aço com baixo teor de carbono, ajudando a manter os empregos locais no setor siderúrgico.
Na avaliação do analista do ClimaInfo para o setor de energia, Shigueo Watanabe Júnior, o estudo traz excelentes ideias e mostra bons números, mas a sua efetivação possui um grande gargalo: elevados investimentos. “As siderúrgicas brasileiras, por exemplo, não são ricas, e isso vai depender da capacidade de investimento. A transferência tecnológica é tranquila e o Brasil tem capacidade para isso. O grande problema, realmente, é dinheiro para fazer essa transformação”, diz. Para Watanabe, o Brasil tem potencial de hidrogênio verde, mas é uma transformação muito cara. “O governo poderia até usar dinheiro nesses projetos, mas existem outras questões mais urgentes no País e que são prioridade. A grande transformação vai ser quando o aço produzido com carvão estiver custando mais caro que o aço produzido com H2V, mas para isso acontecer ainda vai demorar certo tempo”, afirma.
No cenário global, essa realidade vai depender de países como Estados Unidos, China e Austrália, que são os maiores consumidores de aço do mundo. “É importante encarecer o aço atual a ponto de fazer valer a pena o investimento por outro meio. Não dá para prever quando isso irá acontecer. Mas importante que haja mobilização, que as pessoas saibam a realidade e o que é possível fazer”, acrescenta.
Jurandir Picanço diz que não vai demorar muito para que os países estabeleçam barreiras comerciais em razão alto teor de carbono, o que vai ao encontro das atuais demandas globais de sustentabilidade e transição energética. “Na União Europeia, já existem tais barreiras, o que quer dizer que os produtos precisarão ser cada vez mais verdes. Caso contrário, serão impostas taxas altas. Então, é uma tendência real. No Ceará, estamos focados na produção de hidrogênio verde para exportação, mas no futuro teremos produtos verdes na totalidade, pois somos nós que temos energia para a produção de forma abundante”, reforça. (Fonte: O Otimista)