Os artesãos que expõem na cidade de Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, foram duramente prejudicados economicamente pela pandemia. Criada em 1969, a feira recebia anualmente cerca de 1 milhão de turistas. Além da compra de arte, artesanato e até plantas, o visitante dispõe de Praça de Alimentação, bons restaurantes, bares, docerias e cafés. Músicos e performistas se apresentam em diversos pontos do Centro Histórico. A feira tem atualmente cerca de 485 expositores e devido ao rodizio e aos grupos de risco, cerca de 170 conseguiram retornar nos períodos de funcionamento.
A artesã Maria do Carmo Merussim, de 56 anos, produz peças de cerâmica e expõe na cidade. Ela fabrica peças únicas e assinadas, que são feitas manualmente, uma a uma, com argilas e esmaltes isentos de chumbo, para serem usadas como utilitário ou decoração.
Para a ceramista, a maior dificuldade que tem enfrentado é o reajuste da matéria-prima. Assim, para aumentar as vendas e driblar os dias em que não expõe na feira pelas restrições do Plano São Paulo, ela tem vendido pela internet. “Antes da pandemia já fazia vendas pela internet, [por meio de sites especializados e rede social]. Com o inicio da pandemia, investi em uma loja virtual própria.
Apesar das alternativas de vendas, ela tem poucas perspectivas para este ano. “Vejo um cenário de dificuldade. Acredito ser importante investir em ações de divulgação da Feira de Embu das Artes para atrairmos vendas presenciais ou pela internet”.
O artesão Clovis Pires de Camargo, de 66 anos, que também expõe na feira, disse que tem feito poucas vendas desde que começou a pandemia. Ele cita as dificuldades: “Considero a pandemia e a falta de apoio dos organizadores, que deixam a revenda correr solta, as piores dificuldades”. Camargo faz artesanato em couro, como bolsas, e começou a produzir outras peças para driblar os dias de feira fechada em Embu das Artes. “Paralelamente, produzo alforjes e protetores para motos estilo Harley Davidson”.
Economia do artesanato
A Feira de Artesanato da cidade é uma das maiores exposições de arte ao ar livre do país e é o principal atrativo turístico do município, segundo a Associação dos Expositores da Feira de Embu das Artes (AEFEA). De acordo com a porta-voz da associação, Ana Rodrigues, a cidade foi prejudicada economicamente pelas restrições. “Nossa economia turística despencou, o movimento comercial durante os finais de semana não conseguiu se reorganizar até agora, muitos comércios fecharam as portas e muitos expositores da feira desistiram. As vendas caíram entre 70% e 80% e, em alguns casos, a instabilidade é total”, lamenta.
A média de visitantes da feira antes da pandemia era de 20 mil aos domingos, dia de maior movimento. “Devido à instabilidade econômica do país, nosso público vinha em queda, o que normalmente ficava em torno de 20 mil visitantes aos domingos, mas caiu para cerca de 8 mil a 10 mil na Fase Verde [do Plano São Paulo Verde, que permite a abertura do comércio com medidas de higiene sanitária]”, explicou a porta-voz.
Segundo Ana, a associação tem feito ações nas redes sociais para tentar reverter o quadro. “Nossa associação é voltada para os expositores da feira, toda ação que realizamos auxilia o comércio do entorno, visto que nossa feira é o real atrativo turístico do município. Mesmo a associação sendo para os expositores e uma entidade jovem em relação aos 52 anos da feira, atuamos intensamente nas mídias sociais, visto que ainda não temos lastro para grandes ações de marketing”.
O trabalho da associação segue para ampliar o público consumidor e atrair novos compradores. “Temos trabalhos maravilhosos dos artistas e ainda muito público para conquistar, muitas pessoas não conhecem essa tradição que temos aqui, podemos comprovar isso principalmente aos domingos, que é nosso dia de maior movimento. Não raro, ouvimos os turistas dizerem: “nossa, porque demorei tanto para vir aqui, estou adorando tudo que vejo, quero voltar com mais tempo”, em várias ocasiões, faço lives com turistas e eles sempre comentam positivamente sobre o passeio”.
Apesar das novas regras de restrição, como a Fase Emergencial em São Paulo que proíbe a abertura de comércio não essencial, as perspectivas são positivas, afirma Ana, que também é artesã.
“Vamos manter a positividade e a proatividade, focados nas divulgações das mídias sociais, envolvendo ao máximo os expositores, assim como buscar orientações e qualificações para que todos se atualizem e mantenham-se motivados e ativos, tanto na criatividade e produção, quanto comercialmente. Atrair novos parceiros apoiadores para as nossas ações interativas e promocionais. Vamos explorar também nosso momento de conquista, que tornou a feira Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de São Paulo, aos 52 anos”.
No último dia 9 de março, a Feira de Embu das Artes foi declarada oficialmente, pelo governo do estado, Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de São Paulo, após a aprovação pela Assembleia Legislativa, no dia 2 de fevereiro, do Projeto de Lei 918/2016. O patrimônio é uma maneira de salvaguardar as expressões culturais, as tradições e a ancestralidade.