Bom dia, Alexandre, e a todos os que nos acompanham esta manhã. É um prazer estar com vocês aqui hoje, e eu gostaria de agradecer ao UBS pelo convite. Vou dedicar minha fala hoje ao tema da incerteza. Uma citação sobre o tema que gosto bastante afirma: “Uncertainty is worse than knowing the truth, no matter how bad”. De fato, a incerteza acima do usual tem sido umas das características marcantes dos ciclos econômicos desde o início da pandemia. Relacionado a diversas fontes, a incerteza elevada que tem cercado as perspectivas econômicas tem mudado de face e impactado não apenas as decisões de política econômica como seus resultados, com implicações sobre como agir e reagir nos próximos períodos. À medida que nos aproximamos do fim de 2022, entretanto, algumas incertezas se resolvem enquanto outras incertezas permanecem. A Guerra da Ucrânia, por exemplo, aponta para uma duração longa e com impactos duradouros sobre a oferta energética e possivelmente de grãos na região. O processo inflacionário que começou a se delinear em fins de 2020 se provou mais persistente que o esperado, ensejando as maiores taxas de inflação em mais de 40 anos em diversas economias avançadas. O mundo aprendeu a conviver com o vírus. Percebemos também que parte dos deslocamentos de oferta e de cadeias produtivas derivados da pandemia vêm diminuindo, ainda que se observem problemas relacionados ao combate ao Covid na China. As normalizações das cadeias produtivas e a diminuição do desequilíbrio entre oferta e demanda no setor de bens se traduzem em menores pressões na inflação de bens, que foi um dos primeiros propulsores do processo inflacionário global. Aliado aos custos relacionados à necessária transição energética e aos investimentos abaixo do necessário em geração de energia dos últimos anos, os preços de commodities avançaram acentuadamente, impactando a inflação de alimentos e energia globalmente, mas têm apontado acomodação recentemente.
Entretanto, agora observa-se uma migração das pressões inflacionárias de segmentos voláteis, como commodities e bens, para a inflação de serviços. De fato, em vários países observa-se uma aceleração da inflação de serviços para patamares altos em ambiente de mercado de trabalho aquecido. Este processo costuma ser caracterizado por uma maior inércia, e exige das autoridades monetárias uma ação mais contundente, de modo a garantir o retorno da inflação para patamares compatíveis com sua meta e a ancoragem das expectativas de inflação. Assim, uma maior clareza em relação ao ambiente para a política monetária global se delineia: saímos do ambiente de “low for long” para o ambiente de “higher for longer”, caracterizado por taxas de juros em patamar contracionista – e bem acima do observado no pré-pandemia – por alguns trimestres à frente tanto nos países avançados quanto nos emergentes. Notase, entretanto, que neste ciclo, os países emergentes saíram na frente no processo de normalização de suas políticas monetárias, e em particular o Banco Central do Brasil, que iniciou seu processo de ajuste em março de 2021. No Brasil, essa mudança de vetores inflacionários também vem acontecendo. De fato, observa-se que a inflação de serviços acelerou para 8,5% em termos interanuais na leitura de setembro, o maior ritmo desde 2015, enquanto o núcleo de bens industriais começa a ceder na mesma comparação, mas ainda avança 11,5%. As expectativas de inflação, mesmo para prazos mais longos, subiram, reagindo a surpresas inflacionárias e aos riscos em torno do cenário prospectivo. Em sua participação no Simpósio de Jackson Hole em 2003, o economista Carl Walsh trouxe uma lição importante: os perigos de se subestimar o grau de persistência da inflação parecem ser maiores que os associados à superestimação desta persistência. Voltando à frase do início, ao não saber “how bad” será a persistência do processo inflacionário, deve-se agir como se muito persistente fosse. Neste sentido, será necessário ter serenidade para observar como o processo de desinflação e os riscos associados a este processo se desenrolarão no Brasil.
Permanecem as incertezas geopolíticas e ligadas desenvolvimentos estruturais, como a reorganização das cadeias de produção globais, com processos como nearshoring e friendshoring, e à transição climática. Ambos podem apresentar oportunidades para o Brasil, mas trazem também a perspectivas de pressões de preços associadas à mudança de fornecedores e localizações, e de uma oferta de energia mais pressionada em ambiente onde os eventos climáticos graves tem se tornado mais frequentes. Há hoje algum debate sobre o nível do hiato do produto da economia brasileira, que pode estar mais próximo da neutralidade. Neste caso, os impactos sobre a inflação tendem a ser mais persistentes, caso o hiato seja menor que o estimado. Medir o hiato do produto de forma contemporânea é sempre difícil, mas mais ainda em um cenário como o atual, cercado por enormes incertezas inclusive sobre possíveis mudanças estruturais. Mas estamos confiantes que, como reflexo do aperto monetário empreendido desde março de 2021, a direção do hiato nos próximos trimestres é no sentido de uma maior abertura. O Banco Central seguirá atento às incertezas e aos desenvolvimentos prospectivos, agindo de maneira independente, perseverando em sua estratégia até que tenha confiança no processo de convergência da inflação e das expectativas para a meta. O BC seguirá vigilante e sereno, acompanhando as incertezas e como evolui o processo de desinflação. Obrigada.