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Alunos de pré-vestibular social da Cidade de Deus são aprovados em universidades públicas

A ONG Nóiz, localizada na região do Karatê, na Cidade de Deus, zona oeste do Rio, tem como principal meta investir na educação e profissionalização dos moradores da área. Foi pensando nisso que, em 2021, surgiu o Gradua Nóiz, um dos projetos da ONG focado no pré-vestibular social, totalmente pautado na educação popular e de qualidade. E o melhor, totalmente gratuito.

O projeto tinha sido desenhado para ser inaugurado em 2020, mas a pandemia mudou os planos de todos. A incerteza da crise mundial de saúde deixou gerou medo, mas não menos esperançosos.

As aulas foram iniciadas timidamente. Também porque, não era possível aglomerar pessoas naquele momento de incertezas.

Como não tinha como colocar o projeto totalmente on-line, afinal as limitações do acesso à internet na comunidade é um fator que iria tornar aquilo inviável. Então a solução encontrada foi colocar alunos dentro da sala de aula e os professores à distância, com aulas transmitidas ao vivo através da televisão da ONG.

No início a turma foi reduzida para preservar a segurança e saúde de todos, respeitando as regras de distanciamento social. As aulas ocorriam aos sábados das 8h às 18h, e durante a semana havia monitoria remota com os professores, caso fosse necessário.

E tudo foi se encaminhando para o sucesso e crescendo conforme o tempo passava. Desde o seu começo, em 2021, já foram aprovados 16 anos alunos em vestibulares públicos e outros quatro em universidades particulares com bolsas de 100%. Com uma média de 20 participantes na turma.

Uma das atuais aprovadas é Ana Carla dos Passos, que passou para prestar Assistência Social na UERJ. Para ela, estudar no Gradua Nóiz, como foi renascer. Ela passava por um momento complicado em sua vida pessoal. Com depressão, sofrendo crises de ansiedade e ataques de pânico, e até lutando contra uma compulsão alimentar. Ana confessa que estava até pensando em dar fim à sua própria vida quando foi acolhida pela equipe do projeto.

“Lá fui abraçada, respeitada e reconhecida como pessoa, mulher, negra e de comunidade. O projeto me trouxe de volta a autoestima e tudo foi incrível”, conta Ana Carla. E completou: “Quando passei no vestibular, aos 47 anos, meu primeiro pensamento foi de alegria. Foi o segundo melhor momento na minha vida, o primeiro foi o nascimento do meu filho”.

Ela diz que quer se formar em Assistência Social para atuar na própria comunidade. Ela quer levar conhecimento para as mulheres negras de lá, fazendo-as entender que nunca é tarde para recomeçar.

“Não tenho palavras para todas as pessoas do Nóiz. Infinitamente o Nóiz é: notável, organizado, inesquecível e zeloso. Esse é o resumo deles na minha vida”, resume Ana Carla.

A ex-aluna Ceyça, hoje estudante universitária de Pedagogia também na UERJ, diz que encontrou o Nóiz no momento certo de sua vida. “Participei da inauguração do Pré em 2021, mas não  passei! Permaneci no ano seguinte e em 2023 passei  para Pedagogia!”, relembra.

Para ela, o Nóiz é referência para mudança e transformação de vidas Ela agradece todos os dias a toda equipe do projeto pela dedicação com os alunos e por todo amor e preocupação com o próximo que eles têm. “Sabemos que o Governo não  exerce seus deveres como deveria.  Aí, nasceram projetos como NÓÍZ  para darem oportunidades e apoio a crianças, jovens e adultos! Para que cresçam  e alcancem lugares onde sabemos que a sociedade não quer que alcancemos! Para que possam estar  num cinema, teatro, e tenham acesso à Cultura, ao conhecimento  para terem uma vida melhor e exerçam seus direitos  e deveres e também possam cobrar!”, desabafa Ceyça.

Ela é um dos exemplos que também quer dar de volta à comunidade tudo o que aprendeu e está aprendendo. “Almejo ajudar jovens e adultos a se alfabetizarem. Poder contribuir,  somar no projeto NÓÍZ! Retribuir e contribuir com a comunidade e com o NÓÍZ!”, finaliza a futura Pedagoga.