Luxemburgo, Jesus, futebol e carnaval

Diário Carioca

Jorge Jesus, técnico do Flamengo, estava em sua sala, no Ninho do Urubu, quando críticos invadiram o local dizendo que o resultado do trabalho dele tinha sido facilitado por erros de arbitragem. Jesus, então, olhando para todos, desafiou: “quem não tiver sido beneficiado por uma falha do árbitro, que atire a primeira pedra”. Foi quando Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras, atirou. Segundo ele, um pênalti a favor do Emelec, não marcado no jogo de ida das oitavas-de-final da Libertadores, no Equador, teria mudado toda a história do português em 2019.

Se Luxemburgo estivesse no templo, quando a história imaginada acima aconteceu, segundo o Evangelho de João (capítulo 8), a mulher adúltera teria sido apedrejada e os acusadores não teriam sido confrontados com suas próprias consciências e falhas.

Luxemburgo deu mostras, ano passado no Vasco, de que é bom treinador. E a prova é de que foi contratado para dirigir o Palmeiras, vice-campeão brasileiro de 2019. No currículo, cinco títulos brasileiros, algo que só Luís Alonso Pérez, o Lula, nos anos 1960 com o Santos de Pelé, tem igual – e isso graças ao reconhecimento feito pela CBF em 2010, igualando o título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao do Brasileirão.

Mas o técnico do Palmeiras parece ter memória curta. Em 1993, por exemplo, a história do Palmeiras campeão brasileiro passou pelo Paulistão, em que foi campeão ao vencer o Corinthians num jogo em que Edmundo deveria ter sido expulso, mas não foi, por erro admitido pelo árbitro José Aparecido de Oliveira. No Brasileirão, por força do regulamento, o Verdão não cruzou com o rival Corinthians em fase alguma e o título veio na final contra o Vitória (BA).

Em 1994, na decisão do título brasileiro, Luxemburgo contou com Edmundo, seu principal jogador, graças a um efeito suspensivo, já que o “Animal” estava fora do jogo em razão de uma expulsão. O zagueiro Antônio Carlos foi outro beneficiado que reforçou o Verdão naquela final.

No Corinthians, Luxemburgo foi campeão brasileiro em 1998. Mas, antes disso, enfrentou a Portuguesa numa semifinal do Paulistão. O jogo foi 2 a 2, com uma das arbitragens mais polêmicas da história, a do argentino Javier Castrilli. A Lusa precisava vencer, esteve duas vezes à frente do placar, mas o árbitro marcou dois pênaltis inexistentes e o Timão foi pra final. No Brasileirão, no terceiro jogo das semifinais contra o Santos, o Corinthians foi beneficiado por uma expulsão injusta de Viola, do Santos, que acabou ajudando na classificação corintiana para a decisão.

Seria injusto dizer que nessas caminhadas os times de Luxemburgo também não foram prejudicados. E nem dizer que os títulos brasileiros foram merecidos, como também os de 2003, com o Cruzeiro, e de 2004, com o Santos. Mas não podemos simplesmente ouvir comentários de um técnico tão experiente e vivido no futebol e ficarmos calados.

Luxemburgo não tinha motivo algum para desmerecer os elogios dirigidos a Jorge Jesus e condicioná-los a um possível pênalti não marcado, e que, inclusive, poderia nem ser convertido. Atirar uma pedra, sem a devida consciência própria, pode trazer prejuízos futuros. No caso da mulher adúltera, por exemplo, Jesus, o de Nazaré, poderia ter sido confrontado mais ferozmente e nem levado adiante a mensagem que tinha. Ele poderia ter sido crucificado antes o que afetaria até o carnaval, que tem seu domingo marcado exatos sete antes do Domingo de Páscoa.

Que pecado seria, hein Luxemburgo!!

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca