O futebol é um jogo local e um produto global — e os atletas brasileiros, historicamente tão valorizados nesta seara, nunca estiveram tão em alta. Hoje, há mais de 1 mil jogadores brasileiros profissionais espalhados pelo mundo, seguidos pelos franceses e os argentinos.
Para o advogado e especialista em Administração do Esporte (pela FGV/SP) José Francisco Manssur, esse cenário — por mais que nos orgulhe como país — tem de mudar. “Precisamos deixar de ser vendedores de uma commodity e começar a vender o jogo, as atrações do jogo”, diz o especialista, coautor do Projeto de Lei que deu origem à Lei 14.193/2021 — que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
A SAF é um tipo específico de empresa que se apresenta como alternativa para a manutenção aos clubes de futebol brasileiro — que, historicamente, se estruturaram como associação civil sem fins lucrativos. Ao migrarem para a estrutura empresarial, eles passam a dispor de normas de governança, controle e meios de financiamento específicos para a atividade do futebol. Para Manssur, a SAF viabiliza a maior profissionalização dos clubes brasileiros.
Além disso, o especialista acredita que, por permitir o crescente investimento no futebol profissional brasileiro, a SAF permitirá que os clubes brasileiros segurem seus melhores jogadores por mais tempo no país. Isso, por sua vez, permitirá um aumento na qualidade e no interesse pelos atletas brasileiros.
“Hoje, alguns jogadores jovens com enorme potencial para se tornarem ídolos no Brasil estão deixando os seus clubes após apenas oito ou nove jogos”, argumenta o especialista, defendendo que, assim, “não dá tempo de construir uma relação entre o ídolo, o clube e os fãs”. “Perdemos muitos fãs para o futebol europeu. É comum ver, na rua, jovens usando camisas de outras seleções europeias, não as brasileiras — porque eles perderam essa ligação com os clubes que só os ídolos conseguem criar.”
Fonte:
José Francisco Cimino Manssur, formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em Administração do Esporte pela FGV/SP, foi professor de Legislação Esportiva na FGV/SP, Universidade São Marcos e ESPM. É coautor dos livros “Futebol, Mercado e Estado” e “Sociedade Anônima do Futebol”. Sócio do Ambiel Advogados.