Ações de governo de extrema direita de Netanyahu contra palestinos foram estopim de ataques do Hamas

Diário Carioca
Palestina dispara foguetes em resposta aos ataques aéreos israelenses na Cidade de Gaza, Gaza, em 7 de outubro de 2023. [Mustafa Hassona/Agência Anadolu]

Na madrugada deste sábado (7), o grupo Hamas realizou uma série de ofensivas contra Israel, justificadas como resposta ao aumento da violência contra o povo palestino, à proposta de anexação de partes da Cisjordânia e aos ataques contra a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. As ações ocasionaram, ao menos, 100 mortes.

Fora os ataques com mísseis, militantes do Hamas invadiram o território de Israel em diversos pontos e prenderam altos comandantes militares do exército israelense. 

A ação do grupo foi contra-atacada pelo exército israelense, que fez vários ataques à Palestina. E que já resultaram em, ao menos, 198 mortes.

Segundo o cientista político Marcelo Buzetto “é uma ação coordenada e planejada com objetivos militares e humanitários no sentido de tentar realizar, futuramente, nos próximos meses ou próximos anos, algum tipo de negociações de troca de prisioneiros”. O pesquisador é autor do livro A Questão Palestina: guerra, política e relações internacionais (Editora Expressão Popular). 

A professora de História Árabe da USP (Universidade de São Paulo), Arlene Clemesha, argumenta que a ação destes grupos são uma contraofensiva a repressão israelense, que se intensificou desde a última eleição do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

“A situação piorou muito esse ano, os ataques contra os palestinos, foram bem piores em intensidade e caráter. A gente tem visto a população civil israelense atacar palestinos”, afirma

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Clemesha argumenta que a situação foi provocada por conta da coalizão que o primeiro ministro israelense formou neste novo mandando, que, segundo ela, “é a coalizão mais à extrema direita que Israel já viu em toda a sua história”.

Ela destaca ainda que o Hamas agiu com base em informações de que haveriam novas incursões de Israel para tomar definitivamente áreas palestinas. 

“Eles tinham informação de que, passados os feriados judaicos agora, Israel estava preparando para invadir Jenin e a faixa de Gaza. E Jenin já foi invadida um mês, um mês e pouco atrás, já teve uma invasão ao campo de refugiados de Jenin, que foi bem destruidora, bem violenta e sentida pelos palestinos. Com milhares de palestinos fugindo. Então o Hamas decidiu invadir preventivamente. Foi uma invasão preventiva, porque assim já utiliza a estratégia de fazer reféns, para tentar não ficar tão à mercê do que seria esse novo ataque a israelense”, detalhou.

Atualmente vivendo na Cisjordânia, na cidade de Jericó, a 27 quilômetros de Jerusalém, o gestor de Políticas Públicas Igor Galvão conversou com o Brasil de Fato

“Não há toque de recolher decretado ainda pela Ocupação Israelense na Cisjordânia e a cidade de Jericó está em clima de normalidade”, afirmou o militante do Movimento Brasil Popular.

A trabalho na região, Galvão diz que ele foi surpreendido pela notícia do conflito. “As notícias começaram a chegar em torno de 8h30/9h (horário local). O nosso escritório de segurança local enviou informes e, no início, só pediu que cancelássemos toda as atividades do dia. Nós já estávamos em campo, então, logo em seguida, chegou a solicitação para voltarmos para casa”, relatou.

Segundo ele, há um um clima de “muita comoção e apoio”. “Há possibilidade de manifestações e que a população se levante numa terceira intifada”, termo utilizado para designar as revoltas que aconteceram entre palestinos e israelenses.

Apesar de toda mobilização palestina, o professor Reginaldo Nasser, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, acredita que Benjamin Netanyahu sairá fortalecido deste episódio.

“Netanyahu vai justificar dizendo que ele precisa ter apoio. É a regra geral”, argumenta.

Para Nasser, a situação do povo palestino é muito complicada, devido ao isolamento nas relações internacionais, mas também territorial. E o número de mortos pode ser imenso. 

“Israel vai atacar, vai morrer muito civil, eles vão dizer que é escudo humano. Porque os ataques são dirigidos a locais superpovoados e o número de civis que vão ser mortos vai ser imenso. E principalmente também pelo seguinte: quando você olha algum conflito no mundo, qualquer lugar do mundo, você tem e é muito triste, a leva de refugiados. A pessoa sai do lugar. Mas não tem como sair de Gaza. É completamente cercado. É uma situação muito grave, muito grave”, lamenta. 

Em declaração realizada na manhã deste sábado, Netanyahu não escondeu o objetivo de retaliar brutalmente o Hamas e os palestinos. “Nosso primeiro objetivo é circunscrever as áreas onde o inimigo se infiltrou. E fazer pagar um preço enorme ao inimigo, também na Faixa de Gaza”. 

Reações internacionais

Logo após o início do conflito, países europeus demonstraram apoio a Israel. Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos afirmou que o país “apoia o direito de Israel de se defender”.

França, Alemanha, Holanda e Comissão Europeia, por meio da presidenta do grupo, Ursula von der Leyen, emitiram notas condenando o ataque terrorista contra Israel.

Para a professora de Relações Internacionais da UFSC (Universidade de Santa Catarina), Clarissa Dri, este tipo de posicionamento são a causa da perpetuação do conflito entre Israel e Palestina.

“Enquanto a gente entender que o Estado de Israel está sendo atacado por forças terroristas palestinas, a gente nunca vai chegar perto de compreender o conflito e nem a solução. Porque a gente tem, na verdade, um Estado terrorista em Israel. E a gente tem uma tentativa da Palestina de defender desse estado de coisas e tentando instalar um Estado na sua parte do território”, afirma.

No Brasil, o presidente Lula escreveu uma mensagem de solidariedade a Israel.

Mas também convocou a “comunidade internacional a trabalhar para que se retomem imediatamente negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados.”

O governo informou que convocará reunião de emergência do órgão. O Brasil é membro rotativo e preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas até o fim de outubro.

Do Brasil de Fato

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