Após emendas, Conselho de Segurança aprova resolução por cessar-fogo em Gaza

Diário Carioca
Conselho de Segurança das Nações Unidas realiza encontro após veredito preliminar do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre a “plausibilidade” dos crimes de genocídio cometidos por Israel em Gaza, em Nova York, 31 de janeiro de 2024 [Fatih Aktas/Agência Anadolu]

O Conselho de Segurança das Nações Unidas enfim aprovou nesta segunda-feira (25) uma resolução que reivindica um cessar-fogo imediato em Gaza, assim como a soltura dos prisioneiros de guerra israelenses capturados pelo Hamas, após a abstenção dos Estados Unidos.

Em nota após a votação, a Casa Branca disse que o texto final carece de linguagem que considera “essencial”, de modo que não há mudanças em sua política.

Os outros 14 países que integram o conselho, no entanto, votaram favoravelmente à resolução, proposta pelos dez membros eletivos do órgão.

As informações são da rede de notícias Reuters Al Jazeera.

Washington se manteve avesso à palavra “cessar-fogo” após seis meses de bombardeios indiscriminados e ataques por terra do exército israelense contra a Faixa de Gaza.

Em três ocasiões, utilizou seu poder de veto contra resoluções neste sentido, apesar de alertas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de que a ofensiva ao território palestino pode incorrer em genocídio.

O governo americano do presidente democrata Joe Biden, no entanto, enfrenta crise interna em plena campanha eleitoral, assim como uma série de reveses diplomáticos em defesa de seu maior aliado no Oriente Médio.

Na semana passada, uma redação americana foi vetada por Rússia e China como enviesada politicamente e insuficiente para tratar da crise.

O cessar-fogo aprovado, no entanto, prevê uma trégua imediata somente até o fim do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, que se encerra em 9 de abril.

A resolução também ignora reivindicações palestinas por uma troca de prisioneiros que inclua os milhares de presos políticos sob custódia israelense — a maioria, em detenção administrativa, sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.

A moção se concentra, no entanto, na “necessidade urgente de se expandir o fluxo humanitário e reforçar a proteção de civis em toda a Faixa de Gaza e reitera a demanda para suspender todas as barreiras à provisão de assistência em larga escala”.

A rádio militar israelense confirmou que o premiê Benjamin Netanyahu decidiu cancelar a viagem de uma delegação a Washington devido ao veto. Para Netanyahu, a concessão americana é um “claro recuo”, em detrimento de supostos objetivos de guerra.

Biden desejava se reunir com oficiais israelenses para debater os planos de invasão por terra à cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito, onde 1,5 milhão de refugiados estão abrigados. Netanyahu insiste no ataque, ao sugerir a expulsão dos palestinos ao deserto do Sinai.

John Kirby, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca comentou: “Estamos bastante decepcionados que a delegação não venha a Washington, para que possamos ter uma conversa efetiva sobre opções viáveis à operação em Rafah”. Kirby confirmou, porém, diálogos com o ministro da Defesa, Yoav Gallant, em turnê na capital americana.

Na rede social X (Twitter), o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, advertiu: “Esta resolução deve ser implementada. Fracasso será imperdoável”.

Após a votação, Nicolas de Riviere, embaixador da França nas Nações Unidas, advertiu: “A crise não acabou. Nosso conselho tem de permanecer mobilizado e voltar ao trabalho. Após o Ramadã, daqui duas semanas, teremos de chegar a um cessar-fogo permanente”.

O Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina ecoou os apelos e destacou a importância de avançar na direção de cessar-fogo, assistência humanitária, troca de prisioneiros e medidas para auxiliar a enorme população deslocada.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 32.333 palestinos mortos e 74.694 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca