Washington, 31 out (EFE).- O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai alinhar todos os seus empréstimos e projetos a partir de 2023 com o Acordo de Paris, com o objetivo de acelerar a luta contra a crise climática na América Latina e no Caribe, anunciou o presidente da instituição, Mauricio Claver-Carone.
Em uma entrevista virtual à Agência Efe direto de Londres, onde se prepara para participar da conferência do clima COP26, que começa neste domingo em Glasgow, na Escócia, Claver-Carone enfatizou que o BID quer se posicionar neste sentido “não apenas como um líder regional, mas como um líder global”.
O presidente do BID destacou que o Acordo de Paris é “um marco na luta global contra a mudança climática”, mas reconheceu que “não é suficiente”, portanto a instituição “buscará ir mais longe para enfrentar este desafio global” na região.
Como resultado, todos os projetos do BID a partir de 2023 terão que ser enquadrados dentro de metas de emissões líquidas zero e planos de descarbonização de longo prazo.
O banco multilateral também elevará o limite anual de financiamento de projetos relacionados ao clima para 40% até 2025, incluindo a biodiversidade e o controle da poluição.
Este é um aumento em relação aos atuais 30% estabelecidos pelo BID, que já canalizou mais de US$ 5 bilhões por ano para este tipo de projeto.
AMÉRICA LATINA E CARIBE, REFERÊNCIAS GLOBAIS.
Claver-Carone, que dirige a principal instituição latino-americana de desenvolvimento desde outubro de 2020, destacou que a região é uma “referência” e um “exemplo” no uso de energias renováveis, citando seu grande peso na matriz energética em países como Brasil e Chile.
Entretanto, ele expressou “frustração” por ela ser também a “primeira vítima” da mudança climática em nível global.
“Quatro dos cinco países mais afetados do mundo estão na região: Haiti, Guatemala, Nicarágua e Honduras”, afirmou ele à Efe.
A COP26, que será realizada até 12 de novembro, buscará pactuar medidas concretas contra a mudança climática, seguindo as promessas feitas na assinatura do Acordo de Paris, em 2015, que incluem a tentativa de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius neste século.
IMPORTÂNCIA DO SETOR PRIVADO NO PROCESSO.
A magnitude do desafio é tamanha que Claver-Carone considera essencial ter o apoio do setor privado e explicou as ações tomadas pelo BID nesta frente.
“Somos pioneiros em títulos verdes na região”, disse o chefe do banco multilateral, que acrescentou que em breve o BID vai lançar o primeiro título azul.
Os títulos azuis fazem parte da nova onda de títulos temáticos, como os verdes ligados às energias renováveis ou à eficiência energética, que surgiram recentemente nos mercados globais de capitais.
Para Claver-Carone, o mundo mudou muito, e “hoje não há nenhuma empresa que não esteja procurando maneiras de investir nestes ativos”.
De acordo com as últimas estimativas, há cerca de US$ 53 trilhões em todo o mundo prontos para serem investidos até 2025 nesses tipos de ativos.
“Se pudéssemos conseguir apenas 10%, seriam mais de US$ 5 trilhões para o desenvolvimento da região, imagine como isso seria transformador. É uma boa notícia para o meio ambiente e para a economia”, disse.
Para dar “garantias e confiança” aos investidores, a organização lançou recentemente uma plataforma de transparência que permite que todas as etapas destes projetos sejam seguidas, disse Claver-Carone, que tem pai espanhol e mãe cubana, cresceu em Miami (EUA) e é o primeiro americano a dirigir o BID em suas mais de seis décadas de história. EFE