Desde a manhã de sábado (7), a comunidade internacional vem respondendo à chamada Operação Tempestade de Al-Aqsa, deflagrada pelas Brigadas al-Qassam, braço armado do movimento Hamas, contra a ocupação israelense.
O ataque surpresa compreendeu o disparo de milhares de foguetes, seguido pela infiltração de tropas da resistência nos assentamentos israelenses ao redor de Gaza.
Veja abaixo algumas das reações.
Egito e Arábia Saudita pediram a suspensão imediata dos confrontos em curso, reportou a agência de notícias Anadolu. Riad instou a comunidade internacional a retomar o processo de paz da chamada solução de dois Estados.
“O reino acompanha de perto os acontecimentos sem precedentes entre forças da ocupação israelense e facções palestinas, que culminaram em alto grau de violência em várias frentes”, declarou a chancelaria saudita em comunicado.
Neste sentido, a monarquia pediu “suspensão imediata da escalada, proteção de civis e comedimento de ambas as partes”.
O Egito advertiu para “graves riscos” devido aos incidentes em campo. Em comunicado, a chancelaria do regime militar de Abdel Fattah el-Sisi indicou “nível máximo de moderação para evitar expor civis a maiores riscos”.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, comentou: “Pedimos a ambas as partes que ajam com moderação à luz dos eventos em Israel nesta manhã e que evitem atos impulsivos que podem incorrer em uma escalada”.
Todavia, durante o 4° Congresso Extraordinário de seu partido (Justiça e Desenvolvimento, AK), Erdogan destacou que seu governo se mantém contrário a qualquer investida contra a Mesquita de Al-Aqsa.
O Ministério de Relações Exteriores do Catar reiterou que
“ Israel é o único responsável pela escalada em curso, devido a sua contínua violação dos direitos do povo palestino, incluindo as recentes incursões coloniais à Mesquita de Al-Aqsa sob escolta policial”.
A chancelaria em Doha reafirmou “urgência de que a comunidade internacional convença Israel a dar fim a suas violações flagrantes da lei internacional, ao respeitar a legitimidade das resoluções internacionais e os direitos históricos do povo palestino”.
O governo catariano reforçou também sua “posição resoluta sobre a busca por justiça da causa palestina, incluindo estabelecimento de seu Estado independente nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital”.
O movimento Hezbollah, fundado em 1982 no contexto de resistência à ocupação israelense no sul do Líbano, confirmou acompanhar os eventos em Gaza e manter “contato direto com a liderança da resistência palestina”.
ONU e Itamaraty
Tor Wennesland, coordenador especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio, expressou repúdio ao “ataque multifrontal” contra os assentamentos israelenses ao redor de Gaza, ao descrever a campanha de resistência como “ataque hediondo contra civis”.
“Tais eventos resultaram em cenas horríveis de violência e muitos mortos e feridos entre os israelenses, incluindo suposto sequestro de alguns à Faixa de Gaza”, comentou Wennesland, ao assumir um tom incisivo que parece contrapor falas sobre ataques de colonos e soldados contra civis palestinos nos territórios ocupados.
“Estou profundamente preocupado com o bem-estar de todos os civis”, acrescentou. “Estou em contato com todas partes relevantes para que exerçam máxima contenção […] Este é um perigoso abismo e peço a todos que saiam da beirada”.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil condenou a operação em nota, ao manifestar “condolências aos familiares das vítimas e solidariedade ao povo de Israel” e repetir apelos internacionais por “máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação”.
O Itamaraty negou relatos de vítimas entre a comunidade brasileira em Israel e na Palestina, até então.
“O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina”, acrescentou. “Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão”.
O ministério reafirmou ainda seu compromisso com “a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”.
No entanto, observou que “a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz”.
Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou em nota os “ataques chocantes perpetrados contra Israel por terroristas de Gaza”, ao confirmar contatos diretos com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
“Deixei claro […] que estamos prontos para oferecer todo e qualquer suporte adequado ao governo e ao povo de Israel”, prometeu Biden, ao insistir que o Estado de apartheid “tem o direito de defender a si mesmo e seu povo”.
“Os Estados Unidos alertam qualquer parte hostil contra tomar vantagem da situação”, prosseguiu a nota, em aparente referência ao Irã. “O apoio de minha administração à segurança de Israel é sólido e inabalável”.
Falsa simetria
A chamada Operação Tempestade de Al-Aqsa — deflagrada em torno das 6h30 da manhã do horário local — é a maior ofensiva a Israel em anos.
“Decidimos dizer basta”, explicou Mohammad Deif, comandante das Brigadas al-Qassam.
Em comunicado, Deif reiterou “a violação [israelense] de todas as normas, leis e convenções de direitos humanos internacionais”, ao citar a destruição de aldeias e cidades e centenas de massacres, incluindo demolições, deslocamento à força e assassinatos de crianças, mulheres e idosos.
“Alertamos previamente a ocupação contra persistir em seus crimes e apelamos aos líderes globais para que agissem pelo fim das violações israelenses, ao pressionar a ocupação para que respeite as leis e as resoluções internacionais”, afirmou o comandante palestino. “Nem os líderes israelenses ouviram nossos apelos, nem os líderes globais agiram neste sentido”.
Em resposta, o exército israelense anunciou sua Operação Espadas de Ferro.
Ao menos 198 pessoas foram mortas e 1.610 ficaram feridas na Faixa de Gaza, nas primeiras
horas da retaliação israelense, confirmou o Ministério da Saúde do governo local. A título de comparação, o serviço de resgate nacional de Israel, Magen David Adom, estimou 40 mortos e 740 feridos pela operação de resistência.
“Cidadãos de Israel, estamos em guerra”, insistiu o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em vídeo gravado no quartel-general de Tel Aviv. Pouco depois, Israel lançou bombardeios indiscriminados contra a Faixa de Gaza.
Ao menos 247 palestinos foram mortos por forças israelenses desde janeiro, contra 32 israelenses e dois estrangeiros.
O direito internacional prevê a resistência à ocupação e colonização como legítima — incluindo a resistência armada.
Do Monitor do Oriente