Cortes no fornecimento de insumos básicos por Israel devem deixar a única usina de energia elétrica da Faixa de Gaza sitiada sem combustível em poucos dias, deixando 610 mil pessoas sem serviços sanitários e água potável, alertou nesta terça-feira (10) o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA).
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Sob a nova escalada no cerco israelense, os 2.4 milhões de habitantes de Gaza — metade, crianças — têm acesso a apenas três a quatro horas de luz por dia. A usina local é a única fonte em operação atualmente, mas deve ficar sem combustível em breve.
Jens Laerke, porta-voz do OCHA, comentou a matéria durante coletiva de imprensa realizada em Genebra: “Essa decisão afeta ao menos 600 mil pessoas e deve culminar na falta crônica de água potável”.
Laerke reiterou que o número de pessoas deslocadas em Gaza aumentou “dramaticamente” desde sábado (7), chegando a 187.500 deslocados internos. A maioria buscou se abrigar nas escolas da Agência da ONU para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), declarou apreensão sobre a política de guerra adotada por Israel e reiterou que todas as partes relevantes têm obrigações de acordo com a lei internacional.
“A Unicef está alarmada com os cortes no fornecimento de água e comida a Gaza”, comentou o porta-voz
OMS pede corredor humanitário
Durante o mesmo informe, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu a abertura de um corredor humanitário a Gaza para providenciar à população civil todos os serviços de saúde necessários.
“A OMS pede o fim da violência. Clínicas, pacientes, trabalhadores de saúde e civis em geral têm de ser protegidos e salvaguardados”, alertou Tarik Jasarevic, porta-voz da agência. “Um corredor humanitário é preciso para que insumos críticos cheguem às pessoas”.
Jasarevic observou que foram confirmados 13 ataques israelenses ao setor de saúde de Gaza desde o início da atual escalada. Segundo seu relato, a OMS está realocando US$1 milhão às demandas mais urgentes da região.
Retórica de violência
Em resposta à agência Anadolu, Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU alertou contra a linguagem de incitação adotada por líderes envolvidos na crise, incluindo retórica de “ódio e violência em um contexto explosivo”.
“É responsabilidade das lideranças tentar acalmar as coisas e lidar com a situação com pleno respeito às leis humanitárias internacionais”, insistiu Shamdasani. “Infelizmente, vemos uma retórica que faz o exato oposto, alimenta tensões e violência”.
Shamdasani reiterou que todos os Estados têm obrigação de impor a devida proibição à propaganda de guerra e de ódio racial, nacional e religioso.
Na segunda-feira (9), o Conselho de Direitos Humanos da ONU respeitou um minuto de silêncio pela morte de inocentes nos territórios palestinos e além. O instante de luto se realizou após um discurso do enviado adjunto do Paquistão à ONU, em Genebra.
Zaman Mehdi declarou: “Peço um minuto de silêncio pelas vidas inocentes, entre as quais, mulheres, crianças e idosos. É ocasião de lembrarmos das vítimas de décadas de ocupação estrangeira nos territórios palestinos. Clamo que todos se levantem para que honremos as vítimas”.
Em torno das 6h15 de sábado (7), as Brigadas al-Qassam, braço armado do movimento de resistência Hamas, lançaram a Operação Tempestade de Al-Aqsa, contra postos militares e assentamentos no território designado Israel — ocupado durante a Nakba ou “catástrofe”, mediante limpeza étnica, em 1948.
A ação é resposta às violações do regime de apartheid na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada, a escalada de violência colonial na Cisjordânia e o cerco militar sufocante imposto contra Gaza há 17 anos.
Em retaliação, Tel Aviv anunciou sua Operação Espadas de Ferro, com ataques aéreos indiscriminados a Gaza desde então. Além disso, ordenou corte no abastecimento de insumos básicos, com apoio dos Estados Unidos e Europa.
A medida equivale a punição coletiva e crime de guerra sob a lei internacional.
Um total de 765 palestinos foram mortos pelos três dias de bombardeio israelense a áreas civis de Gaza, incluindo 140 crianças, segundo o Ministério da Saúde do território costeiro. Mais de quatro mil pessoas ficaram feridas.