Os Estados Unidos autorizaram a transferência de US$2.5 bilhões em bombas e jatos militares a Israel, apesar de alegar preocupações sobre a enormidade das baixas civis na Faixa de Gaza, assim como sobre as ameaças do Estado ocupante de invadir a cidade de Rafah, no extremo sul do território, que abriga hoje 1.5 milhão de refugiados.
As informações são da rede de notícias Al Jazeera.
O novo pacote inclui mais de 1.88 bombas MK84 de 900 kg e 500 bombas MK82 de aproximadamente 220 kg, segundo fontes do Pentágono e do Departamento de Estado, reportou nesta sexta-feira (29) o jornal americano The Washington Post.
Estados Unidos enviam anualmente US$3.8 bilhões em assistência militar a Israel.
Segundo a reportagem, bombas de 900 kg, por exemplo, podem causar dano a um raio de 300 metros, vinculadas a “eventos anteriores de baixas massivas” em Gaza.
De acordo com Kimberly Halkett, correspondente da Al Jazeera em Washington, o pacote contradiz relatos de “crescente fissura entre os governos de Israel e Estados Unidos”, em meio à campanha eleitoral à presidência americana.
Washington diz pressionar Israel para cessar as hostilidades após quase seis meses de sucessivos massacres. Na segunda-feira (25), preferiu se abster de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas por cessar-fogo, rompendo um padrão de três vetos.
Apesar da crise interna e externa sem precedentes que assola Israel — assim como Washington —, o Estado colonial insiste em sua invasão por terra a Rafah, na fronteira com o Egito, ao indicar esforços militares para expulsar os palestinos ao deserto do Sinai.
Neste sábado (30), o Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina criticou a postura da Casa Branca: “Exigir que Benjamin Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] pare de matar civis enquanto lhe fornece armas é uma contradição moral e de princípios”.
A chancelaria lamentou o “fracasso corrente” do Conselho de Segurança e do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, em compelir Israel a respeitar suas respectivas decisões sobre a aplicação da lei internacional nos territórios palestinos.
Senadores americanos pressionam o presidente Joe Biden a cortar ajuda a Israel até que assegure o fluxo humanitário a Gaza. Apesar de uma ordem de Haia emitida em janeiro, forças israelenses ainda obstruem as remessas assistenciais aos palestinos, que vivenciam uma violenta crise de fome.
O senador Bernie Sander, eleito como candidato independente de Vermont, porém coligado ao Partido Democrata, condenou a medida como “obscena”.
“Os Estados Unidos não podem implorar a Netanyahu que pare de bombardear civis em um dia e no outro dia enviá-lo milhares de bombas de 900 kg para destruir quarteirões inteiros”, observou Sanders na rede social X (Twitter). “Temos de dar fim à nossa cumplicidade: Chega de bombas a Israel”.
O ministro de Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, que sofre pressão popular para romper laços com o Estado ocupante, diante de manifestações de massa em frente à embaixada israelense em Amã, ecoou os apelos.
“Agências da ONU contam histórias de terror sobre o sofrimento em Gaza. Mais de 30 mil mortos. Dois milhões de pessoas famintas. Fatos que envergonham o mundo”, comentou Safadi no Twitter. “Armas precisam parar de chegar a Israel. Israel deve ser forçado a cessar essa catástrofe. É isso que exige a lei internacional e nossos valores humanos”.
A Casa Branca se recusou a comentar sobre o envio de armas.
‘Negócios como sempre’
Na sexta-feira, diante de pesquisas desfavoráveis contra seu adversário republicano Donald Trump, Biden reconheceu “sentir a pontada” pela rejeição da comunidade árabe-americana a seu posicionamento sobre Gaza. Todavia, insistiu em apoiar as ações israelenses.
Após a abstenção dos Estados Unidos no Conselho de Segurança, Netanyahu cancelou uma reunião entre oficiais de ambos os países em Washington. Após a ratificação do pacote militar, no entanto, Netanyahu buscou reagendar o encontro para segunda-feira, 1° de abril.
Segundo Marc Owen Jones, professor de assuntos do Oriente Médio da Universidade Hamad Bin Khalifa, a obstinação de Biden fere a reputação americana.
“Há algumas semanas, Washington aprovou uma lei orçamentária que reafirmou ajuda militar de US$3 bilhões a Israel enquanto cortava recursos da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina]”, comentou Owen Jones. “A política americana é basicamente negócios como sempre”.
De Rafah, Hani Hamoud, correspondente da Al Jazeera, observou que as ameaças israelenses sobre a Rafah “esgotam as pessoas, exaustas de viver em um estado de pânico”.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, deixando 32.623 mortos e 75.092 feridos, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio