Igreja Anglicana da África Austral denuncia Israel como Estado de apartheid

Diário Carioca
Cristãos anglicanos realizam funeral em Ulundi, na África do Sul, em 16 de setembro de 2023 [Rajesh Jantilal/AFP via Getty Images]

A Igreja Anglicana da África Austral (ACSA) reconheceu Israel como Estado de apartheid, em declaração oficial que contradiz a postura do arcebispo de Canterbury, Justin Welby, sobre a matéria e corrobora denúncias da comunidade internacional de direitos humanos.

Em setembro, durante evento da comunhão anglicana global, Welby se recusou a descrever a ocupação israelense como regime de apartheid

“Como gente de fé que se sensibiliza pela dolorosa ocupação da Cisjordânia e Gaza, e que guarda esperanças de paz, justiça e segurança para israelenses e palestinos, não podemos continuar ignorando a realidade em campo”, declarou o arcebispo anglicano da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba.

“Nosso coração chora por nossos irmãos e irmãs cristãos na Palestina, incluindo anglicanos cujos números rapidamente caem”, acrescentou o arcebispo. “Pessoas de todas as crenças na África do Sul têm profunda compreensão do que é viver sob opressão e experiência em como confrontar e superar a injustiça por meios pacíficos”.

“Quando negros sul-africanos que viveram sob apartheid visitam Israel, os paralelos a nossa dor são impossíveis de ignorar”, destacou Makgoba. “Se lavamos as mãos, somos cúmplices da contínua opressão contra o povo palestino”.

Makgoba reforçou apelos para que Israel dê fim à “ocupação em Gaza e na Cisjordânia e reconheça plenamente o direito palestino inalienável a sua autodeterminação”.

A ACSA reúne quatro milhões de cristãos da África do Sul e quatro outros países na porção austral do continente. A organização, que já foi chefiada pelo falecido arcebispo Desmond Tutu, celebrado com o Prêmio Nobel da Paz, teve protagonismo na luta contra o apartheid sul-africano entre 1948 e início da década de 1990.

Três anos atrás, a ACSA expressou seu apoio à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, embora sem formalizar até então sua designação do Estado ocupante como regime de apartheid.

A demora decorreu de um intenso lobby da Igreja Anglicana, sediada no Reino Unido.

Ao declarar seu apoio ao movimento de boicote, a ACSA insistiu, porém, que sua história denota “responsabilidade extraordinária dos sul-africanos em defender os oprimidos, da mesma maneira que outros na comunidade internacional os defenderam da opressão”.

Makgoba parece desafiar declarações recentes do chefe de sua igreja — o arcebispo londrino.

“Prefiro não usar a palavra apartheid porque o regime de apartheid na África do Sul — e conheci Desmond Tutu e ouvi o que tinha a dizer — estava imbuído no próprio tecido da constituição”, argumentou Welby.

Tutu, porém, era um notório ativista contra o racismo, tanto na África do Sul quanto em todo o mundo. Sobre Israel e a ocupação imposta sobre o povo palestino, Tutu tinha convicção de se tratar de um regime de apartheid.

Israel não tem constituição escrita, o que demonstra a fragilidade da alegação de Welby. Todavia, tem dezenas de leis racistas que discriminam entre palestinos nativos e colonos judeus, além de práticas flagrantes de apartheid, como discriminação de serviços, ruas e estradas exclusivas, perseguição política, entre outras.

Do MEMO

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