Srinagar (Índia), 28 out (EFE).- A inimizade histórica entre Índia e Paquistão chegou a um novo nível, com prisões e graves acusações de sedição, após alguns indianos, em sua maioria muçulmanos, terem comemorado a derrota do próprio país para a equipe paquistanesa em partida pela Copa do Mundo de críquete no último domingo.
“Os que comemorarem a vitória do Paquistão serão acusados de sedição”, afirmou nesta quinta-feira no Twitter o gabinete do chefe do governo do estado indiano de Uttar Pradesh, Yogi Adityanath, um monge hindu que sempre se veste com a cor sagrada do açafrão.
Adityanath também publicou um artigo de um jornal local relatando várias detenções em Uttar Pradesh por terrorismo cibernético e promoção da inimizade religiosa, depois de terem sido gritadas palavras de ordem anti-Índia e pró-Paquistão.
Entre os detidos estavam seis muçulmanos, três deles da Caxemira, a única região indiana de maioria muçulmana e que é disputada por Índia e Paquistão desde que foram separados, em 1947. Eles haviam comemorado a inesperada vitória do Paquistão em uma partida pela Copa do Mundo T20 em Dubai.
A maioria das detenções ocorreu em Uttar Pradesh, mas a polícia do estado do Rajastão também confirmou que uma professora muçulmana foi detida por escrever “Ganhamos”, em hindi e inglês, em seu status no WhatsApp.
De acordo com a imprensa local, a professora perdeu o emprego após a captura da tela ter viralizado nas redes sociais. A mulher afirmou que tudo havia sido uma piada entre os membros da família.
“Nunca quis dizer que estava apoiando o Paquistão contra a Índia. Depois, percebi que pegou mal e apaguei o status imediatamente. Sou indiana e amo a Índia tanto como vocês. Peço desculpas”, disse a mulher em vídeo.
Alguns estudantes da Caxemira no estado de Punjab, no norte do país, também relataram ataques de radicais hindus, mesmo sem celebrações.
As tensões políticas entre os dois países após um jogo de críquete não são um fato novo. Desta vez, até mesmo o único jogador muçulmano da equipe indiana, Mohammed Shami, foi acusado nas redes sociais de facilitar a vitória paquistanesa e de ser um traidor. Por outro lado, o mundo do críquete o apoiou.
“Nós o apoiamos. Ele é um campeão, e qualquer pessoa que use o boné indiano tem a Índia no seu coração muito mais do que qualquer turba online. Estamos com você, Shami”, escreveu o ex-jogador Virender Shewag no Twitter.
Na disputada região da Caxemira, onde existe um forte sentimento pró-independência, a vitória do Paquistão no domingo passado foi recebida com grande fervor, com diversas pessoas indo às ruas para comemorar o resultado com o lançamento de rojões.
Em resposta, a polícia da Caxemira apresentou várias denúncias, com base em uma lei antiterrorismo, contra pessoas desconhecidas em duas faculdades de medicina, após vídeos que mostravam comemorações terem viralizado na internet. EFE
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