Enquanto cristãos de todo o mundo celebram a Páscoa, palestinos na Terra Santa enfrentam severas restrições de acesso à Cidade Velha de Jerusalém, ocupada por Israel, para comemorar a ocasião em alguns dos principais santuários da jornada de Jesus.
Ao menos 200 líderes cristãos da Cisjordânia ocupada receberam autorizações para entrar na cidade; contudo, suas congregações foram proibidas de participar dos ritos, reportou o correspondente da Al Jazeera em Jerusalém, Imran Khan.
Segundo os relatos, as restrições não têm precedentes, ao reduzir as procissões da Sexta-Feira Santa, ao longo da Via Dolorosa, a números inferiores aos habituais, no contexto do genocídio em Gaza e da escalada colonial na Cisjordânia e em Jerusalém.
“Cristãos da Cisjordânia ocupada … querem vir à Cidade Velha para celebrar a Páscoa, mas não têm permissão”, explicou Khan. “Turistas internacionais não vieram este ano por conta da guerra em Gaza”.
Israel costuma deferir acesso limitado aos cristãos, ao discriminar muçulmanos em particular. Neste ano, contudo, autoridades coloniais estenderam suas restrições à totalidade dos palestinos nativos, na tentativa de impor sua supremacia em Jerusalém ocupada.
A Páscoa cristã costuma coincidir com o mês sagrado do Ramadã, quando muçulmanos jejuam até o pôr-do-sol — neste ano, entre 11 de março e 9 de abril.
Na atual conjuntura, Israel restringiu o acesso à Mesquita de Al-Aqsa — terceiro lugar mais sagrado do Islã — apenas a homens com mais de 55 anos e mulheres com mais de 50. Palestinos, no entanto, desafiaram as medidas e tomaram as ruas e vielas da Cidade Velha.
Nesta Sexta-Feira Santa, terceira sexta-feira do Ramadã, cerca de 125 mil palestinos realizaram suas preces em Al-Aqsa. Números habituais chegam a até 250 mil pessoas.
“Dias sombrios”
“Estes são dias bastante sombrios, dias bastante difíceis” comentou o reverendo Munther Isaac da cidade de Belém, na Cisjordânia. “As restrições deste ano certamente aumentaram. Até mesmo nós, aqui de Belém, não podemos ir a Jerusalém — a 20 minutos de distância”.
“Jerusalém é muito importante para nós, sobretudo na Páscoa. Estamos acostumados a orar na Igreja do Santo Sepulcro”, reiterou. “Mas esse é nosso dia a dia sob ocupação. A guerra se somou a nossas dores, por conta da enormidade das mortes e assassinatos”.
Fayaz Dakkak, dono de uma loja de souvenirs religiosos, destacou o impacto nas vendas. Multidões que costumavam vir de todo o mundo, para visitar o Santo Sepulcro, local conhecido pela ressurreição de Cristo, não compareceram devido à crise.
“Nos sentimos muito mais apreensivos por conta do racismo. Se passar por qualquer portão, seja os portões de Damasco, Jaffa ou outros, e a polícia ver que você não é israelense, certamente vai te parar e te revistar”, reportou Dakkak.
Rafi, coordenador da juventude cristã, reiterou ainda que colonos ilegais israelenses invadiram a Cidade Velha, ao torná-la uma zona de persistente violência.
“Mesmo antes da guerra, víamos colonos atacando as igrejas e mesmo os cemitérios cristãos”, reiterou Rafi. “Agora, eles atacam qualquer padre ou freira que esteja caminhando em Jerusalém. Mesmo os peregrinos da Via Dolorosa estão sendo atacados”.
Restrições arbitrárias impostas por Israel durante a Páscoa não são novidade. No ano passado, a Igreja Greco-Ortodoxa condenou o que descreveu como “restrições linha-dura” sobre a liberdade de culto durante os feriados religiosos.
Palestinos cristãos são regularmente impedidos de participar da cerimônia do Fogo Sagrado no Santo Sepulcro, realizada há séculos no Sábado de Aleluia. Lideranças eclesiásticas denunciam as restrições.
Israel mantém ataques a Gaza há quase seis meses, deixando mais de 32 mil mortos e quase 75 mil feridos, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados — entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.
Na Cisjordânia e em Jerusalém, Israel intensificou medidas de apartheid, campanhas de prisão e pogroms contra cidades e aldeias.
Hospitais, escolas, igrejas, mesquitas e mesmo rotas de fuga não foram poupados.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
Do MEMO