A chegada à Presidência dos Estados Unidos de Donald Trump, que neste sábado completa um ano, mexeu com os princípios do Partido Republicano como o livre-comércio e a globalização em um momento no qual, paradoxalmente, os conservadores gozam de um poder não visto em anos.
“O que Trump fez não é tanto mudar o Partido Republicano, mas dar voz a uma parte do partido em imigração e comércio. Uma das coisas que sua eleição expôs é que há muitos americanos que querem dureza em imigração”, afirmou Lanhee Chen, assessor político do ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney, em um recente artigo no jornal “Los Angeles Times”.
Trump, que fez campanha com uma agressiva retórica de nacionalismo e protecionismo econômico, forçou influentes republicanos moderados, como os senadores Jeff Flake e Bob Corker, a tomar um lado; e recebeu contundentes críticas por parte dos dois últimos presidentes republicanos, George H.W. Bush e George W. Bush, pela sua conduta pouco “presidencial”.
Além disso, o magnata prometeu acabar com o “status quo” em Washington, incluídos membros de seu próprio partido republicano, que considera uma parte afastada da realidade do dia a dia dos cidadãos.
E, como consequência, levou o partido conservador, tradicional aliado da comunidade empresarial e do livre-comércio, a engolir com um discurso agressivo com a globalização e não isento de cunhos racistas sobre imigração, com sua promessa de construir um muro fronteiriço com o México.
O Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), em vigor desde 1994 entre Canadá, México e EUA, contou com o respaldo maioritário dos republicanos no Congresso e é considerado entre os empresários americanos um sucesso.
Trump, por outro lado, o qualificou de maneira repetida como um “desastre” para os trabalhadores americanos.
Alguns pesos pesados conservadores dizem, no entanto, que é certo que Trump significou uma revolução interna entre os conservadores, especialmente com o seu estilo tosco e pouco convencional, as suas principais conquistas legislativas no seu primeiro ano de mandato entram dentro dos cânones republicanos.
“Desde um ponto de vista da direita moderada, 2017 foi o que ofereceu mais resultados nos muitos anos que estive aqui no Congresso”, disse recentemente Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado.
Concretamente, McConnell apontou para a reforma fiscal aprovada em dezembro – que inclui notáveis cortes de impostos para empresas e, em menor medida, aos trabalhadores -, a agenda de desregulação federal e as nomeações de juízes conservadores, liderada pela de Neil Gorsuch para o Supremo Tribunal.
A surpreendente chegada de Trump à Casa Branca devolveu aos republicanos o controle legislativo e executivo após os oito anos de presidência do democrata Barack Obama, que parecia ter sido um ponto de inflexão, e exaltou os ânimos da ala mais extrema de seu partido.
Na comemoração em dezembro da aprovação da reforma fiscal, o veterano senador por Utah Orrin Hatch, mórmon e um dos mais conservadores da Câmara Alta, chegou a afirmar que Trump era “um dos melhores presidentes que já tinha servido”.
Apenas um mês depois, curiosamente, Hatch anunciava sua aposentadoria.
O grande teste de fogo será agora nas legislativas em novembro, quando será renovada toda a Câmara de Representantes e um terço do Senado.
Os republicanos lutarão para manter a maioria em ambas as Câmaras em eleições que estarão marcadas pela sombra de Trump, e que costumam ser interpretadas como um referendo dos cidadãos na primeira parte do mandato do inquilino da Casa Branca.
EFE