O procurador geral da Venezuela, Tarek William Saab, convocou o deputado opositor Juan Guaidó a prestar depoimento perante o Ministério Público na próxima quinta-feira (2), como parte de um processo aberto para investigar uma nova tentativa de golpe de Estado. A denúncia, que envolve o parlamentar, foi feita pelo ex-militar venezuelano Cliver Alcalá Cordones em uma entrevista para uma rádio colombiana.
Cordones confirmou que havia se reunido ao menos sete vezes com assessores do governo de Donald Trump e com o ex-presidente da Assembleia Nacional venezuelana. Assegurou que mantinha 90 oficiais sob seu comando em acampamentos, onde eram treinados para uma ofensiva militar que incluía o assassinato do presidente venezuelano Nicolás Maduro.
A vice-presidenta do país, Delcy Rodríguez, inclusive apresentou imagens aéreas com a localização de três acampamentos e fotografias do deputado Juan Guaidó com líderes do grupo narco paramilitar colombiano Los Rastrojos, durante o 74º período de sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2019.
Durante transmissão televisiva em cadeia nacional, na última terça-feira (31), o procurador geral também ressaltou que as investigações do Estado venezuelano já vinham detectando esse tipo de planos desestabilizadores há dois anos.
Clíver Alcalá Cordones, que vivia há dois anos em Barranquilla, entregou-se ao Departamento Anti Drogas dos Estados Unidos (DEA) depois de assumir o novo plano de golpe de Estado que seria posto em prática ainda no mês de março.
Diante das novas denúncias, o Ministério Público abriu o processo MP 69482 – 2020 e exigiu um depoimento do deputado pelo partido Voluntad Popular.
Juan José Rendón Delgado, empresário venezuelano e assessor do presidente colombiano Iván Duque, e Freddy Vergara, assessor de Guaidó, também estão sendo investigados pelo Ministério Público, depois de serem citados nas declarações de Alcalá Cordones.
Reincidente
Esse não é o primeiro processo contra o deputado. O Ministério Público da Venezuela tem, ao menos, outras quatro investigações contra o parlamentar por sua participação em outros eventos desestabilizadores contra o país.
Em janeiro de 2019 foi aberto um processo por usurpação de poder, após sua auto proclamação como presidente interino do país. Saab também solicitou que o Tribunal Superior de Justiça adotasse medidas cautelares que incluíam a proibição da saída de Juan Guaidó do território venezuelano, o bloqueio de suas contas bancárias e a impossibilidade de transferência de bens e imóveis.
Em março, foi aberta outra investigação por sua suposta relação com a sabotagem elétrica que provocou um apagão total em 80% do território venezuelano. Também por denúncias do uso de dinheiro enviado do exterior, como suposta ajuda humanitária, para colocar em prática planos de desestabilização.
Procurador geral da Venezuela revelou fotos que comprovam apoio de grupo paramilitar à travessia ilegal de Guaidó por fronteira colombo-venezuelana / Divulgação
Já em setembro de 2019, o Ministério Público abriu uma nova ação depois que foram detidos membros do grupo paramilitar colombiano Los Rastrojos, que afirmavam ter relações políticas com o deputado venezuelano.
Nesse mesmo período, Guaidó foi acusado pelo procurador geral de traição à pátria por supostamente participar de negociações para entregar a região do Esequibo – território de 160 mil km², em disputa histórica com a Guiana.
A denúncia teve como base a gravação de uma ligação telefônica entre Vanessa Neumann, do departamento de Defesa dos Estados Unidos e Manuel Avendaño, assessor de Guaidó, na qual ambos comentavam sobre a entrega da região em disputa à empresa ExxonMobil.
Mesmo impedido de sair do território venezuelano por decisão judicial, já que está sob investigação, Guaidó realizou ao menos duas viagens internacionais pela Europa e pelos Estados Unidos. Na última ocasião assistiu ao discurso anual de Trump ao Congresso estadunidense e esteve também no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suiça.
Até o momento, Guaidó não se manifestou sobre a convocação. O deputado opositor continua afirmando ser o presidente encarregado do país.
Edição: Leandro Melito