Desde sábado, 15 de abril, intensos conflitos têm ocorrido entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF), em Cartum e outras áreas do Sudão. Muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde, atualmente não podem se movimentar devido à violência. A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem testemunhado uma situação terrível nos locais onde consegue fornecer cuidados. Desde o acirramento das hostilidades, MSF recebeu um total de 136 pacientes feridos no hospital que apoia em El Fasher, no norte de Darfur – 11 morreram devido aos ferimentos.
“A maioria dos feridos é de civis que foram atingidos no fogo cruzado – entre eles, muitas crianças”, disse Cyrus Paye, coordenador do projeto de MSF em El Fasher.”Eles têm ferimentos extremamente graves e, até sábado à tarde, não havia capacidade cirúrgica neste hospital. Todos os outros hospitais no norte de Darfur tiveram que fechar – seja devido à proximidade com os conflitos ou porque os funcionários não conseguiam chegar às instalações por causa da violência. Por isso, não havia lugar para encaminharmos os pacientes para tratamento. Como consequência, 11 pessoas morreram devido aos ferimentos nas primeiras 48 horas de conflitos”, lamentou.
Ele explicou que, na tarde de sábado, “uma pequena equipe de cirurgiões dos hospitais que precisaram fechar começou a realizar intervenções cirúrgicas no hospital”. Até domingo, eles haviam realizado seis grandes cirurgias em pessoas feridas pela violência.
O coordenador afirmou que um dos problemas é que “o hospital está ficando rapidamente sem suprimentos médicos para tratar os sobreviventes. O estoque de remédios e de sangue para transfusões está acabando”. Além disso, houve uma queda de energia na cidade após o início dos conflitos, e o estoque de combustível para o gerador do hospital está baixo. “Recebemos uma lista de itens cirúrgicos que a equipe de cirurgia precisa urgentemente e estamos procurando um corredor seguro para transportá-los ao hospital por meio de duas ambulâncias de MSF”, disse ele.
Outra complicação é que, devido aos conflitos, o aeroporto está fechado desde sábado. “É vital que o local seja reaberto para que possamos trazer suprimentos médicos adicionais e, possivelmente, uma equipe cirúrgica de MSF para apoiar os cirurgiões que estão atuando na região. Sem esses suprimentos vitais, haverá mais perdas de vidas.”
Em outras áreas do país, especialmente nos estados de Cartum, Darfur, Kordofan do Norte e Gedaref, as equipes de MSF enfrentam sérios desafios. As instalações de MSF em Nyala, no sul de Darfur, foram saqueadas, incluindo um dos armazéns. Em Cartum, a maioria das equipes está encurralada pelos intensos conflitos em curso e não consegue acessar os armazéns para entregar suprimentos médicos vitais aos hospitais. Até mesmo as ambulâncias estão sendo impedidas de atravessar áreas. Os veículos não estão autorizados a passar para recolher os corpos das pessoas mortas nas ruas ou para transportar feridos ao hospital.
MSF teve contato com equipes médicas sudanesas em Cartum e em outras regiões do país onde pacientes feridos estão sendo recebidos. Muitos estão de plantão há muitas horas, prestando cuidados vitais em circunstâncias extremamente difíceis e apesar do impacto da situação sobre eles e suas próprias famílias.
A organização está pronta para fornecer suprimentos e profissionais médicos para as principais instalações de saúde funcionais que precisam de apoio, mas é muito perigoso para qualquer um se deslocar dentro de Cartum e outras cidades. Muitas pessoas também não conseguem chegar a nenhuma das unidades de saúde que estão abertas devido à violência em curso e ao medo de arriscar sua segurança.
MSF está fazendo um apelo urgente para que os civis sejam protegidos dos ataques indiscriminados e desproporcionais que estão ocorrendo. Pedimos a todas as partes em conflito que garantam a segurança da equipe médica e dos pacientes para que possam acessar as instalações de saúde sem temer por suas vidas.
Além disso, solicitamos que as partes em conflito garantam que todas as instalações de saúde – incluindo hospitais, clínicas, armazéns e ambulâncias – estejam protegidas. Elas nunca devem ser um alvo.
No Sudão, MSF oferece cuidados médicos imparciais e que salvam vidas a todos aqueles que precisam, com base apenas nas necessidades médicas, mas atualmente não podemos nos deslocar devido à intensidade dos conflitos. Reiteramos nosso apelo para que todos os envolvidos no contexto de violência respeitem as equipes médicas, as instalações de saúde e as ambulâncias e poupem a vida de civis e profissionais humanitários.