O que há por trás da tensão migratória entre União Europeia e Belarus?

Diário Carioca

Moscou, 12 nov (EFE).- A tensão entre União Europeia (UE) e Belarus aumenta a cada dia desde que cerca de 2 mil pessoas chegaram de Minsk à fronteira polonesa na segunda-feira, uma pressão do autoritário líder bielorrusso, Alexander Lukashenko, sobre o bloco e que tem os migrantes como principais vítimas.

Migrantes na fronteira entre a Polônia e Belarus. EFE/IREK DOROZANSKI / POLISH TERRITORIAL DEFENCE FORCE

Estas são as chaves da crise:

Soldados poloneses guardam a fronteira com Belarus. EFE//IREK DOROZANSKI / POLISH TERRITORIAL DEFENCE FORCE

O QUE OCORREU?

Soldados poloneses guardam a fronteira com Belarus. EFE//IREK DOROZANSKI / POLISH TERRITORIAL DEFENCE FORCE

Na segunda-feira passada, uma grande fila de migrantes do Oriente Médio, a maioria curdos do Iraque e da Síria, chegou à fronteira bielorrussa com a Polônia. Em imagens divulgadas, as forças de segurança bielorussas puderam ser vistas acompanhando cerca de 2.000 migrantes, de acordo com Minsk.

Desde então, foram montados acompamentos precários com madeira e tendas na fronteira, durante baixas temperaturas noturnas, que são combatidas com fogueiras, e falta de comida. Entre os migrantes há muitas crianças e mulheres grávidas.

Na quinta-feira, a primeira operação humanitária chegou à fronteira com a ajuda da Cruz Vermelha bielorrussa e da ONU.

Deste enclave perto da região bielorrussa de Grodno, muitas pessoas vestidas com roupas quentes tentaram cortar o arame farpado e atravessar para a UE, mas do outro lado da fronteira foram recebidos por 15 mil guardas poloneses.

COMO CHEGARAM À FRONTEIRA?

Através do que é conhecido como rota bielorrussa. As pessoas chegam em voos provenientes do Oriente Médio e dos países do golfo operados por diferentes companhias aéreas, por exemplo, da Turquia. Belarus alega que esses indivíduos chegam legalmente com vistos turísticos. Mas as ONG consultadas pela Agência Efe afirmam que a operação é organizada pelo governo de Minsk.

Segundo a advogada bielorrussa Aliona Chekhovich, especialista em imigração, “foram as autoridades que lançaram uma campanha publicitária há vários meses” na qual Belarus foi promovida como país de trânsito para a UE.

As agências de turismo e operadores turísticos que dependem da administração presidencial deveriam participar desta campanha para se beneficiarem.

FLUXO DE MIGRAÇÃO.

A origem reside nas sanções ocidentais contra o regime do presidente bielorrusso. A UE ignora o resultado das eleições presidenciais de agosto de 2020, nas quais Lukashenko recebeu mais de 80% dos votos e que a oposição e o Ocidente consideram fraudulentos.

A repressão – que inclui denúncias de tortura – foi a resposta de Minsk aos maiores protestos da oposição e dos cidadãos na história de Belarus.

As sanções foram agravadas após o regime bielorrusso ter forçado o pouso de um voo de baixo custo da Ryanair na rota Atenas-Vilnius em maio devido a um aviso de bomba que se revelou falso.

Este desvio do avião permitiu que o governo bielorrusso prendesse o jornalista opositor Roman Protasevich e a sua esposa, a cidadã russa Sofia Sapega.

Lukashenko alegou então que não era obrigado a proteger a UE do fluxo de migrantes quando o bloco impôs sanções com impacto na economia do país.

“Eles estão nos sufocando e nós devemos protegê-los? Ouça, isso não é ingênuo? Ingenuamente, isto já é uma loucura”, disse em julho, admitindo pela primeira vez que não faria nada para interromper o fluxo.

A POLÓNIA É O ÚNICO PAÍS AFETADO?

Não, desde a primavera passada (no hemisfério norte) as tentativas de entrar ilegalmente na Letônia, na Lituânia e na Polônia a partir de Belarus se multiplicaram. Só que desta vez o movimento foi enorme.

QUAL É A REAÇÃO DA POLÓNIA?

A Polônia reforçou a sua fronteira com Belarus com 15 mil guardas de fronteira, policiais e reservistas. O estado de emergência permanece em vigor nos quase 200 municípios de fronteira de Belarus e os civis foram completamente proibidos de entrar nas zonas mais conflituosas.

Varsóvia, juntamente com toda a UE, considera a crise não uma crise migratória, mas uma crise política, e acusa Lukashenko de tráfico humano e de empreender uma guerra híbrida contra o bloco europeu para desestabilizá-lo.

Até agora, a Polônia não tem sido transparente sobre a situação na sua fronteira com Belarus, à qual está bloqueando o acesso, nem aceitou a ajuda da Frontex ou de outras agências europeias.

E OS PAÍSES BÁLTICOS?

O primeiro-ministro lituano, Gabrielius Landsbergis, solicitará à ONU que pressione Belarus a abrir um corredor humanitário para permitir que os migrantes reunidos na fronteira com Lituânia e Polônia voltem para casa.

Ele quer que a ONU supervisione que os migrantes que estão dispostos a voltar aos seus países de origem a partir das zonas de fronteira possam retornar em segurança. O aeroporto de Grodno, uma cidade de Belarus perto das fronteiras com Ponônia e Lutuânia, seria disponibilizado para este fim.

MEDIDAS DA UE.

A União Europeia tem mostrado apoio a Polônia, Lituânia e Letônia. A agência europeia de fronteiras Frontex está ajudando a Polónia na devolução de migrantes irregulares ao Iraque.

Na terça-feira, a UE decidiu suspender parcialmente a implementação do acordo de facilitação de vistos entre UE e Belarus, o que afetará os integrantes do governo bielorrusso.

A UE prepara o quinto pacote de sanções contra o regime de Lukashenko, que inclui a exploração de medidas restritivas contra o governo e a companhia aérea estatal bielorrussa Belavia, mas também contra companhias aéreas de outros países “ativamente envolvidas no tráfico de seres humanos”.

Para tentar neutralizar a crise pela raiz, a vice-presidente da UE, Margaritis Schinas, iniciou na quinta-feira uma viagem pelos Emirados Árabes que a levará a vários países de origem e de trânsito para discutir com as autoridades nacionais como conter o fluxo de migrantes irregulares. Ela está no Líbano neste momento, e depois viajará para outros países. EFE

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