Profissionais de saúde estão expostos e sem proteção

Diário Carioca

A informação de que os Estados Unidos enviaram mais de vinte aviões à China para a compra de equipamentos de proteção para profissionais da área de saúde, acendeu um alerta no mundo todo. Noticiada pelo jornal New York Times nesta semana, a ação do governo estadounidense foi recebida com preocupação especial no Brasil, onde aumentam relatos dramáticos de falta de materiais como luvas, máscaras, aventais e álcool em gel, entre outros.

Enquanto a pandemia avança no país, médicos, enfermeiros e outros trabalhadores de unidades de atendimento atuam sem proteção básica, encarando o risco de serem infectados e espalharem ainda mais a covid – 19. O temor é de que a atitude do governo de Donald Trump piore a situação de desabastecimento.  

Mas o problema no Brasil é anterior. Se no mundo todo, as nações enfrentam a falta de equipamentos, por causa da extensão da pandemia, o Brasil ainda tem a desvantagem da falta de financiamento público e do sucateamento da área da saúde.

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O médico sanitarista e professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, Pedro Tourinho, que também é vereador na cidade, lembra que o Sistema Único de Saúde (SUS)  já perdeu cerca de 22 bilhões de reais desde a promulgação da Emenda Constitucional do teto de gastos (EC 95), criada pelo governo de Michel Temer e endossada por Jair Bolsonaro.

Segundo ele, este ano a previsão é de menos 10 bilhões no sistema. O SUS, que já tinha questões estruturais, passou a enfrentar uma crise de grandes proporções, que causa repercussões em toda a sociedade e atinge em cheio os profissionais da área. 

“Para quem sabe o que nós estamos precisando em termos de respirador, de máscara, de equipamento de proteção individual, de leito de UTI, de leito hospitalar, 10 bilhões de reais já quase resolveriam tudo isso. Um total de 32 bilhões então, nem se fala, a diferença seria brutal. Não tenho a menor dúvida de que esse dinheiro está fazendo uma imensa diferença”, afirma.

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O médico ressalta que, além do teto de gastos, o governo federal diminuiu sistematicamente os repasses para os municípios. Muitas cidades não estão dando cota de suprir esses cortes.  A falta de profissionais e as condições de trabalho deterioradas são consequências diretas desse processo, aponta Tourinho.

Quando você tem menos gente para lidar com uma emergência como a covid-19, esses profissionais vão estar mais sujeitos à estafa, a adoecerem, sujeitos a escalas de trabalho mais puxadas. Para além disso foram abandonadas, por opção política, medidas que trabalhavam no sentido de fortalecer o parque industrial da área de saúde no Brasil. Isso faz toda diferença quando a gente vai enfrentar agora uma crise de falta de equipamentos médicos. 

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Os riscos não são apenas à saúde física desses profissionais. Frente a uma situação tão precária, o adoecimento psicológico também é uma realidade, alerta o médico sanitarista.

“Há hipóteses e estudos em análise pelo mundo que indicam que profissionais da saúde estão mais passíveis a adoecerem gravemente por lidarem com cargas virais muito elevadas e exposições virais muito elevadas. Isso ainda não está certo, mas uma coisa segura é que eles vão sim adoecer em maior número do que a população em geral. Esses trabalhadores, além de tudo, estão submetidos a uma carga psíquica absolutamente devastadora. A inépcia dos nossos governantes agrava tudo isso. A gente precisa trabalhar para garantir que esses trabalhadores tenham acesso a equipamentos de segurança e adotar rigorosamente as medidas de contenção social, principal medida que pode fazer com que esses trabalhadores estejam expostos a menos casos de uma vez.”.

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Na opinião de Tourinho, a pandemia deveria criar um espaço de reflexão sobre a organização das estruturas de saúde do Brasil. O sistema como um todo precisaria se empenhar em acabar com a noção de que é preciso garantir ascensão social para que a população possa comprar planos de saúde e caminhar no sentido de que o sistema público seja sempre a melhor opção para todos os brasileiros. 

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“Não é compatível com a democracia você ter cidadãos que podem comprar saúde e ter saúde melhor, ao mesmo tempo em que há pessoas que, por não poderem pagar, muitas vezes vão até mesmo perder suas vidas”, conclui.

Edição: Leandro Melito


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