Londres, 17 nov (EFE).- As vacinas reduziram a mortalidade infantil nos países mais pobres em 70% nas últimas duas décadas, mas quase 10 milhões de crianças permanecem sem imunização, deixando-as vulneráveis a doenças como poliomielite, sarampo e pneumonia.
A constatação foi feita em estudo conduzido pela Universidade de Montreal no Canadá, e publicado na revista “The Lancet Global”, que analisa algumas das causas desse atraso.
Mais de 65% dessas 10 milhões de crianças não vacinadas, que chama de “dose zero”, vivem abaixo da linha de pobreza em aldeias, favelas ou zonas de conflito, e em famílias cuja renda diária não ultrapassa R$ 13.
Entretanto, os pesquisadores questionam se a pobreza por si só, o fracasso dos governos e seus sistemas de saúde em alcançar os mais desfavorecidos, ou a incapacidade de superar as disparidades sociais enraizadas explicam essa situação.
Para responder a essa pergunta, a Universidade de Montreal e colegas da Universidade de Pune (Índia) analisaram pesquisas nacionais realizadas pelas autoridades indianas entre 1992 e 2016, com dados de cerca de 73 mil crianças de 12 a 23 meses, a idade padrão para certas campanhas de vacinação.
Eles descobriram, primeiro, que a Índia fez grandes progressos durante esse período, com a proporção de crianças com dose zero caindo de 33% para 10% em 24 anos.
Mas também confirmaram que, em 2016, a maioria dos não vacinados estava concentrada nos grupos mais desfavorecidos, em lares de baixa renda e entre bebês nascidos de mães sem educação formal.
Eles também descobriram que os não imunizados, em comparação com os vacinados, são mais propensos a sofrer de desnutrição, como evidenciado pelo fato de que em 1992, 41% da dose zero eram “severamente atrofiados”, em comparação com 29% dos que tomaram todas as injeções. Exatos 25 anos depois essa proporção ainda é desigual, com 25% e 19%.
De acordo com estimativa dos autores do estudo, existem cerca de 2,9 milhões de crianças não vacinadas na Índia, concentradas principalmente em estados e distritos menos desenvolvidos e em várias áreas urbanas.
“Estas crianças continuam pertencendo a grupos socialmente desfavorecidos, incluindo famílias rurais, famílias mais pobres, muçulmanas, com mães menos instruídas e mulheres grávidas que não se beneficiam plenamente dos serviços de saúde”, observa o cientista Sunil Rajpal, da Universidade de Pune.
Traduzindo as descobertas para o contexto global, os pesquisadores salientam que o status de dose zero é um indicador importante de vulnerabilidade ligado à desvantagem sistemática para a vida.
Eles frisaram a necessidade de identificá-lo o mais cedo possível para enfrentar os fatores complexos das desigualdades, para que os formuladores de políticas possam combater as desigualdades intrageracionais. EFE