O rei Abdullah II da Jordânia disse hoje, na Assembleia Geral da ONU, que o tempo só tem agravado a situação dos palestinos desde a criação do Estado de Israel. “Sete décadas e meia depois, ainda está ardendo. Para onde estamos indo? Sem clareza sobre o futuro dos palestinos, será impossível convergir para uma solução política para esse conflito”, disse ele. “Cinco milhões de palestinos vivem sob ocupação – sem direitos civis, sem liberdade de mobilidade, sem poder de decisão sobre suas vidas”. Suas cobranças foram dirigidas à comunidade internacional e à ONU a quem instou a ir “de vez, à raiz dos problemas” porque a tragédia tem aumentado. Para o monarca, “atrasar a justiça e a paz trouxe ciclos intermináveis de violência” e ele destacou o fato de que este ano de 2023 já é o mais mortal dos últimos 15 anos para os palestinos, em uma “escalada da violência e do derramamento de sangue no território palestino ocupado” que “está cobrando um preço terrível dos civis”. A Jordânia, Jerusalém e os refugiados O reflexo da crise na Palestina está na situação dos refugiados, agravada pelo êxodo sírio nas duas últimas décadas de conflitos. Ele descreveu o que acontece na Jordânia, para onde muitos palestinos e sírios foram forçados a migrar, e novas gerações surgem, à espera de uma solução da comunidade internacional para o direito de retorno. “Não devemos abandonar os refugiados palestinos às forças do desespero”, disse, informando que “cerca de um terço dos 11 milhões de habitantes da Jordânia são refugiados sírios e palestinos. É uma tragédia. Cerca de 1,4 milhões de refugiados são crianças. E continuam a nascer centenas, milhares, em território jordano. Fazemos o melhor que podemos, mas os nossos recursos estão chegando ao fim”, alertou. LEIA: Lula responsabiliza ineficácia da ONU por manutenção dos conflitos, cita Palestina e pede reforma do Conselho de Segurança Enquanto os israelenses podem expressar livremente sua identidade nacional, “o povo palestino é privado desse mesmo direito”, disse ele, defendendo o o estabelecimento de um Estado “palestino independente e viável, nas linhas de 4 de junho de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo ao lado de Israel em paz, segurança e prosperidade”. Ele acrescentou que a Jordânia continua comprometida em salvaguardar a identidade de Jerusalém, que é “um ponto crítico para a preocupação global”. Mas não cabe apenas à Jordânia, advertiu: “Preservar Jerusalém, como a cidade da fé e da paz para o Islã, o cristianismo e o judaísmo, é uma responsabilidade que todos nós compartilhamos”, disse ele. Além da piora progressiva da vida palestina pela falta de solução da comunidade internacional, Abdullah afirmou que as agências internacionais de apoio aos refugiados estão quase sem fundos e “os pedidos de ajuda financeira ficam muito aquém do necessário”. Defesa da UNRWA Abdullah defendeu “financiamento sustentável” para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio(UNRWA) que “fornece serviços vitais de assistência, educação e saúde a milhões de refugiados palestinos” e é “essencial para proteger as famílias, manter as comunidades estáveis e preparar os jovens para uma vida produtiva”. “Devemos proteger os jovens palestinos dos extremistas que se aproveitam de suas frustrações e desesperança, garantindo que eles continuem a aprender nas escolas sob a bandeira azul das Nações Unidas”, disse ele. “A alternativa serão as bandeiras negras do terror, do ódio e do extremismo.” Ele alertou para as consequências da crise fora da Palestina ou da vizinha Jordânia. “O impacto dos refugiados não afeta um só país, uma só região. Veja-se o exemplo das fugas para a Europa”, referindo-se às crises constantes de países europeus para onde enormes levadas de deslocados e refugiados tentam se dirigir nas perigosas travessias do Mediterrâneo. A região continuará sofrendo, segundo ele, até que o mundo “ajude a levantar a sombra do conflito palestino-israelense” que, acentuou: “é a questão central no Oriente Médio”. LEIA: Emir do Catar aborda questões regionais na ONU, condena inação sobre a Palestina