Sequestro de reféns impõe desafio inédito a Israel e encurrala Netanyahu

Diário Carioca
Jovem palestino e comboio militar israelense em Nablus, na Palestina - Zain Jaafar / AFP

Durante os ataques do último sábado (7), o Hamas sequestrou quase 200 israelenses, em uma ação sem precedentes. Esses reféns, que foram levados para dentro do território palestino, terão papel fundamental nas próximas semanas e já foram cruciais no cálculo da contraofensiva organizada pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. É o que explica a professora de História Árabe da Universidade de São Paulo (USP), Arlene Clemesha.

“Ele [Netanyahu] só não partiu para um ataque maior porque tem israelense dentro da Faixa de Gaza. É importante lembrar que não é só o Hamas; o Hezbollah em solidariedade também atacou Israel, há reféns levados para dentro da Palestina, outros apoios na região podem chegar, então há uma configuração complexa, que faz ser difícil imaginar o que virá”, explica Clemesha.

Em 2006, Israel passou pela mesma situação, lembra o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser. Naquele ano, os israelenses tiveram três soldados sequestrados, sendo dois pelo Hezbollah, grupo paramilitar do Líbano, e um pelo Hamas.

A solução contra o Hezbollah, lembra o docente, foi atacar outros pontos e não o grupo. “Israel não fará uma contraofensiva do tamanho que gostaria por saber que existem reféns com o Hamas. Com esses sequestros, o Hamas ganhou poder de negociação. Veja, em 2006, quando o Hezbollah sequestrou os soldados israelenses, a solução que Israel encontrou foi não atacar o grupo, mas bombardear Beirute (Líbano).”

Israel atacou o Líbano por 34 dias, causando a morte de 1,2 mil libaneses, a maioria civis. Ao todo, 119 soldados israelenses morreram no confronto. De acordo com levantamento feito pela ONU na época, 130 mil casas foram destruídas no Líbano por mísseis de Israel.

Dois anos depois do sequestro, em 2008, os corpos dos dois soldados israelenses foram trocados por cinco presos políticos libaneses. Essa negociação foi considerada uma vitória do Hezbollah.

Já o sequestro do soldado Gilad Shalit, em 25 de junho de 2006, também pelo Hamas, trouxe consequências mais graves para Israel. O militar ficou detido em território palestino por cinco anos.

Em 2011, o governo de Israel aceitou trocar Shalit por 1.027 presos palestinos, aceitando a exigência feita pelo Hamas. O acordo foi mediado pelo Egito e o soldado israelense retornou para sua casa.

“Ainda não está muito claro o [número] que o Hamas conseguiu de reféns, é um número acima de 200 prisioneiros. É um número inédito, uma coisa enorme. Se eles [Israel] tentarem destruir Gaza como às vezes anunciam, eles têm um problema por conta desses prisioneiros. E há, entre os prisioneiros, oficiais graduados”, recorda Salem Nasser, professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Do Brasil de Fato

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