Miami, 20 out (EFE).- Os veículos de comunicação membros da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) expressaram nesta quarta-feira preocupação com o “ambiente asfixiante” para a liberdade de imprensa observado no continente americano, especialmente em Cuba, Venezuela e Nicarágua.
No segundo dia da 77ª Assembleia Geral da organização foi feita uma referência a estes países e a uma tendência ao autoritarismo que pode ser observada nos governos de outros países, “de uma cor ou de outra”, como disse o presidente do Comitê para a Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Carlos Jornet, do jornal argentino “La Voz del Interior”.
“Ditadores e autocratas, e líderes com um verniz de democracia, encontram formas de exercer censura e abuso contra cidadãos que levantam a voz”, advertiu Jornet antes do debate sobre os relatórios sobre a liberdade de imprensa nos países da América, que nesta quarta-feira são o foco da reunião virtual de quatro dias.
A discussão sobre como lidar com os diferentes graus de dificuldade para o exercício do jornalismo livre no hemisfério foi precedida por uma conversa entre Jornet e a presidente da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), a chilena Antonia Urrejola Noguera, que manifestou preocupação com a “fase crítica” em que a Nicarágua se encontra.
REPRESSÃO VAI CONTINUAR NA NICARÁGUA.
Urrejola frisou que no país centro-americano, o governo do presidente Daniel Ortega e da sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, estabeleceu “um estado de exceção de fato, um estado policial”, no qual as instituições democráticas foram progressivamente enfraquecidas desde os protestos de abril de 2018.
Como arma para combater este cenário, a chefe da CIDH defendeu a pressão e uma resposta coordenada da comunidade internacional “para dar visibilidade ao que está acontecendo dentro”.
Após as eleições presidenciais de 7 de novembro, “a repressão continuará, e é importante para a sociedade nicaraguense saber que não está sozinha”, analisou a chilena.
A presidente da CIDH mencionou a resolução aprovada nesta quarta-feira na Organização dos Estados Americanos (OEA), que pede à Nicarágua a libertação “imediata” dos candidatos à presidência nas eleições de novembro que foram detidos e dos “presos políticos”.
Urrejola destacou que nos últimos meses não só candidatos presidenciais, mas também jornalistas e defensores dos direitos humanos foram detidos, “todos com histórias políticas diferentes e até ex-sandinistas”.
“Qualquer voz dissidente está sendo criminalizada e perseguida”, advertiu.
A atual crise sócio-política surgiu em 2018, quando houve protestos em massa contra Ortega, no poder desde 2007 e que tentará uma nova reeleição em novembro.
TENDÊNCIA AO AUTORITARISMO.
Diante do que descreveu como “uma tendência preocupante para o autoritarismo” no hemisfério, a presidente da CIDH pediu a proteção do “espaço público para garantir a pluralidade, que é a base de uma sociedade democrática”, enquanto advertiu que “o autoritarismo começa com poucos, o estado de direito está se deteriorando gradualmente”.
“Estamos preocupados com as restrições à liberdade de imprensa que temos visto em países como a Guatemala, El Salvador e Honduras”, disse ele.
Urrejola enalteceu o jornalismo independente que “mostra a verdade” e afirmou que é “perigoso” exercer a profissão em países como Cuba, Venezuela e Nicarágua.
O aumento da repressão com ataques à liberdade de imprensa e ataques físicos a jornalistas independentes em Cuba, Venezuela e, em menor medida, no Peru, também chamou a atenção na assembleia.
No caso do Peru, Rodrigo Salazar Zimmermann, diretor executivo do Conselho de Imprensa do Peru (CPP, na sigla em espanhol), disse que o país ainda não alcançou os níveis da Nicarágua, mas que é “a pior situação para a liberdade de expressão e imprensa desde a queda de Alberto Fujimori (1990-2000)”.
Zimmermann criticou as limitações de acesso à informação pública para a imprensa, a recusa do presidente e dos seus ministros em dar entrevistas e a recusa de permitir o acesso dos veículos privados a eventos e cerimônias públicas.
No entanto, apesar da “retórica agressiva contra a imprensa e os jornalistas” e da “tensão constante”, não tem havido um “agravamento do lado executivo” de Castillo, reconheceu.
REPRESSÃO SE AGRAVA EM CUBA E VENEZUELA.
Cuba é hoje, após os protestos de 11 de julho, um país de “muito alto risco para os jornalistas”, disse em painel Henry Constantín Ferreiro, jornalista cubano do “La Hora de Cuba” e vice-presidente regional do Comitê para a Liberdade de Imprensa e Informação da SIP.
Na opinião de Constantín, que ficou detido em uma delegacia por ter participado da cobertura dos protestos, o “aumento da rebeldia dos cubanos” implica um risco extra para os jornalistas que querem fazer reportagens sobre as manifestações pacíficas, que levaram a prisões arbitrárias e processos sumários.
O jornalista independente afirmou que a “repressão se intensificou”, levando em conta a intenção de um grupo de ativistas de realizar um novo protesto a 15 de novembro.
Miguel Henrique Otero, editor do jornal venezuelano “El Nacional”, que foi expropriado e teve as instalações tomadas pelo exército, explicou que o jornalismo independente teve de migrar para a internet, apesar de as páginas sofrerem “bloqueios” intermitentes por parte do governo.
Otero denunciou uma nova prática de intimidação por parte do regime venezuelano que consiste em “agir contra as famílias dos jornalistas” visados pelo governo. É um “nível de repressão brutal” que torna “o exercício da profissão extremamente perigoso”, alertou. EFE
lce-emi/vnm
(vídeo)