02/06/2020 – 16:43
Representantes dos agentes comunitários de saúde afirmaram, nesta terça-feira (2), que até agora os profissionais da categoria não receberam equipamentos de proteção individual (EPIs) em quantidade suficiente para fazer os atendimentos nos municípios. Eles participaram de audiência virtual da comissão externa da Câmara que acompanha as ações relativas ao coronavírus.
Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
A comissão se reuniu nesta terça-feira
Os 400 mil agentes comunitários são pagos pelo governo federal para atuarem junto às famílias mais vulneráveis na prevenção de doenças e promoção da saúde. Mas, de acordo com a presidente da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e Endemias, Ilda Correia, faltam orientações e o sentimento entre os agentes é de “abandono”.
“Nós não tivemos orientação, inclusive, sobre a doença em si. Tudo que os agentes de saúde fizeram nos primeiros meses foi do que viram pela grande mídia e pelas redes sociais. Ninguém teve a preocupação de nos capacitar”, reclamou.
Ilda disse que os agentes também querem fazer testes para Covid-19 para saber se têm condições de sair às ruas. Segundo ela, pelo menos 45 agentes morreram até agora no país por contaminação pelo novo coronavírus. Ela também defendeu um adicional de insalubridade de 40%.
A vice-presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde, Cristiane Pantaleão, disse que, em um primeiro momento, algumas ações até pararam de funcionar porque não havia informação nem EPIs.
Também a assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Maria José Evangelista, disse que somente há uma semana foi elaborado um guia pelo conselho porque as primeiras notas do Ministério da Saúde não tinham uma linguagem prática. Para Maria José, é preciso correr atrás do prejuízo porque as outras doenças continuam avançando e muitas pessoas vão começar a ter problemas de saúde mental.
O deputado Jorge Solla (PT-BA) lembrou da primeira reunião da comissão com o Ministério da Saúde em 12 de fevereiro, quando ficou acertado que seriam comprados EPIs e testes e seria feito um planejamento dos leitos.
“Da mesma forma que o Ministério da Saúde não cumpriu nada disso, abdicou de ser a liderança do Sistema Único de Saúde no enfrentamento da pandemia.”
A importância dos agentes comunitários no monitoramento de casos suspeitos de Covid foi ressaltada pela pesquisadora de Harvard Márcia Castro, em outra audiência em maio sobre os cuidados na saída do isolamento. Márcia disse agora que leu o plano de São Paulo para a flexibilização da quarentena e que não há referência aos agentes. E fez um novo alerta:
“Como a gente pode reabrir um shopping se a gente não sabe nem como é o sistema de ventilação do ar-condicionado no shopping? A gente vai abrir o banheiro do shopping? A gente tem estudos mostrando como o contágio é alto no banheiro. Nada disso é discutido. Só se fala em limitar as pessoas que vão entrar nas lojas e usar álcool gel. Desculpa, mas isso não vai ser suficiente para evitar novos casos. ”
O deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), presidente da comissão, fez um desabafo, afirmando que é “inadmissível” que o país esteja desperdiçando suas vantagens no combate à pandemia, por ter um sistema integrado como o SUS e equipes de saúde que atuam de casa em casa.
Larissa Ramos, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, disse que o ministério está trabalhando na consolidação das normas de orientação sobre a Covid e em linhas de financiamento para reforçar as equipes de saúde. Também foi lançado agora em junho um programa para a criação de centros comunitários em bairros vulneráveis e centros de referência para a Covid-19. Os municípios devem começar a aderir agora.
Reportagem – Sílvia Mugnatto
Edição – Ana Chalub