A milhares de quilômetros de casa, um grupo de cerca de 200 brasileiros tenta, há meses, sair do México e voltar ao Brasil. Desde o início da pandemia de coronavírus, as empresas aéreas têm cancelado voos e os brasileiros pedem ajuda do governo federal para serem repatriados.
Dentro desse grupo está Andreza Santana, estudante de Economia da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Ela chegou à Cidade do México em janeiro, para cursar disciplinas na Faculdade de Economia da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), em intercâmbio estudantil.
A previsão era que Andreza voltasse ao Brasil no último domingo (7). A passagem já estava comprada, pela companhia Latam. Há cerca de duas semanas, a viagem foi remarcada para o dia 17 de julho. A empresa informou à Andreza que não descarta a possibilidade de cancelamento do voo, uma vez que a previsão de voltar às operações normais é para agosto.
“Se eu não tiver como voltar, vou ter que ficar aqui, na casa de alguém, ‘de favor’, até conseguir ir embora. Eu também tenho medo de ficar doente. Aqui não tem um sistema público de saúde que eu possa recorrer e ter tratamento 100% gratuito”, relata a estudante.
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Até o momento, o governo brasileiro organizou dois voos humanitários de repatriação, nos dias 24 de abril e 17 de maio. No total, o Ministério das Relações Exteriores informa que 290 brasileiros voltaram ao Brasil nessas viagens. Há denúncias, no entanto, de falta de transparência nos critérios de seleção para os voos humanitários.
Flávia Nicácio foi uma das brasileiras que tentou entrar no segundo voo de repatriação, sem sucesso. Ela conta que o consulado brasileiro organizou uma lista de espera com cerca de 30 pessoas e informou que elas poderiam ir até o aeroporto, sem garantia de embarque. “Pessoas dormiram no aeroporto. Teve gente que passou 24 horas lá, na esperança de embarcar e não conseguiu”, diz.
Flávia chegou ao México em outubro de 2019, em intercâmbio pelo programa de doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), de Campos dos Goytacazes (RJ). Desde então, vive em Texcoco, sustentando-se com bolsa de estudos. A previsão de retorno ao Brasil era para este mês. O contrato de aluguel do apartamento onde mora, o plano de saúde e a bolsa também acabam em junho.
O sentimento,segundo ela, é de abandono e aflição. “Acho que talvez os órgãos governamentais do Brasil não tenham noção da quantidade de brasileiros que está aqui”, destaca.
O que diz o Itamaraty
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que “o Ministério das Relações Exteriores tem estudado, com sentido de urgência, soluções que possibilitem o pronto retorno dos cidadãos que não puderam embarcar nos outros voos ao Brasil”.
No site do Consulado brasileiro no México, há a informação de que não existe previsão de novo voo de repatriação. O site divulgou um voo privado aos brasileiros que quisessem voltar ao Brasil, pelo custo de 850 dólares (pouco mais de R$ 4 mil). Organizado pela Secretaria das Relações Exteriores do México e realizado por uma agência de viagens terceirizada, o voo foi realizado no sábado (6).
Ainda sem previsão de voltar para casa, a estudante Andreza Santana diz não perder a esperança de ter mais um voo de repatriação. “Eu quero voltar o mais rápido. Não porque o Brasil está melhor, mas porque minhas condições financeiras e minha família estão aí. A gente precisa ir embora, sabe? Aqui não é a nossa casa”, lamenta.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Raquel Júnia