Enquanto o mundo enfrenta uma pandemia descontrolada com a perda de tantos entes queridos, Cuba e nós, seus irmãos na solidariedade, estamos sofrendo juntos, mas também festejando. Nesta segunda-feira (8), retorna a Cuba a Brigada Henry Reeve, com 36 médicos, 15 enfermeiros e um especialista em logística cubanos. Eles estiveram na Itália, onde contribuíram no combate ao coronavírus e cumpriram uma missão espetacular.
Eles vêm da Lombardia, região italiana que ficou tristemente conhecida pela tragédia causada pela covid-19. As imagens que a mídia internacional mostrou ao mundo eram de horror, com caminhões das Forças Armadas carregando milhares de corpos para incineração. Algo assustador.
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A Itália pediu ajuda à União Europeia – da qual faz parte – e a resposta foi uma omissão inacreditável. Nenhuma das nações ricas daquela instituição moveu uma palha para socorrer o país. Dessa forma, os ricos europeus nada fizeram, deixando a Itália à sua própria sorte. Os meios de comunicação internacionais nada divulgaram sobre o fato, como se nada estivesse ocorrendo nesta frieza entre as nações.
É nesse contexto que aquela região europeia pede ajuda a Cuba, esse país pobre em recursos materiais e inclementemente bloqueado pelo império estadunidense, inclusive em meio à pandemia. Apesar dessa condição, imediatamente o governo cubano atendeu ao desesperado chamado e enviou a já conhecida Brigada Henry Reeve para o combate ao coronavírus àquela área italiana.
Não sabemos dizer com quanta incerteza e temor esses cubanos saíram de sua pátria para enfrentar uma enfermidade da qual pouco se sabe, um vírus altamente contagioso, em um país que sequer conhecem. Mas eles vão. E lá passam dois meses superando os temores, os diferentes idiomas, os riscos que correm como qualquer ser humano. São heróis. Mas de carne e osso e sem “poderes especiais” como os que o cinema estadunidense mostra. E o que os diferencia dos demais é o amor à humanidade, são os ensinamentos de José Martí, a vida do Comandante em Chefe Fidel Castro e do médico argentino revolucionário Che Guevara que sempre deram os exemplos necessários para forjar esse novo homem.
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Aí estão eles, os novos homens, levando alento, cuidados e tratamentos aos que necessitam. Não vão por caridade, não vão por dinheiro, vão por uma palavra recorrente em Cuba que é a solidariedade.
E quando tudo isso passar, que a pandemia acabar, vamos lembrar de algumas palavras, claro: interferon, cloroquina, máscaras, álcool em gel. Mas o que mais vai sobressair e ninguém vai esquecer é a palavra solidariedade. A que não se compra, a que não se vende e que o povo cubano e seus médicos, enfermeiros e demais têm de sobra.
Hoje voltam à pátria esses heróis de todos nós. Heróis de Cuba, que já legou ao mundo tantos outros.
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Daqui do Brasil, lamentamos imensamente termos “perdido” os médicos do programa Mais Médicos. Atualmente temos mais de 20 milhões (vinte milhões!) de brasileiros e brasileiras sem qualquer atendimento, pessoas que vivem nos rincões mais longínquos, comunidades indígenas, quilombolas que nunca mais tiveram atendimento médico desde a partida daqueles “doutores amigos” de quem sentem falta pelo atendimento e pelo afeto. Triste.
Mas hoje é dia de comemorar e Cuba estará em festa para receber esse contingente da Brigada Henry Reeve que foi alvo de tantos agradecimentos por parte dos italianos, com lindas despedidas, homenagens e mostras de gratidão. Isso é o que conta, afinal.
A mídia internacional, infelizmente, segue em um silêncio ensurdecedor. Nem uma linha sobre o fim dos caminhões militares transportando corpos. Não mostram os atos de bravura verdadeira no epicentro da pandemia. Não mostram a prova de humanidade que Cuba e os cubanos demonstram pelo amor à humanidade. Não mostram o trabalho incessante de dois meses que os cubanos fizeram não só na Itália.
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A Brigada Henry Reeve existe desde 2005, quando foi criada por Fidel para auxiliar os EUA quando do furacão Katrina – ajuda que o então presidente George W. Bush recusou. Após isso, a brigada atuou em áreas de terremotos, furacões, tempestades e outras tragédias no Paquistão, Haiti, Peru, Chile, Guatemala, etc. Esteve na África, no combate ao Ebola; no Haiti, também no combate à cólera. Hoje somente no combate ao coronavírus, atuam mais de 30 Brigadas com cerca de 2.500 profissionais de saúde ao redor do mundo.
Seria muito bom se mais pessoas recebessem mais informações sobre a Brigada Internacional Médica Cubana, sobre Cuba. Por ser um direito de todos e todas ter informações. E para saber que existe outro mundo possível – e necessário. A mídia não permite, uma lástima. Não importa.
Se há no mundo quem mereça o Prêmio Nobel da Paz, esse é o Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve (este é o nome completo da Brigada Henry Reeve) e vamos trabalhar para que isso aconteça.
De qualquer forma, o prêmio maior que receberão hoje ao chegar a Cuba será a homenagem de seus conterrâneos com aplausos, um amor e reconhecimento inesgotáveis. Merecem. Sejam bem-vindos à sua pátria (que é um pouco nossa também) até porque: “Pátria es humanidad”.
*Carmen Diniz é coordenadora do Comitê Internacional Paz Justiça e Dignidade aos Povos – Capítulo Brasil e do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.
Edição: Vivian Fernandes