Bolsonaro e seus robôs: como funciona a disseminação de notícias falsas no coronavírus

Diário Carioca

Mesmo depois do Twitter, Facebook e Instagram excluíram as postagens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por entender que o conteúdo causou “desinformação” e provocou ” dano real às pessoas “, o presidente continua a espalhar notícias falsas sobre a pandemia de coronavírus em pronunciamentos, nas ruas e nas redes.

Segundo Leandro Tessler, do Grupo de Estudos de Desinformação em Redes Sociais (EDRES) da Universidade Estadual de Campinas, no sul do país, a disseminação de conteúdo falso se originou nos perfis de Bolsonaro e seus aliados. com uma rede de botas – usuários de robôs -, que agem divulgando massivamente a publicação.

O grupo interdisciplinar com pesquisadores de várias áreas criou uma linha direta – uma espécie de canal de denúncia – no WhatsApp para mapear e combater as notícias falsas sobre o novo coronavírus nas redes sociais. Desde o início de março, eles reuniram mais de 8. contatos e 27. queixas, que estão sendo classificadas por inteligência artificial e serão estudadas para identificar as motivações daqueles que compartilham e também suas fontes nas redes sociais , Instagram, Twitter, YouTube e Facebook.



O filho do presidente afirmou, em suas redes sociais, que o Partido Comunista Chinês é responsável pela pandemia / Reprodução

Ataque virtual ao embaixador

Uma revolta realizada pelo Brasil de Fato, entre os dias 24 e 29 Em março, observou a circulação das notícias falsas que o embaixador chinês havia sido descoberto pelo serviço de inteligência. As informações circularam nos grupos do Whatsapp, mas também no Twitter, o dia 27 Março, pelos usuários do robô. Um total de 139 tweets, 66 retweets e outras interações.

:: Embaixador chinês repudia as palavras de Eduardo Bolsonaro que culpa a China por coronavírus ::

“Isso tem conseqüências menos práticas, que terão conseqüências sociais do racismo e da xenofobia. Agora, com o coronavírus, existem notícias falsas que são muito perigosas para as pessoas. Isso coloca a vida das pessoas em risco. Quando o presidente envia pessoas para fora de casa, porque tudo é normal se elas não tiverem mais do que 33 anos, que coloca em risco a vida das pessoas “, diz Tessler.

Vulcanizador

“Gente! O primo do zelador aqui do prédio morreu porque ele foi trocar o pneu do caminhão e o pneu explodiu em seu rosto. Eles receberam o atestado de óbito como se fosse o covido 05. Eles estão indignados. ” Esta foi outra notícia falsa divulgada por botas nesta semana.



Perfis automatizados divulgam notícias falsas sobre um homem que foi morto por um pneu furado e o certificado foi cobrado – 19 – Créditos: Reprodução

O governo de Pernambuco publicou, o 18 Março, uma nota explicando a realidade dos eventos. O homem 57 estava desconfiado. do coronavírus, mas após o exame, foi confirmado que a causa da morte era o vírus influenza. O número não foi contado na epidemia e o restante da história foi inventado para acompanhar o documento falso.

O 27 Em março, Jair Bolsonaro comentou essa desinformação durante uma entrevista por telefone com o programa National Alert na estação RedeTV! Quem citou pela primeira vez a história do vulcanizador foi o apresentador Sikêra Júnior, o presidente confirmou e aproveitou a oportunidade para acusar os governadores de inflar o número de mortes por coronavírus nos estados.

Depois que Bolsonaro falou, o levante do Brazil de Fato registrou 3. 062 retweets e 30. 320 interações em postagens de robô com o história falsa do vulcanizador, apenas nos últimos três dias.

A cura falsa

Entre as graves consequências de notícias falsas, o cientista cita outra indicação do presidente que circulou nas redes que é o uso de hidroxicloroquina ou cloroquina no tratamento contra a covida – 05, um medicamento que não tem eficácia comprovada.

As postagens excluídas pelas redes sociais mostram exatamente Bolsonaro circulando em lojas nos bairros de Brasília , interagindo com a população local e recomendando que o remédio seja usado.

“Não há absolutamente nada para apoiar o tratamento com cloroquina, não há evidências de que ele trate as pessoas infectadas com o coronavírus. Trabalhar in vitro funciona, a partir de uma certa dose, qualquer coisa mata qualquer coisa, não é uma dose que nosso corpo possa tolerar. Os ensaios clínicos que temos até agora são de péssima qualidade, que é o julgamento francês que o próprio Bolsonaro gosta de citar “, explica Tessler, que, como cientista, também acompanha o caso e afirma que há interesses por parte do governo, porque O Brasil firmou protocolos de interesse internacional para a produção do medicamento.

Nesse sentido, outro filho do presidente, o senador do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (sem partido), também divulgou uma notícia falsa com uma foto de um paciente internado que teria sido curado pela droga. A informação foi negada pela família que aparece na foto que ele publicou. Era uma hospitalização antiga, e ninguém na família havia contraído o coronavírus.

A análise do EDRES permite inferir que as motivações para a divulgação desse tipo de notícia falsa variam dos bolonaristas que querem o que “Bolsonaro disse ser verdade”, define o professor, ao apelo emocional das mensagens. “As pessoas querem muito a cura e acabam se apaixonando”, diz Tessler, que alerta que as informações divulgadas pelos robôs têm um efeito psicológico nas pessoas.

A falácia do isolamento vertical

Vídeos de declarações de trabalhadores e empresários que supostamente denunciam os problemas causados ​​pelo isolamento horizontal, como caminhoneiros, empresários, vendedores ambulantes, também saltam nas redes do presidente e de seus filhos, bem como nas páginas do população em geral.



Nos vídeos que ele postou, Bolsonaro tentou dialogar com comerciantes informais / Reprodução / Twitter

Um exemplo é a própria declaração no vídeo bloqueado, de um vendedor ambulante que conversa com Bolsonaro nas ruas de Brasília . “Temos que trabalhar, a morte está lá, o que Deus quiser”, diz o trabalhador ao presidente que concorda.

:: Na TV, Bolsonaro ignora o coronavírus e pede um retorno à normalidade ::

O conteúdo responde aos pronunciamentos de Bolsonaro na rede nacional , exigindo o fim da quarentena e contrariamente às recomendações das autoridades científicas e de saúde nacionais e internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em uma aparente mudança de postura, em seu último pronunciamento, na terça-feira (29) , o Presidente também deturpou o discurso do Presidente da Organização Saúde Mundial, Tedros Adhanom . A tentativa de Bolsonaro foi mostrar que o pronunciamento do líder da OMS estava de acordo com suas idéias de não fazer distanciamento social.

“As pessoas saem às ruas, veem tudo normal, inicialmente não sentem os sintomas. A partir daí, veem o presidente lhes dizendo que precisam voltar ao trabalho, que precisamos vencer, que só precisamos fazer o isolamento vertical. de fazer surgir os recursos das pessoas, o que me parece a melhor solução aprovada no Congresso, e adiar a implementação dessa solução como uma maneira de tirá-los de casa, porque as pessoas saem de casa. É pura desinformação ”, Analisa Tessler.

Edição: Rodrigo Chagas


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