A Polícia Civil anunciou que deve começar a funcionar ainda este ano uma delegacia especializada para combater o racismo e outros crimes de intolerância durante audiência pública realizada nesta sexta-feira (20/04) pela Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O objetivo do encontro foi debater o racismo nas instituições policiais e no sistema penitenciário do Estado do Rio.
A presidente da comissão, deputada Martha Rocha (PDT), afirmou que o colegiado se empenhará para facilitar a criação da nova unidade policial. “Nós vamos atuar junto à Polícia Civil na efetivação da criação da delegacia. Neste universo de dificuldades financeiras é importante que façamos boas escolhas”, declarou.
O delegado da Polícia Civil Carlos Oliveira afirmou que articula a criação dessa delegacia há mais de dez anos e destacou a relevância da implementação da unidade: “Essa delegacia está em fase final para ser criada e tratará especificamente dos crimes de racismo e outros delitos de intolerância. Há uma grande demanda reprimida pelo serviço”, apontou.
A audiência foi agendada para discutir a questão do racismo sob o ponto de vista do agente público negro. O deputado Paulo Ramos (PDT), integrante da comissão, considerou a criação da delegacia um avanço para a superação dos problemas relatados durante a reunião. “Buscávamos entender como este servidor percebe o racismo tanto dentro da instituição onde trabalha, quanto na sociedade. Eu acredito que tenha sido um início de debate institucional muito importante. Essa ideia de ter uma delegacia especializada faz parte do esforço também de trazer essas informações para a comissão”, disse o deputado.
A reunião contou com a presença de servidores públicos de diversos setores da Segurança Pública estadual que relataram suas experiências pessoais com relação ao tema. A defensora pública Lívia Cásseres saudou a iniciativa que considerou pioneira. “Nós temos apenas 4% de defensores públicos que se consideram negros. É muito desgastante para os trabalhadores negros nas forças de segurança ter que ficar lutando no debate público para mostrar que existe racismo. É a primeira vez que eu vejo este tema ser debatido de maneira franca num espaço público” analisou.
A defensora relatou casos em que servidoras da área de segurança sofreram preconceito devido à cor da pele. “Posso trazer aqui pelo menos duas experiências de uma major da Polícia Militar que sofreu racismo por parte de um superior hierárquico e também atendemos uma guarda municipal que sofreu discriminação por ter deixado de alisar o cabelo. Duas profissionais negras cujas histórias mostram que o racismo é uma praga difícil de ser detectada, mas ele também é um mecanismo que se mistura com outras formas de opressão, como o sexismo”, avaliou.